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quinta-feira, 31 de maio de 2018

Cadafalso doutrinário

Vladimir Alexei

Belo Horizonte das Minas Gerais,
Corpus Christi, 31 de maio de 2018.

Em um mundo sacudido em suas bases pela intolerância, difícil tem sido conseguir transmitir reflexões que nos auxiliem a sair do diagnóstico das incertezas vividas pelo ser humano. No movimento espírita não tem sido diferente.
Nos valemos da prerrogativa do estudo doutrinário como plataforma para sustentar as renovações que tanto ansiamos, mesmo que não tenhamos plena consciência do que se deve exercer e dos caminhos a trilhar, sem perceber o cadafalso criado.
Muitos se apropriam da erudição de Allan Kardec, como se fosse aquele o único caminho a trilhar por todos. Belíssimos autores dedicaram-se com afinco legando-nos obras de pujante riqueza cultural e intelectual. Sir Willian Crookes, cognominado o “grande cientista do invisível” afirmou que o mundo espiritual não é apenas uma questão de possibilidade. É um fato.
Sustentar o fato da existência espiritual, assim como das influências e manifestações dos espíritos em nossas vidas, permitiu que pudéssemos compreender com mais propriedade, após milênios de efeitos e manifestações dessa interface com o mundo espiritual, que o desenvolvimento emocional não caminha com a mesma velocidade que o intelectual.
O avanço nos estudos estimulou o abismo que existe entre os corações que caminham pela estrada doutrinária. As redes sociais preencheram lacunas deixadas pelas casas espíritas, tanto quanto ao estudo, quanto pela convivência. Todavia, por mais real que seja essa situação, as redes sociais não substituem a casa espírita.
Estudo sistematizado, não é estudo engessado, que não permita o educando extrapolar suas reflexões na transversalidade do conhecimento que a vida exige. O matemático é um filósofo dos números, cuja sensibilidade é construída de maneira lógica, racional, sem perder as conexões com o coração. O filósofo, por sua vez, é a sensibilidade em busca do conhecimento racional, criando ponte entre os saberes.
Existe uma fórmula “mágica” para que dê tudo certo? Claro que não. Existem caminhos – por isso a metodologia é importante –, que nos conduzem por mais tempo nas reflexões doutrinárias, não para nos tornarmos catedráticos e sim para nos tornarmos pessoas melhores. É o adágio que circula nas redes sociais: “o que adianta ter doutorado e não cumprimentar o porteiro?”.
Ainda que não seja consenso, estudar o espiritismo é um exercício de fortalecimento da fé. O conhecimento ilumina o caminho para alcançarmos a fé. Sem fé, nos agredimos de forma espantosa, a ponto de vermos hoje, muitos espíritas deprimidos, inseguros e vítimas fáceis daqueles que ainda são sustentados pelo orgulho.
Tudo está em constante – e nem sempre sentida – transformação. Por que o estudo doutrinário não tem acompanhado? Vemos, estupefatos, estudos circulando na internet, com páginas e páginas para corrigir uma vírgula, como a defender teses que não passam de manifestações do ego!
Recentemente acompanhamos a celeuma em torno da publicação de A Gênese, seus milagres e predições segundo o espiritismo. Antes disso ressuscitaram a esposa de Allan Kardec que sempre figurou como uma primeira dama à parte de tudo que estava acontecendo (o que não é verdade, basta ler O Processo dos Espíritas e outras obras que abordam sobre ela). Com isso livros estão sendo produzidos – de boa qualidade, graças a Deus! –, palestras e encontros gratuitos também acontecem de forma a resgatarmos o “espiritismo primitivo”, aquele dos tempos de Kardec. Sabem qual efeito prático tem, esse tipo de estudo e pesquisa, fora o benefício da pesquisa e do conhecimento para quem desenvolve esses estudos? Não direi nenhum porque serei queimado vivo, mas é mínimo.
Por que? Porque o tempo vem ensinando, por meio da observação direta e do estudo da vasta bibliografia produzida pela pena iluminada de Chico Xavier, que não se desenvolve o ser, sem que o conhecimento auferido seja colocado em prática junto com alguma ação efetiva em benefício do próximo. É uma hipótese? Sim! Pode ser comprovada? Bastam os estudiosos que nos deram a graça de ler até aqui, desenvolverem ou resgatarem tais estudos. A vida do Chico Xavier, em nossa opinião, é um exemplo de que é assim que funciona, mas, está aberto a outras interpretações, principalmente daqueles que ficam discutindo estudos e pontos de vistas nas redes sociais sem colocar a mão na massa.
É preciso coragem para pensar diferente. É preciso coragem para aceitar que se erra. É preciso coragem para não seguir cabeças inteligentes que apenas repetem os mesmos passos do passado: conduzem rebanhos...
Leon Tolstoi, quando encarnado, escreveu um livro chamado “Uma Confissão”. Nessa pequena, porém, profunda obra, ele disse que “a doutrina religiosa que me foi transmitida desde a infância desapareceu dentro de mim da mesma forma como nos outros; a única diferença é que, como comecei cedo a ler e pensar, minha renúncia à doutrina religiosa se tornou consciente também muito cedo.” (pg. 19) Parafraseando Tolstoi, a doutrina espírita que me foi transmitida no início, não mais existe. A partir do momento em que comecei a pensar, a distinguir um do outro, ficou evidente, de forma clara, que o estudo doutrinário só faz sentido se praticado em conjunto com ações de caridade desinteressada.
Vivemos no movimento espírita aquilo que P. Caillé disse: “continuamos a procurar os solucionadores de problemas do planeta Alfa, embora nos encontremos no planeta Beta”. Encontramos soluções para os problemas dos outros e não percebemos o que estamos fazendo com os nossos. Discute-se, diuturnamente quem foi Chico Xavier, se homem ou mulher, Kardec ou não, quantas de suas vidas, mas não se estuda a pujança de sua obra e os efeitos da ausência dessa obra no meio espírita. Publica-se uma obra de Allan Kardec, direto da primeira edição, após mais de cem anos estudando as outras traduções, como se isso fosse revolucionar o movimento espírita para melhor.
Discute-se a respeito de espíritas entrarem para a política, como se fosse a solução para as aflições que vivemos! Manifestações do ego, ainda que seja respaldada por projetos políticos e “doutrinariamente” adequados! Até quando esse movimento espírita continuará assim? Assemelha-se ao movimento político: por muito menos bateram panela. Por muito menos dizem que os “Espíritos Superiores estão com dificuldade de ajudar os encarnados em função da espessa nuvem de ódio” que paira pela Terra, como se não tivéssemos vivido duas grandes guerras mundiais e daí para pior.
“A reforma do conhecimento exige a reforma do pensamento”, já asseverava Edgar Morrin. Enquanto o espírita quantificar a extensão de suas obras pelos critérios materiais de medição, veremos sempre mais do mesmo. Não são os títulos e as conquistas transitórias que evidenciam a riqueza do seu trabalho. Ainda é o bom, velho e atual Evangelho de Jesus, tantas vezes incompreendido, tantas vezes estudado de forma a criar, mais dissensões do que uniões entre seus profitentes.
Ou o movimento espirita se reinventa, junto com as atividades das casas espíritas, ou continuaremos apedrejando Alfa, quando deveríamos construir Beta.





quarta-feira, 30 de maio de 2018

Mensagens de um “tal” “Emmanuel”

Mensagens de um “tal” “Emmanuel”
Carlos Alberto Braga Costa

Carlos Alberto Braga Costa
Belo Horizonte- MG

            Chegou-nos, pelos canais da internet, uma de muitas mensagens apócrifas supostamente de autoria dos Benfeitores que operam nas Esferas Espirituais.
            Em meio ao caos político e econômico que atravessa a nação brasileira, a moda agora revela os “Espíritos Superiores” envolvidos com as querelas humanas, como se não houvesse no Mundo Espiritual atribuições relevantes.
            Política, economia, lava jato, greves, eleições, passaram a ser tema do alto escalão das esferas dos “mortos”. Parafraseando o poeta Humberto de Campos quando ainda encarnado, insuflava no surto de seu escárnio, criticando a obra “Parnaso de Além-Túmulo” pronunciando nas gazetas do Rio de Janeiro:- “os vivos estão em apuros, pois os mortos estão descendo para substituí-los”.
            Pelo menos se fomenta para aqueles a serem substituídos, uma onda de correntes de orações para salvá-los e acalmar os ânimos exaltados. E, ao que parece, o Brasil precisa de muitas preces. Isso nos faz pensar como andam a deriva os outros países que não tem a missão de ser o coração do Mundo. (Sic) 
            Nessa apoteose de mensagens, a maioria tem selo divino, pois são assinadas pelos mais famosos vultos do Movimento Espírita, a saber: Anjo Ismael, Eurípedes Barsanulfo, Bezerra de Menezes, André Luiz, e outros para assuntos espíritas. Tirandentes, José Bonífácio e tantos políticos desencarnados que se mobilizam para cuidar das PECs, Medidas Provisórias, Decretos Leis e outra tantas resoluções advindas dos 3 poderes do Brasil.
            Para não perder o posto de coordenador da falange impoluta, surge um novo Emmanuel. Destaca-se por ser político do astral e salvador da pátria. Para alguns ele já reencarnou para ser, pasmem, presidente. Cabe, no entanto, descobrir quando e por qual partido. Só sabemos que esse de agora, vem aos mortais revelar-se preocupadíssimo com os problemas do “Planalto Central”.
            Como se não bastasse, tem soluções espetaculares. Abre portais miraculosos, revelando novidades que alteram subitamente a vida no território humano. Vamos aguardar o que irá sugerir na próxima eleição, pois também anda incentivando as famosas correntes de oração.  
            Com Chico Xavier tínhamos Emmanuel ensinando e exemplificando nas tarefas do Consolador. Depois da desencarnação do médium mineiro, não sabendo o motivo, temos “Emmanuel” para todos os gostos e necessidades, contradizendo o que ele fez com tanta propriedade.  Pergunta-se: O cargo está vago? Ou a coisa anda preta mesmo?
            Brincadeiras a parte, sabemos que não. Emmanuel é um Espírito com muitas responsabilidades quanto ao progresso pessoal e coletivo e continua atuando proficuamente nas frentes espirituais, junto aos médiuns sérios e fidedignos aos princípios do Espiritismo. A lógica aponta para sua atuação, como antes, voltada para o desenvolvimento no campo moral e no auxílio aos sofredores.  E, atualmente, junto de Chico Xavier que ingressou na admirável falange do bem nos domínios e dimensões do ultra tumba.
            Certa feita, Chico Xavier quebrou o protoco e desferiu um golpe certeiro contra a suposta exclusividade entre ele e o Espírito Emmanuel.
            Dialogando com Júlio César G. Ribeiro, após psicografar um texto do benfeitor Emmanuel, ele assim pronunciou: “É Emmanuel puro! Precisamos saber que Emmanuel não é de Chico e nem de ninguém.” Em seguida Julinho, conforme carinhosamente era tratado por Chico, questionou: - “Chico! Será que Emmanuel só pode psicografar por você? E quando você se for?... Os espíritos guardam preferências por médiuns? E o grande médium acrescentou com humildade: “Dei-lhe explicações bastante convincentes acerca das afinidades espirituais e dos compromissos assumidos em nome das responsabilidades mediúnicas, lembrando-lhe que Emmanuel é de todos e para todos.... Esta mensagem veio a calhar, meu filho...”[1]
            Com esse depoimento, Chico Xavier demonstra que todos são livres para operar e se relacionar. A beleza do trabalho do Cristo enseja dinamizar as relações, ampliando experiências e favorecendo a interação entre os habitantes das diversas dimensões nas “Moradas do Pai”.
            Conclui-se que todo exclusivismo representa polarização fanática e absurdo enquistamento personalístico.
            Voltando ao venerando Emmanuel e as supostas “mensagens”, sabe-se que ficou notoriamente conhecido como Espírito coordenador de vasta literatura de conteúdo Espírita.
            Polígrafo admirável, exegeta de alta qualidade, educador por excelência, escritor nobre, romancista de alta categoria, hábil na síntese de seus textos, apresentou um estilo inconfundível. Ético no trato dos temas polêmicos, fiel aos princípios Codificados por Allan Kardec, Emmanuel se revelou notável evangelista.
            Bem diferente desse “tal” “Emmanuel”, que se manifesta místico, ufanista, político e nacionalista.
            Não nos prenderemos no tema “ocupação dos Espíritos Superiores”. No entanto, o dever como aprendizes da Boa Nova à Luz do Espiritismo e admiradores dos veros Educadores do além-túmulo, seria usar de prudência antes de sair espalhando mensagens que chegam pelos mais diversos caminhos virtuais sem antes analisar fonte, autor, estilo, conteúdo e circunstância.
            De confusão, basta o que está fora das hostes espíritas! Todo cuidado é pouco com as mensagens assinadas por espíritos ilustres.
            A lógica patenteia a observação séria, honesta e criteriosa antes de espalhar vírus pela rede extraordinária de intercâmbio virtual.
            Se continuarmos agindo impensadamente com o desculpismo de que isso “não faz mal algum”, em breve constataremos que “bem também não faz”. E por essa desculpa, em nome do Espiritismo, poderemos estar prestando um desserviço à causa do Consolador.
            Sem contar que estaremos apoiando e/ou engrossando as fileiras dos tais pretensos “emmanueis”...
            Quanto ao Brasil, sem dúvida que devemos nos unir em prece, e trabalhar de sol a sol com confiança que o futuro é construído a partir do agora.
            A cada um segundo suas obras....
            Para encerrar, vamos estudar.
            Convido o web amigo a meditar com o Espírito Emmanuel numa reflexão de conjuntura a respeito do cenário da política nacionalista dos idos de 1935, conforme pode ser acessado no link https://chico-xavier.com/2018/05/28/nacionalismo-fraternidade-espirito-emmanuel-f-c-xavier/  cremos que as ponderações do aludido texto poderia contribuir com a análise do cenário atual, obviamente em foro de imortalidade.  
Ave, Cristo!

Referência bibliográfica:
[1]       MATTOS. Divaldinho. De Amigos para Chico Xavier, SP: Ed. DIDIER, 1997

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Eventos espíritas "imponentes” para quê ? (Jorge Hessen)


Eventos espíritas "imponentes” para quê ? (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com


Allan Kardec dizia que jamais devemos dar satisfação aos amantes de escândalos. Entretanto, há polêmica e polêmica. Há uma ante a qual jamais recuaremos - é a discussão séria dos princípios que professamos. É isto o que chamamos polêmica útil, pois o será sempre que ocorrer entre gente séria, que se respeita bastante para não perder as conveniências. Podemos pensar de modo diverso sem diminuirmos a estima recíproca. [1]
Chico Xavier advertiu que os dirigentes espíritas, sobretudo os comprometidos com órgãos “unificadores”, compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar. Devemos primar pela simplicidade doutrinária e evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações, evidências individuais, privilégios injustificáveis, imunidades, prioridades, industrialização dos eventos doutrinários.[2]
Avisou ainda o médium de Uberaba que os eventos devem ser realizados, gratuitamente, para que todos, sem exceção, tenham acesso a eles. Os Congressos, Encontros, Simpósios, etc., precisam ser estruturados com vistas a uma programação aberta a todos e de interesse do Espiritismo, e não para servirem de ribalta aos intelectuais com titulação acadêmica, como um "passaporte" para traduzirem "melhor" os conceitos kardecianos. Não há como “compreender o Espiritismo sem Jesus e sem Kardec para todos, com todos e ao alcance de todos, a fim de que o projeto da Terceira Revelação alcance os fins a que se propõe.” [3]
A presença da glamourização nas atividades doutrinárias (...) “vai expondo-nos a dogmatização dos conceitos espíritas na forma do Espiritismo para pobres, para ricos, para intelectuais, para incultos.”[4]
Infelizmente, alguns se perdem nos labirintos das promoções de shows de elitismo nos caríssimos “Congressos” espíritas. Patrocinam eventos para espíritas endinheirados, e, sem qualquer constrangimentos e/ou inquietação espiritual, sem quaisquer escrúpulos, cobram altas taxas dos interessados, momento em que a ideia tão almejada de “unificação” se perde no tempo.
A pergunta que não quer calar é: será que o Espiritismo necessita desses eventos "grandiosos"?
Cobrar taxa em eventos espíritas é incorrer nos mesmíssimos e seculares erros da Igreja, que, ainda, hoje, cobra todo tipo de serviço que presta à sociedade. É a elitização da cultura doutrinária. Hoje vemos portais de espíritas famosos cobrando mensalidades dos assinantes.
É lentamente que os vícios penetram nos organismos individuais e coletivos da sociedade. A cobrança desta e daquela natureza, repetindo velhos erros das religiões ortodoxas do passado, caracteriza-se ambição injustificável, induzindo-nos a erros que se podem agravar e de difícil erradicação futura.
Temos responsabilidade com a Casa Espírita, deveres para com ela, para com o próximo e, entre esses deveres, o da divulgação ressalta como uma das mais belas expressões da caridade que podemos fazer ao Espiritismo, conforme conceitua Emmanuel, através da mediunidade abençoada de Chico Xavier.
Nos eventos essencialmente espíritas, deveremos nós, os militantes na doutrina, assumir as responsabilidades, evitando criar constrangimentos naqueles que, de uma ou de outra maneira, necessitem de beneficiar-se para, em assimilando a doutrina, libertarem-se do jogo das paixões, encontrando a verdade. O dar de graça, conforme de graça nos chega, é determinação evangélica que não pode ser esquecida, e qualquer tentativa de elitização da cultura doutrinária, a detrimento da generalização do ensino a todas as criaturas, é um desvio intolerável em nosso comportamento espírita.” [5]
A Doutrina Espírita é o convite à liberdade de pensamento, tem movimento próprio, por isso, urge deixar fluir naturalmente, seguindo-lhe a direção que repousa, invariavelmente, nas mãos do Cristo. Chico Xavier já advertia, em 1977, que "É preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (...) o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemos junto com as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos (...). Se não nos precavermos, daqui a pouco, estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais (...).”[6]
Não vemos reais necessidades de promoção dos inócuos Congressos, Simpósios, Seminários. Mas, se esses encontros ocorressem debates  e  trocas de experiências, ótimo! Lembrando que a Doutrina Espírita não pode se trancar nas salas de convenções luxuosas, não se enclausurar nos anfiteatros acadêmicos e nem se escravizar a grupos de poder investidos de “autoridade” doutrinária.
À semelhança do Cristianismo, dos tempos apostólicos, o Espiritismo é e deve sempre ser o reflexo dos Centros Espíritas simples, localizados nos morros, nas favelas, nos subúrbios, nas periferias.
Graças a Deus (!), há muitos Centros Espíritas bem dirigidos em vários municípios do País. Por causa desses Núcleos Espíritas e médiuns humildes, o Espiritismo haverá de se manter simples e coerente, no Brasil e, quiçá, no Mundo, conforme os Benfeitores do Senhor o entregaram a Allan Kardec. Assim, esperamos!

Referências bibliográficas:

[1]       KARDEC, Allan. Revista Espírita, nov. 1858, DF: Edicel 2002
[2]       Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979
[3]       Idem
[4]       Editorial da Revista O Espírita, ano 11 número 57-jan/mar/90.
[5]       Revista O Espírita/DF, ano 1992- Página “Tribuna Espírita” –Divaldo Responde- pag. 16
[6]       Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Divulgando O Espiritismo, ou o interesse pessoal?

Divulgando O Espiritismo, ou o interesse pessoal?

Carlos Alberto Braga Costa

Carlos Alberto Braga Costa
Belo Horizonte-MG


Diante do progresso tecnológico e da velocidade com que se propagam as informações, torna-se empolgante ver o crescimento da divulgação do Espiritismo, atingindo índices inimagináveis.
Um dos exemplos bem sucedidos é o trabalho realizado pela equipe da RAE – “Rede Amigo Espírita”. São milhões de acessos nas diversas plataformas de divulgação, centenas de milhares de seguidores que encontram conteúdo sério e qualificado para atender, gratuitamente, às mais variadas demandas. Chamamos atenção para um fato marcante. O conteúdo de vídeos, artigos e mensagens são produzidos pela equipe da RAE, no entanto, o percentual maior é preparado pelos trabalhadores do Espiritismo que militam em diversas partes do planeta.
Trabalho feito pelo povo, portanto, para o povo, conforme apregoa Jesus em Seu Evangelho. “Voltarei para vós e permanecerei para sempre.” [1]
Exaltamos o caráter desinteressado do seu idealizador e coordenador, bem como da equipe que trabalha em satisfatória harmonia e eficiência.  Com simplicidade e abertura democrática, assim caminha a “Rede Amigo Espírita” na direção do que se propôs, bem antes dos integrantes reencarnarem.
A qualidade e eficácia, rapidez e objetividade da divulgação foi prenunciada por nosso Mestre Jesus, na Profecia das profecias:
"O que digo a vocês na escuridão, repitam à luz do dia, e o que vocês escutam em segredo, proclamem sobre os telhados". [2]
Sem a pretensão de aprofundar na análise espiritual, podemos direcionar o tema para a divulgação do Espiritismo através de rádio, TV e satélites, transitando das antigas antenas às inovadoras parabólicas, passando pelos transmissores de alta tecnologia e culminando, com a internet, nas bibliotecas virtuais.
Por certo, daqui a alguns anos, o conceito vai mudar. No entanto, é inegável que os tempos prenunciados pelo Divino Amigo chegaram disponibilizando ferramentas fantásticas para compartilhar conteúdos que tocam os mais incrédulos e incidem nos mais renitentes ao progresso.
Allan Kardec, O Codificador do Espiritismo, o Precursor das Felicidades Celestiais, na visão do Espírito Erasto, ansiava por ver o Espiritismo vencendo as barreiras provincianas e temporais para combater o materialismo, impulsionado pelo progresso da imprensa.
Vejamos o que afirmara o Mestre de Lyon:  
"O materialismo é um dos vícios da sociedade atual, porque engendra o egoísmo. O que há, com efeito, fora do eu, para quem tudo liga à matéria e à vida presente? Intimamente vinculada às ideias religiosas, esclarecendo-nos sobre nossa natureza, a Doutrina Espírita mostra-nos a felicidade na prática das virtudes evangélicas; lembra ao homem os seus deveres para com Deus, a sociedade, e para consigo mesmo. Colaborar na sua propagação é desferir um golpe mortal na chaga do cepticismo que nos invade como um mal contagioso; honra, pois, aos que empregam nessa obra os bens com que Deus os favoreceu na Terra!" [3]
Sobre o poder da divulgação, utilizando as ferramentas da comunicação, assim pensava o Codificador:
"Dizendo que o Espiritismo propagou-se sem o apoio da imprensa, queríamos nos referir à imprensa geral, que se dirige a todos, àquela cuja voz impressiona diariamente milhões de ouvidos, que penetra nos mais obscuros recantos; àquela que permite ao anacoreta, na solidão do deserto, estar tão perfeitamente a par do que se passa no mundo quanto os habitantes das cidades; enfim, da que semeia ideias a mancheias. Que jornal espírita pode vangloriar-se  de fazer ressoar os ecos do mundo? Fala às pessoas que têm convicção; não atrai a atenção dos indiferentes. Falamos, pois, a verdade, quando dizemos que o Espiritismo foi entregue às próprias forças; se, por si mesmo, já deu tão grandes passos, que será quando dispuser da poderosa alavanca da grande publicidade! Enquanto aguarda esse momento, vai plantando balizas por toda parte; seus ramos acharão pontos de apoio em todos os lugares e, finalmente, em toda parte encontrará vozes cuja autoridade imporá silêncio aos detratores. [4]
Vivemos esse tempo, assistindo a Humanidade dar passos decisivos rumo a uma Nova Era, na qual veremos também a Doutrina Espírita alcançar mentes e corações através de uma alavanca poderosa de publicidade.
Lidamos nesse mister da divulgação do Espiritismo há 30 anos, em diversos departamentos do Movimento Espírita, o que nos motiva a rascunhar esta despretensiosa reflexão, diante do espetáculo da evolução.
Erros, acertos, sonhos, realizações, alegrias, decepções, coerências, deturpações, facilidades, dificuldades; o aprendizado marca o livro da vida de todos que encantados somos pelo Espiritismo. Saímos da zona de conforto para dividir ideais e luzes. Nessa caminhada, o andarilho se inspira na análise crítica construtiva.
No momento atual, marcado pela alucinação psicológica, encontramos no Movimento Espírita algumas escolhas complexas e seus frutos monstruosos. Resultado de ações isoladas, que acabam por fomentar desvios e perversões, em sintonia com interesses das trevas que visam impedir e deturpar a Obra do Consolador.
Filósofos e historiadores analisam os fatos para não repetir os mesmos erros, mas, na prática, verifica-se que a repetição dos equívocos faz parte da evolução, que ocorre por desatenção ou por imaturidade psicológica e moral. Eis a singela explicação das incoerências que cometemos dentro do Movimento Espírita.
Em se tratando de divulgação, relembramos uma carta de Francisco Cândido Xavier, publicada no livro “Testemunho de Chico Xavier”, editado pela FEB, na qual o médium afirma que Emmanuel adverte “que a tarefa não é apenas de divulgação, mas de construção”. [5]
A palavra construção sugere muitas coisas, dentre elas, projeto, fase de elaboração e realização, etapas e metas a serem atingidas. Finalmente, PLANEJAMENTO. 
Portanto, para divulgar precisamos muito mais do que, em tese, "conhecer" o Espiritismo, ter equipamento, internet, pessoas com boa vontade. Devemos analisar o que divulgar, o objetivo a ser alcançado e como fazê-lo e, acima de tudo, ter comprometimento com a Doutrina Espírita.
Sem dúvida, é imperioso ter preparo técnico e algum investimento. No entanto, o que deve preponderar é a essência moral, tanto na forma como na essência em se tratando da divulgação.
Nesse mister, a lógica aponta para a necessidade de discutirmos a importância da comunicação espírita, em tempos de muitas mudanças, para não nos perdermos com resultados transitórios e materiais das empreitas.
Intencionamos enfatizar o desinteresse dos trabalhadores e nos comprometer com a autoridade que o trabalho implica. Precisamos estar abalizados pelos Benfeitores Espirituais, e para tal, a conduta do médium/trabalhador é importante e imperiosamente intransferível.
Allan Kardec, em diversos textos contidos nos livros fundamentais e na Revista Espírita, enaltece o valor do desinteresse. Vejamos uma mensagem publicada na Revista Espírita 1860, assinada pelo Espírito de Verdade, na qual encontramos uma séria advertência para os responsáveis na divulgação do Espiritismo:
(...) Fostes escolhidos para serdes o espelho que deve receber e refletir a luz divina, que deve iluminar a Terra, até então mergulhada nas trevas da ignorância e da mentira. Mas se não estiverdes animados pelo amor do próximo e por um desinteresse sem limites; se o desejo de conhecer e propagar a verdade, cujas vias deveis abrir à posteridade, não for o único móvel a guiar os vossos trabalhos; se o mais leve pensamento íntimo de orgulho, egoísmo e interesse material achar lugar em vossos corações, não nos serviremos de vós senão como o artífice, que provisoriamente emprega uma ferramenta defeituosa; viremos a vós até que tenhamos encontrado ou provocado um centro mais rico do que vós em virtudes, mais simpático à falange de Espíritos que Deus enviou para revelar a verdade aos homens de boa vontade. Pensai nisto seriamente; descei aos vossos corações, sondai-lhes os mais íntimos refolhos e expulsai com energia as más paixões que nos afastam. A não ser assim retirai-vos, antes de comprometerdes os trabalhos de vossos irmãos pela vossa presença, ou a dos Espíritos que traríeis convosco.
   O Espírito de Verdade" [6]
Estudando a biografia de Allan Kardec, constata-se que ele seguiu essa norma. Dedicou DESINTERESSADAMENTE ao trabalho e jamais auferiu qualquer moeda ou vantagem pelo seu encargo MISSIONÁRIO.  
Por isso, a erva daninha do "interesse pessoal" deve ser vigiada com muita atenção, pois cresce sutil e irreverente, trazendo furúnculos que deterioram inapelavelmente a essência doutrinária a ser veiculada.
Encontramos na Internet absurdas cobranças pecuniárias bem maquinadas para acesso a palestras, vendas de conteúdo “doutrinário” duvidoso, portais que clamam pela presença de neófitos, que assustam até os materialistas com pagamentos de mensalidades, contrapondo o ensino de “dar de graça o que de graça...” Tudo isso para alimentar a indústria disfarçada de religião, alimentando pseudo ídolos que, sentados na cadeira de supostos missionários, iludem tanto quanto são embriagados com o licor de uma fingida superioridade moral, embora erigida e autorizada por indigentes fãs-clubes, se comparados aos tempos da beatlemania. 
Em cada época seus modismos. Sempre efêmeros, na verdade.
Vejamos as “pílulas” em áudio e vídeo que invadem as redes sociais em nome da Doutrina Espírita, não atendendo nem às propostas ditas “espiritualistas”. Encantam os apressados, sem nada ensinar. Recortes do superficial. Agem sutilmente para aumentar a galeria dos famosos plagiadores, que vez por outra até citam de onde buscaram. No entanto, na maioria das vezes, usando do carisma, que poderia fazer luz, preferem “revelar” a descoberta da roda. As pílulas psicotrópicas entoam o canto da sereia, para que o crente, apaixonado, depois de fisgado se torne adepto colaborador de uma seita falaciosa, que é engrinaldada pelo dístico de Espiritismo.
Na atualidade, às voltas com descobertas valiosas feitas por pesquisadores comprometidos com a CAUSA, devemos aprender com a história do Movimento Espírita que, desde a partida de Allan Kardec, viu surgir incautos que empreenderam sofisticada peregrinação na senda duvidosa.  Chegaram trazendo cizânia e desvio, tanto pelo vil comércio como pela indústria das doações, arrecadações de fontes complicadas em nome dos privilégios para "chefes” e “sacerdotes", inserção de polêmicas e assuntos que contradizem os fundamentos doutrinários, e outros temas que entediam até o mais paciente purista.  
E o que pensar da propalada divulgação através de seminários, congressos, workshops? Temos material para escrever compêndios sobre o tema. Há belos eventos, regados à simplicidade e de valor doutrinário considerável. No entanto, na grande maioria dos conclaves, o que se constata é o exclusivismo, o elitismo e a pirotecnia emocional. Quais os temas doutrinários que são discutidos, ou ações para qualificar o Movimento Espírita? Missa de corpo presente, tendo os mesmos sacerdotes conduzindo apresentações pessoais e o povo se revezando para dizer amém. 
Há ainda uma novidade que nos remete aos comícios políticos: frases de efeito, aplausos frenéticos. Belas festas regadas ao frisson dos corredores de Versalhes. Espero que alguém nos mostre algo diferente do que o buraco negro do ufanismo.
Para terminar, relembro do Congresso Espírita em Brasília, em abril de 2010, na comemoração do centenário de nascimento do Venerando médium Francisco Cândido Xavier. Pasmem! Vendas de medalhas de ouro com a face do santo Chico Xavier, com os preços variando entre 500,00 até 15.000,00. God Save the Queen! Deus salve a Rainha!
Ufa! Ainda bem que já se passaram 8 anos, quase esquecemos. Espero que não façam o mesmo com o nosso amigo Divaldo Franco depois de desencarnar. Temos convicção de que o tribuno baiano não ficará nada satisfeito com a comercialização da sua imagem de santo de qualquer causa impossível. 
Então, questionamos: Tudo isso tem alguma coisa a ver com os princípios do Espiritismo dos tempos de Allan Kardec? Seria esse tipo de divulgação que vislumbrava o nosso Mestre de Lyon, 150 anos após? Ou em nome da modernidade estamos nos afastando e disputando o campeonato do interesse pessoal?
A História do Espiritismo, no Brasil e em outras plagas, é farta de expoentes que foram leais, ao Codificador e à Doutrina Espírita. Então nos perguntamos: A despersonalização, o trabalho em equipe está perdendo a batalha cruel para o individualismo que se incendeia ao calor das vaidades portentosas?
Recordo do querido e saudoso Arnaldo Rocha, amigo de Chico Xavier, com a sua frase predileta: “A ilusão campeia em nosso meio, e o Sr. Allan Kardec continua um ilustre desconhecido”.
Como espíritas, devemos lutar contra todos os obstáculos que prejudicam a boa e nobre divulgação da Doutrina Espírita. Sem dúvida que essa luta começa em nós mesmos que, por consequência, redundará em exemplos na tarefa em comunidade espírita. Nada obstante, essa batalha só poderá ser travada se for aberto o debate, pois ninguém tem a verdade absoluta.  
O momento é grave, e o chamamento é impostergável. Devemos bradar fraternalmente, conclamando a humildade do reconhecimento.
Não temos dúvida que nenhum espírita consciente dos seus deveres quer escorregar ou ver um desastre no salão da vida. Por isso, chega o tempo de recolher os cacos da taça da ilusão que se espatifa toda vez que perdemos o foco dos objetivos traçados. Quanto aos detritos da vaidade devemos recolhê-los para evitar cortes que exijam regeneração dolorosa.
Portanto, o momento é para resignificar!  
Enfim, com Jesus e Allan Kardec, na divulgação, o roteiro se torna claro: vigilância e prudência; amor e perseverança; alegria e humildade; consolo e esperança; simplicidade e firmeza; fé e esperança; caridade e sintonia com os Benfeitores; desinteresse e honestidade para com a Doutrina Espírita.
Culminamos estas reflexões sob a inspiração das palavras do Espírito Emmanuel, que nos conclama a dignificar a Doutrina Espírita para que a Doutrina dos Mundos possa nos abençoar e libertar para a Glória do Infinito:
"Porque a Doutrina Espírita é em si a liberalidade e o entendimento, há quem julgue seja ela obrigada a misturar-se com todas as aventuras marginais e com todos os exotismos, sob pena de fugir aos impositivos da fraternidade que veicula. Dignifica, assim, a Doutrina que te consola e liberta, vigiando-lhe a pureza e a simplicidade, para que não colabores, sem perceber, nos vícios da ignorância e nos crimes do pensamento. "Espírita" deve ser o teu caráter, ainda mesmo te sintas em reajuste, depois da queda. "Espírita" deve ser a tua conduta, ainda mesmo que estejas em duras experiências. "Espírita" deve ser o nome de teu nome, ainda mesmo respires em aflitivos combates contigo mesmo. "Espírita" deve ser o claro adjetivo de tua instituição, ainda mesmo que, por isso, te faltem as passageiras subvenções e honrarias terrestres. Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do Cristo. E a Doutrina do Cristo é a doutrina do aperfeiçoamento moral em todos os mundos. Guarda-a, pois, na existência, como sendo a tua responsabilidade mais alta, porque dia virá em que serás naturalmente convidado a prestar-lhe contas".[7]
Ave, Cristo!

Referências bibliográficas:

[1]João 14:16
[2]Mateus 10:27
[3]KARDEC, Allan. Revista Espírita, janeiro de 1858, RJ: Ed. FEB, 2004
[4]KARDEC, Allan. Revista Espírita, janeiro de 1858, RJ: Ed. FEB, 2004
[5]SCHUBERT, Suely Caldas. Testemunhos de Chico Xavier, RJ: Ed  FEB, 1986
[6]KARDEC, Allan. Revista Espírita, janeiro de 1860, RJ: Ed. FEB, 2004
[7]Xavier, Francisco Cândido. Religião dos espíritos, ditado pelo Espírito Emmanuel, 22ª. edição, RJ: Ed FEB, 2012

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Overdose de carpe diem e os fenômenos da neuroplasticidade

Overdose de carpe diem e os fenômenos da neuroplasticidade

Jane Maiolo


Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro. (Romanos 8 : 38,39)¹
A sociedade atual experimenta uma instabilidade generalizada em face de um panorama de incertezas que se projeta no horizonte. Aqueles que concebem apenas a unicidade da experiência física deparam-se com a necessidade de prosseguir vivendo sem se afligirem com os obstáculos da caminhada, repensando meios de conquistarem a felicidade fugitiva.
As pessoas, cientes que a vida física é uma experiência do espírito imortal, devem buscar as lições norteadoras do bem, cônscios da tutela do Cristo,  a fim de buscarem a renovação dos valores essenciais nas vastas experiências nas quais todos estamos incursos. Vivemos tempos céleres, rápidos, tempestuosos. Tempos já vividos dantes, histórias que se repetem, lições abortadas e novos recomeços.
A cultura do “carpe diem” , muito difundida e tão pouco refletida , nos estimula as mais intensas emoções da matéria. Vivemos um período alucinante por sensações imediatas, onde os pensamentos desorganizam, os sentimentos se confundem e as emoções extrapolam. A rigor, “carpe diem” significa uma experiência psicoemocional imediatista e sem preocupações com o amanhã. É desfrutar a vida e os prazeres do momento em que se “vive”. Esta expressão tem o objetivo de lembrar que a vida é breve e efêmera e por isso, cada instante deve ser “vivido” apoteoticamente, por conseguinte, esse conceito é largamente aceito pelo materialista ou sensualista, que carece entorpecer  os sentidos a fim de suportar os açoites das expiações e provações e as lágrimas desconfortantes.
Entretanto, somos espiritualistas e paradoxalmente acreditamos  que devemos aproveitar ao máximo o “aqui e agora”  a fim de que o nosso amanhã seja um tanto mais proveitoso rumo ao nosso aperfeiçoamento moral.  Lamentavelmente a sociedade humana, ainda descompromissada com os valores do espírito imortal, promove essa cultura que arrasta as criaturas primárias para as experiências não aconselháveis. Haja vista a infinidade de festa open bar oferecidas aos jovens, a puerilidade dos relacionamentos e a imaturidade que encontramos nos fúnebres cenários da sociedade contemporânea.
Uma humanidade acriançada que ambiciona tão-somente o sedutor prazer da vida, deixando o dever para mais além do fugitivo imaginário. Estamos cada vez mais envoltos num clima de egocentrismo , isolamento e retraimento social, não obstante contíguo à multidão. Alguns experimentam a obscuridade moral a ponto de descobrir nos relacionamentos virtuais a válvula de escape para aliviar o turbilhão das suas carências e desditas afetivas.
Entretanto, o alerta para essas realidades é a sensação subjetiva de estar isolado e não ter para quem se expandir, falar, prantear, se regozijar, ou buscar dividir as emoções. São duas faces de uma mesma moeda. Em alguns períodos vivemos intensamente as experiências e em outros nos abatemos completamente no isolamento.
            O “carpe diem” descomedido pode até mesmo nos dar a impressão de estarmos vivendo intensamente o momento, porém , importa refletir quais são os valores que temos granjeado nessa competição alucinada pela satisfação instantânea.
            O apóstolo da gentilidade diria: “Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo.Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor.” (1)
Considerando que fomos criados por uma Inteligência Suprema é importante que passamos nos sentir parte da divindade. Conectando-nos a Deus. O pensamento ilusório de que somos autossuficientes tem gerado uma série de conflitos emocionais,  promovendo um sentimento de incompetência, fracasso existêncial e incompletude. Em verdade são sentimentos conectados a apreciações que denunciam a incondicional ausência de valores morais que nos permita maior aproximação de Deus.
A aflição de viver e o eterno recomeço para a busca da vida venturosa são segmentos do processo de construção do ser na forja do tempo. Após milênios de experiências malogradas e  enriquecedoras desponta para todos  a capacidade de desenvolver as perenes potências espirituais.
Entendemos que a neuroplasticidade ou plasticidade neural,  definida como a capacidade do sistema nervoso modificar sua estrutura e função em decorrência dos padrões de experiência, e a mesma, pode ser concebida e avaliada a partir de uma perspectiva estrutural , na configuração sináptica (2) ou funcional , na modificação do comportamento.
Sob o comando do espírito consciente de suas necessidades evolutivas, através do impulso da vontade e determinação constante,  ocorre a modificação estrutural física e perispiritual. A neuroplasticidade nasce de uma necessidade da mente humana em buscar saídas assertivas. Somos seres cognitivos e não existem limites para nossas criações. A legitimidade das nossas buscas obrigará nossas estruturas fisiopsíquicas a encontrar caminhos que darão novo significado à vida.
Nada no mundo nos afastará do amor de Deus, nem a ilusão, nem solidão, nem a penumbra das emoções e nem o “carpe diem” exagerado. Tenhamos a certeza que o Amor do Criador é patrimônio que também nos pertence, por direito inalienável. Se preciso for utilizaremos de todos os recursos divinos para nos moldar a essa excelsa herança.


Referência bibliográfica:

1-        Romanos 8:38-39
2-        Algo que cria um novo caminho ou alternativa em sua vida ou de outrem, bom ou ruim. Geralmente precisa de tratamento psicológico ou quimico para ser alterado ou ainda mudança de atitude séria por parte de quem o enfrenta.

(*)Jane Maiolo – É professora de Ensino Fundamental, formada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia. Colaboradora da Sociedade Espírita Allan Kardec de Jales. Pesquisadora do Evangelho de Jesus. Colaboradora da Agenda Brasil Espírita- Jornal O Rebate /Macaé /RJ – Jornal Folha da Região de Araçatuba/SP –Blog do Bruno Tavares –Recife/PE - colaboradora do site www.kardecriopreto.com.br- Revista Verdade e Luz de Portugal, Revista Tribuna Espírita de João Pessoa,  Apresentadora do Programa Sementes do Evangelho da Rede Amigo Espírita. Janemaiolo@bol.com.br -

domingo, 13 de maio de 2018

Análise do Livro Brasil coração do mundo pátria do Evangelho - E-book

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ENTREVISTA COM CESAR PERRI..TV MUNDO MAIOR

SOBRE O LIVRO " UNIÃO DOS ESPIRITA , PARA ONDE VAMOS?"
CLIQUE NO LINK

sábado, 12 de maio de 2018

Lançado União dos Espíritas. Para onde vamos?

Lançado 
União dos Espíritas. Para onde vamos?
Júlia Nezu de Oliveira e Antonio Cesar Perri de Carvalho


A Editora EME (Capivari, SP) informou no dia 18 de abril o lançamento do livro União dos Espíritas. Para onde vamos?, de autoria de Antonio Cesar Perri de Carvalho. O autor foi presidente da FEB, USE-SP, e, membro da Comissão Executiva do CEI. Reúne experiência de 54 anos de ações no movimento espírita. Contém 144 páginas.
Informa a Editora EME:
"O tema “união dos espíritas” é de fundamental importância para o bom desenvolvimento e o futuro do movimento espírita. Os acordos de união devem ser avaliados e analisados em função do histórico e de cenários do movimento espírita atual, incluindo-se um estudo sobre o “Pacto Áureo” e dos seus desdobramentos, principalmente do Conselho Federativo Nacional da FEB. As reflexões e as sugestões contemplam a trajetória dos primeiros tempos do cristianismo realizando-se algumas analogias com o movimento espírita. O presente livro se fundamenta em obras do codificador Allan Kardec e textos sobre união psicografados por Chico Xavier. O autor faz apreciações com base em sua vivência de mais de meio século de atuação no movimento espírita e evoca a afirmação de Kardec de que “se a iniciativa pertence aos espíritos, a elaboração é fruto do trabalho do homem”. Há algumas dúvidas e até eventuais desvios de caminhos que podem ser equacionados? O movimento requer reflexões continuadas. Afinal de contas são sempre válidas algumas indagações: o que pretendemos? para onde vamos?"
Informações: 
https://editoraeme.com.br/estudo/514-uniao-dos-espiritas-para-onde-vamos.html
Fone: (19) 3491-7000

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Saber Viver. Amor e Perdão

Saber Viver. Amor e Perdão
Luiz Carlos Formiga

 
Qual o sentimento mais importante para uma reencarnação na Terra, nos dias de hoje, época de transição, onde o Bem e o Mal coexistem?
Um sentimento necessário para ampliar benefícios e mitigar malefícios?
Certamente é o Amor. Ele nos permite adquirir a compreensão perfeita dos desígnios do Cristo. É preciso amar para viver plenamente.
 Viver é trabalhar. Pensando nos benefícios, pode ser também interpretado também como tarefa de retirar as pedras e espinhos na jornada, na vida.
Para que esses verbos?
Para evoluir e alcançar elevada expressão de esforço com Jesus..
Viver em plenitude é também saber esperar com paciência, sonhando com a própria evolução. Aprender a subir degraus sem pressa, consciente de que é ainda calouro na universidade da sublimação.
Sonhar, com o próprio progresso, não é enlouquecer nem esperar que a vida seja feita de ilusão. Esperar é tomar providência contra o desânimo destruidor.
O Amor Total sabe perdoar os espinhos encontrados na própria vida conjugal e nas outras relações interpessoais. Mas, também é prevenir-se contra a morte na solidão.
Só o Amor pode compreender totalmente o outro e eventualmente dizer: “ando todo arranhado, mas não largo a minha gata”. Animal racional também pode não saber o que faz.
Com Amor Total poderemos conciliar as grandiosas lições do Evangelho com a indiferença do próximo, num simples ato de perdoar.
A reflexão, o leitor já percebeu, é despretensiosa, mas serve de alerta contra o arrependimento depois já do outro lado da vida, no plano espiritual.  “Eu devia ter amado mais!”
No livro Paulo e Estevão, Abgail leciona ao seu grande Amor, deixando-nos síntese fabulosa: Ama, Trabalha, Espera e Perdoa. (1, 2).
Temos uma película com visão espírita em cartaz (*)
Nenhum coração espírita deve negligenciá-la, é mapa-poesia, trazida pela Espiritualidade mais evoluída.
“Quem não tem competência não se estabelece”, dizia Catarina, uma aluna querida, na época que fazia o “Curso Biomédico”, na UERJ.
Ninguém fica em cartaz, por toda a vida, se não reunir boa letra, música e interpretação. Por isso, posso dizer que Erasmo Carlos e Roberto Carlos Braga são verdadeiros Titãs.
Quem espera que a vida / Seja feita de ilusão / Pode até ficar maluco / Ou morrer na solidão / É preciso ter cuidado / Pra mais tarde não sofrer / É preciso saber viver.
Toda pedra no caminho / Você deve retirar / Numa flor que tem espinho / Você pode se arranhar / Se o bem e o mal existem / Você pode escolher / É preciso saber viver.


Fontes.
1.  Paulo e Estevão. Emmanuel. Francisco Candido Xavier.
Emmanuel neste romance resgata a imagem de Paulo de Tarso, visto como um fariseu fanático, perseguidor de cristãos, e da então nascente doutrina cristã, apresentando-o como um ser corajoso e sincero que se arrependeu de sua postura radical, empreendeu acelerada revisão de conceitos e atendeu ao chamado de Jesus na estrada de Damasco, transformando sua vida num exemplo de trabalho, por dezenas de anos dedicados a abrir igrejas cristãs e dar-lhes assistência. "Paulo e Estevão" fará você compreender como o amor apaga a multidão de faltas cometidas. 599 páginas.
2.  Casamento Perfeito, Parceiro Ideal e o Filho Como Vai?. Texto compilado para palestras a serem realizadas dias 17 e 26 de maio de 2018.
Programado para publicação, domingo, 13 de maio de 2018. O Consolador. Revista Semanal de Divulgação Espírita.
3. Titãs.  É preciso saber viver. Titãs.
Devia ter amado mais