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terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O MATERIALISMO E A TAREFA DE VLADO.


Luiz Carlos Formiga

“Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes” – Jesus (João c.13 v 17).
Jesus não confia tarefas de importância fundamental a Espíritos inexperientes ou ignorantes. No entanto, é imperioso reconhecer o reduzido número daqueles que não adormecem no mundo, enquanto o Mestre aguarda resultados da incumbência que lhes foi cometida. Esquecem-se do mandato de que são portadores, de que a vida é a eternidade e que a existência terrestre não passa simbolicamente de “uma hora”. (1)
A tarefa de Vlado é, para os espíritas, um bom estímulo ou despertador.  (2)
O Espiritismo pulsava livremente antes da 2° Guerra Mundial na antiga Tchecoslováquia. Depois os regimes políticos acabaram com o Espiritismo. O que sobreviveu ao Nazismo foi destruído pelo Comunismo.
Josef Jackulak conta que no verão de 1989, ainda no tempo da “cortina de ferro”, havia planejado visitar a antiga Tchecoslováquia. Ele classificava essa iniciativa como um teste de coragem, pois como tcheco refugiado do comunismo, conhecia o risco e sabia da capacidade da polícia do regime.
As religiões não eram bem vistas e eram consideradas inimigas do regime opressor utopista e materialista. As casas espíritas foram confiscadas e qualquer atividade espírita era proibida; algumas pessoas foram encarceradas, ou constantemente vigiadas. No entanto, a fé foi sempre mais forte do que o medo. Os espíritas continuaram a se encontrar nas suas casas ou nos passeios, na natureza e florestas.
Josef Jackulak era então dirigente da Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec, de Viena. Áustria. Em entrevista (2) ele comenta as perseguições contra o Espiritismo na segunda metade do século XX e o seu ressurgimento em países da Europa Central.
Na parte oriental da Europa a ideia comunista oprimiu a vivência da religião, mas não ofereceu nada para substituí-la e alimentar o espírito, criando pessoas materialistas.
Jackulak conheceu alguns sobreviventes dessa opressão. Cita um verdadeiro herói. Vladimir Sláde/ek, chamado carinhosamente por todos de Vlado, foi um exemplo de fé e coragem. Apesar de ser perseguido e ter sofrido agressões da polícia, nunca abandonou o ideal espírita. Escondeu as obras de Kardec, que depois lhe foram roubadas pela polícia.
Os comunistas enlouqueceram sua esposa doente aplicando-lhe injeções no hospital e conseguiram produzir-lhe o ódio, contra o marido.  Em seguida a obrigaram a denunciá-lo, destruindo seu casamento e a família.
Vlado traduziu ilegalmente livros espíritas. Ele era fluente em Alemão e Esperanto. Foram mais de 100 livros, incluindo os psicografados por Divaldo Pereira Franco e Francisco Cândido Xavier.
Com a queda do Comunismo em 1989, o ano de 1990 tornou-se histórico, pois Jackulak pode visitar Praga, sem preocupação.
No Brasil de hoje poderemos colaborar com a ideologia materialista ou com a divulgação da Doutrina Espírita. Só não podemos ser incoerentes, servindo a dois senhores ao mesmo tempo.
Sabemos que o homem não é apenas matéria, mas podemos cair na armadilha da ideologia materialista e chegar à psicose nihilista. Esse tipo de “religião” ativa provoca em seus seguidores “curto circuito” cognitivo e espiritual. Os valores éticos cristãos podem ser desvalorizados.
Para o materialismo, segundo Kardec, o futuro não existe e ele veio para minar toda razão de ser da moral e para solapar os próprios fundamentos da sociedade, proclamando o reino do egoísmo. O Espiritismo afirma que o futuro é tudo, satisfazendo à aspiração instintiva do homem, baseando-se em fatos. (3)
De modo subversivo, sem armas, sem guerras, o regime materialista chegou à universidade, à política partidária e à economia.
Emmanuel diz que é imperioso evitar as situações acomodatícias, em detrimento das atividades do bem. Diz-nos que somos obrigados a lembrar das inúmeras comunidades de alicerces cristãos que permanecem dormindo nas convivências pessoais, nos mesquinhos interesses, nas vaidades efêmeras. Embora falando do Cristo, elas se referem à sua imperecível exemplificação, como se fossem sonâmbulos, inconscientes. (4)
No Brasil, temos boas condições para a resistência. Um estudo disse que, em relação ao Brasil o Espiritismo uruguaio estaria “em fraldas”, ou “no jardim de infância”. (5)
A grande e árdua batalha espírita brasileira será contra a hegemonia do regime materialista. Os líderes dessa ideologia defendem a igualdade material fruindo sua riqueza, através de “testas de ferro e laranjas”, em mansões, fazendo compras em Paris. Essas lideranças amorais acumulam e escondem grandes fortunas e podem contratar defensores de notável saber jurídico.
Políticos que enriqueceram ilicitamente, quando chegam ao plano espiritual, se tornam um dos diálogos mais difíceis no resgate. (6)
Como é a técnica de dominação? Os líderes elaboram metas prioritárias. Seus investimentos prosperam, porque cristãos distraídos, iludidos, promovem suas causas.
Um número mesmo reduzido dessas metas pode nos dar uma ideia da técnica maquiavélica.
Procuram tomar o controle das escolas, das universidades para depois usá-las como meio de transmissão ideológica. Controlar as associações de professores é muito importante.
Eles procuram sempre quebrar padrões culturais de moralidade, desacreditar a Família, a religiosidade, enfatizando que não há necessidade de usar “muleta religiosa.”(7)
Allan Kardec sabia que nas ciências exatas o estado moral do investigador não tem a menor interferência. No estudo dos fenômenos psíquicos é diferente, pois é necessário criar clima de serenidade, recolhimento e pensamentos nobres, para que funcione a lei de afinidade psíquica. (8)
Trabalhar no resgate, na desobsessão, num pais diante de um regime político materialista não é fácil, diria Vlado.
O espírito opressor, obsessor, inicia a sua investida geralmente sugerindo que se cometa pequenos delitos. Afinal, todo muito faz, disse o adolescente: “lá na escola todo mundo fuma maconha”.
Nestes últimos 15 anos, através de suas fronteiras, o Brasil viu aumentar de forma fantástica a entrada da pasta-base da coca boliviana.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Niterói a Arraial do Cabo (Sintronac), Estado do Rio de Janeiro, 20% dos motoristas de ônibus, portadores das carteiras de habilitação C, D e E, foram detectados como usuários de maconha ou cocaína. Se levarmos em conta que esses dados podem representar uma amostragem de 18 mil condutores, somente nas cidades de Niterói, São Gonçalo, Maricá, Itaboraí e Tanguá, o problema se torna muito mais sério. Um caso de saúde pública.
A lei exige a realização de exame toxicológico. Os motoristas, no entanto, têm enfrentado dificuldades com a Previdência Social, que tem negado o direito ao tratamento médico. (9)
Leon Denis, em 1924 foi muito feliz em sua explanação, pertinente ainda hoje.
Diz ele: longe de nós o pensamento de criticar os comunistas de convicção sincera, que desejariam estabelecer na Terra o regime social que reina, provavelmente nos mundos superiores. E continua: esse regime exige qualidades morais e sentimento de altruísmo que não existe senão em condições excepcionais em nosso mundo egoísta e atrasado.
Denis explica que se poderia fazer das teorias comunistas, à parte, aspirações generosas, mas seria fácil demonstrar que elas são prematuras e inaplicáveis na sociedade atual. A posse individual dos frutos do trabalho permanecerá como estimulante indispensável, o meio de emulação que assegura colocar em ação o equilíbrio das forças sociais.
Diz ele, ainda, que nesse momento, o comunismo não é realizável senão no seio de grupos restritos, cuidadosamente recrutados, nos quais todos os membros são animados por uma fé intensa e espírito de sacrifício. Não se poderia sonhar com a possibilidade de estender a aplicação a nações inteiras. Também, não será através do crime e pelo sangue que se poderá fundar um regime de fraternidade, de solidariedade e de amor! (10)
Surgem os pequenos delitos, depois aparece a figura da pessoa como “casa abandonada, com as janelas quebradas”, da teoria psicológica. O primeiro a lançar a pedra cria a motivação.
Nesse trato com os desencarnados o S.O.S. não é bem compreendido pelos que possuem inteligência espiritual em fase embrionária.
Diz Miranda (11) que o trabalho de doutrinação, de resgate, rescue work em inglês, só é possível em clima de total doação, de empatia, de profundo e sincero amor fraterno, o que o torna uma atividade do coração, muito pessoal, essencialmente humana.
O trabalho será implacavelmente assediado. Levantar-se-ão contra ele forças obstinadas, dispostas a tudo para fazê-lo calar-se e dissolver-se. A medida de seu êxito, em termos espirituais, é precisamente a perseguição.
Miranda cita um pequeno incidente, aparentemente sem importância, para explicar a oração e a vigilância necessária e constante.
Diz ele. Nossos amigos espirituais de há muito nos haviam prevenido de que, em hipótese alguma, deixássemos ultrapassar o horário de atendimento. Assim, redobrei o cuidado com o controle do tempo. Veio outra observação. Recomendavam-me que procurasse colocar o relógio diante de meus olhos, de forma que, para consultá-lo, não fosse necessário virar-me e tomá-lo nas mãos, como costumava fazer.
Por que a recomendação?  A resposta é muito simples.
Não apenas a preocupação excessiva com o tempo pode nos desviar do clima exigido pelo trabalho, mas porque até mesmo o próprio gesto de me voltar poderia quebrar a continuidade da tarefa junto ao espírito sofredor incorporado. Isso provavelmente exigiria esforço maior dos companheiros amigos desencarnados.
Quem poderia imaginar que a mera posição de um relógio, na sala de resgate, fosse tão importante, a ponto de merecer advertência específica?
Existem pontos críticos como a seleção dos médiuns que é da mais alta importância, bem como a maneira de tratá-los e integrá-los no trabalho.
Se a recomendação de estudar sempre é válida para o grupo, como um todo, para o médium ela adquire as proporções de uma obrigação.
Existem qualidades desejáveis e outras que são indispensáveis. Entre estas estão a formação doutrinária, a evangelização, a autoridade moral, a fé e o amor.
O amor fraterno tem que emergir das profundezas do ser, como um movimento irreprimível, no qual nos doamos integralmente, quer o companheiro aceite ou não, de pronto, a nossa entrega.
Diz Miranda que se lhe fosse pedido o segredo da doutrinação, do resgate, diria apenas uma palavra: — Amor!
Vlado sabia que nós, os obreiros distraídos, podemos nos tornar heróis da resistência e do resgate. Que para o trabalho de “fazer despertar” seria necessária fé e coragem. Que não poderia ceder à impaciência dos afoitos, que querem os frutos antes de estar maduros.
Vlado sabia, como Miranda, que “Amai-vos uns aos outros”, e “amai os vossos inimigos”, não são frases bonitas, mas condições essenciais ao trabalho.
Pelo exposto, podemos reafirmar o que dissemos anteriormente.
A liberdade de crença e religião, sendo preservadas, aprimoradas e estendidas a todos os indivíduos, trará ainda maior evolução dos direitos e garantias individuais, que conduzem à justiça social e à paz entre os povos.
Proibir uma obra é revelar temor. Na época da revolução de 1964 procurei me informar sobre o Manifesto Comunista. Gostei. No entanto, quatro décadas depois, ainda gosto mais do Manifesto do Sermão da Montanha, a alma do Evangelho. (12)

1.  Emmanuel. Caminho, Verdade e Vida, cap.87-88.

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