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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A MEDIDA DO TEU FAZER



Sonia Hoffmann
Setembro de 2014

"Assim como quereis que os homens vos façam, do mesmo modo lhes fazei vós também." - Lucas v.31
O exercício da reflexão é sempre saudável. Ele nos indica equívocos e acertos ou nos sugere, quanto mais não seja, mudanças fundamentais ao êxito da meta proposta.

Hoje, a tarefa é a compreensão da máxima de Jesus: contida no versículo 31 de Lucas: "Assim como quereis que os homens vos façam, do mesmo modo lhes fazei vós também". Com vistas ao propósito, três exemplos servirão como ilustração. Para saciar minha sede, um copo d'água me basta; quando alguém referir sede, darei esta quantidade. Gosto de franqueza direta e objetiva para comigo; portanto, serei para com o outro franco na mesma proporção. Em determinadas vicissitudes da minha vida, precisei ser vigorosamente despertada e compreendi que isto me fez muito bem; quando perceber o adormecimento profundo em outrem, tomarei atitudes enérgicas para com ele a fim de também ser beneficiado.

Na perspectiva da recomendação nazarena, posso ser considerada inadequada ou ter cometido algum engano em qualquer das situações apontadas? Não, porque fiz ao outro aquilo que gosto e acredito. Contudo, fui fraterna? Sim e não, pois para alguns meio copo de água basta, enquanto para outros serão necessários dois ou mais copos e até uma garrafa inteira deste líquido. Há quem prefere e precisa de franqueza e sinceridade absolutas , entretanto, outros simplesmente não têm condição emocional para suportar a mesma ou até mesmo meia medida desta franqueza. o tempo e o modo de despertamento do outro podem não ser os mesmos que o meu, logo a intensidade do abalo é também variável, podendo inclusive ser necessária uma atitude com vigor bem mais intenso daquela acontecida comigo ou, então, nenhuma.

Assim, é indispensável observarmos o outro, conhecermos até onde ele tolera ou tem resistência afetiva suficiente que evite o seu desequilíbrio. Para isto é preciso desenvolver a habilidade da leitura de almas, da sensibilidade do olhar para além do visível e, muitas vezes, arriscar porque o conhecimento ainda não se constituiu. A partir deste raciocínio, percebe-se novamente que a vida implica desafios, erros/acertos e um lidar contínuo com as consequências daquilo que fazemos ou deixamos de fazer.

Ainda nesta lógica, é útil a ampliação de conceitos e percepções, exemplificados também no entendimento de que, em determinadas circunstâncias, é inevitável a provocação do desequilíbrio a fim de alcançar-se o equilíbrio. Rotineiramente, a natureza e os próprios desenvolvimentos da motricidade do corpo físico nos dão comprovações da existência desta dualidade equilibração/desequilibração (referenciada por Piaget na aprendizagem humana). Um modelo bastante simples deste princípio está no mero movimento do andar, no qual para manter-se o equilíbrio da marcha, torna-se indispensável a oscilação alternada de um dos membros inferiores.

Com esta abordagem do tema fazei ao próximo aquilo que gostarias que a ti fizessem, fica evidente o quanto nem sempre devemos interpretar literalmente as palavras do Mestre, que falou com amor aquilo que entendemos com a racionalidade, pois dilemas surgem em nossas relações cotidianas: faço ou não pelo outro tanto quanto eu desejo para mim? Junto a esta reflexão, coloca-se uma outra pergunta feita por Ermance Dufaux: qual a medida do teu amor?", a qual acrescento por ti e pelo outro na intenção do que é feito. A recordação de minha sede é de dois copos d'água, mas a do " outro poderá ser de quatro ou de um", me faz pensar que devo dar a ele o que ele precisa e não o que ou o quanto eu quero. Neste sentido, talvez seja salutar a oferta ao próximo da essência do bem que queremos na medida da sua singularidade e mutabilidade.

No capítulo XVII, Sede perfeitos, item 3 do Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos uma das indagações que o homem de bem se faz: "fez aos outros tudo o que desejava que os outros fizessem por ele". No mesmo item, surge a resposta: "o homem de bem, enfim, respeita nos seus semelhantes todos os direitos que as leis da Natureza lhes concede, como desejaria que os seus fossem respeitados". Ou seja, busquemos respeitar as limitações do outro tanto quanto desejamos que respeitem as nossas limitações, possibilidades, habilidades.

Neste ponto, outro repensar surge: precisamos aprender a dosagem de cada um e este é um aprendizado bastante delicado, porém possível e fraterno. Com a inclusão destas ações em nossas aprendizagens, provavelmente poderemos nos desvencilhar mais rapidamente das amarras que nos prendem ao eu egocêntrico, passando a experienciar e a plasmar em nosso amadurecimento o desenvolvimento da plenitude consciencial.


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