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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A divulgação do Evangelho e a FEB

Vladimir Alexei

Belo Horizonte, 22 de novembro de 2017
Vladimir Alexei

É comum lermos críticas a respeito dos excessos cometidos por diversas religiões cristãs na divulgação do evangelho. Desde o surgimento de O Evangelho Segundo o Espiritismo, as críticas no movimento espírita também ocorrem.

Alguns livre pensadores atribuem “erro” a Allan Kardec em publicar essa obra. Partem do pensamento comum, materialista, que não separa a causa do efeito – fator fundamental para dirimir dúvidas e causa de muitos dissabores, segundo Nietzsche – atribuindo o insucesso da divulgação do evangelho a um planejamento malsucedido da parte do Codificador e consequentemente dos Espíritos Superiores que tutelaram seus trabalhos.

Outros, por sua vez, se embebedaram com o evangelho a ponto de turvar a razão e não saberem distinguir a vaidade da simplicidade. Esse fenômeno pode ser observado desde que a Federação Espírita Brasileira foi criada. Sua função era unir os espíritas em torno da Doutrina, entretanto, não é bem isso que ocorre e não é difícil entender porque.

A presente gestão da federação, ainda que bem intencionada como todas as gestões que lá estiveram, além da falta de planejamento e transparência em suas ações – já comentamos que a última publicação do planejamento das atividades da federação ocorreu em 2014, na gestão anterior –, insistem nos mesmos erros quanto a divulgação do Evangelho.

A gestão atual, como uma de suas primeiras ações, interrompeu, cancelou, acabou com as atividades das oficinas de Estudo Minucioso do Evangelho. Atividade essa que teve como um de seus pilares na formação do conteúdo de estudos, o saudoso Honório Onofre de Abreu (presidente da União Espírita Mineira). Simplesmente descontinuaram os estudos e consequentemente o NEPE. Após dois anos sem ações dignas de nota, eis que a Federação ressurge com estudos do Evangelho Redivivo, citando, inclusive, trabalho desenvolvido por Honório Abreu – Luz Imperecível. Uai, por que perder dois anos de estudos para, em seguida lançar com uma outra roupagem o mesmo estudo? É só para dizer que fizeram alguma coisa? Que não sejam dois anos: o tempo que interromperam os estudos do NEPE, demonstram o quão despreparados estão para a união dos espíritas por meio dos estudos.

Aprimorar e aperfeiçoar modelos é importante. É o que os japoneses chamam de Kaizen (“melhoria gradual, contínua”). Entretanto, o que a FEB está fazendo é um retrocesso. Após dois anos de gestão, sem ações significativas para o movimento espírita brasileiro de unificação, a federação aparece com uma proposta de se estudar todos os livros da bíblia, da gênese mosaica ao apocalipse. E mais: ainda deve publicar esse material!

Divulgam como se existisse um diferencial: não são estudos soltos pois contarão com o auxílio de um “colegiado” formado por doze membros sob a supervisão direta do presidente da Federação, que não deve ter mais o que fazer e nem com o que se preocupar, para centralizar os estudos assim. Até nisso a divulgação febiana é mística e vaidosa: doze membros no colegiado para lembrar os doze apóstolos. É muita arrogância. Dizem ainda tratar-se de uma obra em que o principal é a evolução moral do indivíduo. Quase o mesmo que dizer o seguinte: esse é um estudo diferente de tudo que vocês já viram porque fomos nós que produzimos. Os outros “tentaram”, mas só nós conseguimos! Por que? Porque chegou a “hora de nos libertarmos das interpretações personalistas, institucionais, teológicas ou atávicas do Evangelho, condições que muito tem retardado a nossa marcha ascensional.”

Para recordar aos amigos, a palavra “atavismo” significa o “reaparecimento de uma certa característica no organismo depois de várias gerações de ausência”. Isso significa dizer que a FEB está abrindo mão do roustainguismo? Desde 2001 a FEB estava livre dessa pecha, quer dizer então que foi abolido? Derrubaram a cláusula pétrea? Pararam de publicar o “tal livro” e seus descendentes? Claro que não!!! É mais um discurso da cúria espírita!! É mais um material para “inglês ver”!!! Está aí, mais uma falácia! É isso que a Federação e os febianos precisam entender: acabou a era do discurso intelectualizado e elitista. É preciso simplicidade e união verdadeiras!

Se querem que o foco seja o desenvolvimento moral, e que os estudos anteriores eram personalistas, seria simples resolver: bastava trocar os atores e continuar com o estudo! Quem se melindrasse demonstraria despreparo para o trabalho. O que fizeram? Por vaidade, afastaram pessoas que estavam levando o Evangelho em sua essência espiritual para aqueles que não conheciam. Interromperam um trabalho porque não conversam mas com as pessoas, não aceitam mais a sua maneira de divulgar. E o pior: já beberam dessa fonte, já se alimentaram do prato que hoje sujam.

É surpreendente ver a acéfala federativa mineira, que um dia abrigou figuras ilustres do nosso movimento espírita, encabeçar uma proposta que, primeiro, ignora o que foi iniciado por seu presidente Honório Abreu, para depois, resgatar o trabalho que o próprio Honório Abreu havia desenvolvido na federativa. Infelizmente, estão querendo medir forças e demonstrar poder... político. Apenas isso: político. A federativa mineira está assessorada por discípulos de Maquiavel. O movimento espírita mineiro está decadentemente representado por aquela entidade que um dia nos abrigou com carinho e que hoje ignora todos os que pensam diferente.

Trocando em miúdos, além da Federação Espírita Brasileira ignorar completamente tudo que foi desenvolvido em torno do Evangelho desde quando Nestor Masotti assumiu a presidência daquela entidade (2001), a federativa mineira, foi na mesma esteira e simplesmente abandonou aquilo que um de seus mais representativos presidentes realizou. Nunca, na história do movimento espírita brasileiro de unificação, um presidente da federativa mineira foi convidado a produzir material para a FEB. Nem Antônio Lima, fundador daquela Casa! Ou seja, se era para resgatar a divulgação do Evangelho Redivivo, por que não aprimorar o que já havia sido construído, inclusive pelo Honório Abreu? Se era para fazer diferente, porque não expos com métodos claros o que seria construído?

Enfim, o que fica para a reflexão do movimento espírita brasileiro é o que todos já sabemos: o compromisso da Federação Espírita Brasileira é com o Evangelho. Mas não a divulgação do Evangelho e sim seu estudo aprofundado, sequenciado, metódico para que eles consigam perceber que, enquanto defenderem ideias controversas e alimentarem a vaidade de seus dirigentes, em nome do evangelho, esse cisma permanecerá entre nós e essa entidade não terá cumprido seu papel.

Mais uma vez, a Federação Espírita Brasileira mostra que, o golpe praticado em 1949, reverbera até hoje, com capilaridade maniqueísta, impedindo que seus adeptos tenham autonomia para pensar e desenvolver seus estudos, de acordo com as necessidades de cada região. Continuam citando Kardec, Emmanuel e outros, como a dizer-nos que suas atividades são respaldadas por essas entidades. Ledo engano. Conversa “pra boi dormir”. Quem estuda esses autores, sabe como eles pensam e por isso entenderiam que não há coerência e adesão diante do que tem sido proposto pela FEB, que, por vaidade de seus adeptos e por cumplicidade de suas federativas bajuladoras, cometem os mesmos erros.

Não sei o que é pior, a indiferença do movimento espírita ante o despreparo doutrinário das lideranças da Federação e Federativas ou a vergonhosa conivência de seus adeptos junto a cúria espírita. Seja como for, o Evangelho Redivivo da FEB é apenas para a FEB. O dia que ela aprender a dialogar com as casas espíritas e tiver uma plataforma de trabalho transparente, sem cláusulas pétreas, será o alvorecer de uma nova era. Até lá, acostumemo-nos com mais do mesmo.

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