.

segunda-feira, 25 de março de 2013

A Mediunidade como forma de Evangelização



Margarida Azevedo
Mem Martins, Sintra, Portugal




Resumo da Palestra proferida em 16 de Março na Figueira da Foz
Nota prévia: 

A Organização achou por bem denominar a conferência como espiritualista uma vez que não seria levada a efeito em espaço espírita, mas sim num salão público. Além disso, o auditório seria composto por membros de organizações espíritas e de outras confissões religiosas. Foi o que de facto aconteceu.

Agradecemos o coração grande com que nos receberam, a paz que nos transmitiram e o abraço fraterno com que nos despedimos. Ficou a certeza de um saudoso “até breve”, e votos sinceros de saúde e paz. Muito obrigada a todos.

Ponto de partida:

A descoberta do fogo como ponto de charneira para o aparecimento e desenvolvimento da mediunidade.
Tópicos:

Noções de mediunidade; evangelho; evolução.
Objectivos gerais:

1. Compreender a importância do fogo como meio de humanização.

2. Perceber a importância do fogo como processo desencadeador de mediunidade.

3. Descobrir a Natureza/Evangelho como “boa-nova”.
Objectivos específicos:
1. a) Descobrir o fogo como primeira grande forma de protecção.

b) Relacionar o fogo como impulsionador de disponibilidades mentais.

b) Descobrir a importância do fogo como elemento introspectiva
2. a) Verificar a importância do fogo para o desenvolvimento da capacidade de sonhar. 

b) Descobrir o sonho como “talvez” primeira forma de mediunidade.
3. a) Descobrir as diversas formas de observar a Natureza.

b) Constactar a natureza como permanente fonte de novidade.

c) Transformar a Natureza em fonte de símbolos.


Exposição (sinopse):De todas as descobertas do homem, sem dúvida que a maior e mais marcante foi a descoberta do fogo. Resultado do bipedismo, que libertou as mãos e o rosto, e culminou no aumento das dimensões da caixa craniana, a complexificação do homem foi um sem parar rumo às mais diversas descobertas.

Colocado à entrada da caverna, ou a céu aberto, o fogo afugenta as feras. O homem deixa de temer ser devorado, pois o fogo protege-o. Mas não só, aquece-o e permite-lhe cozinhar. A digestão passa a ser feita, previamente, na confecção dos alimentos que deixam de ser consumidos crus, tornando-se consideravelmente mais fácil. 

Mas não é tudo, o fogo ilumina, isto é, o homem produz a sua própria luz protectora. A noite já não é de vigília por causa das feras, mas de observação espantosa da abóbada celeste. Começa todo um vastíssimo processo introspectivo. O homem irá tirar de si o seu próprio ver. Os olhos passarão a ser instrumentos ao serviço de uma interioridade fantástica.

Segue-se outra descoberta afim, igualmente grandiosa, que perdurará até aos nossos dias: a de uma realidade exuberante, a Natureza, que perde para sempre o seu papel redutor de fonte de alimentação e, portanto, de sobrevivência, bem como de perigo constante, passando a ter função simbólica. 

O fogo permite ainda a construção de tempo, que deixa de ser o dia e a noite na sua natural espontaneidade. A luz prolonga o dia, confere-lhe mais tempo, isto é, o fogo introduz tempo no tempo. Desta forma, ao ter tempo para si, podemos dizer “depois de tantos milénios sem descanso”, finalmente o homem cai num sono profundo e sonha. Daí irão partir todas as descobertas. O sonho tornar-se-á o grande impulsionador das grandes como das pequenas, das aventuras a que chamamos Ciência, Arte, Cultura, Religião, Leis,… 

Mediante a descoberta do fogo, neste vasto quão complexo processo de hominização, inicia-se um outro, paralelo, o processo de humanização que, simultaneamente, coincide com um processo de mediunização.

“Talvez” a primeira forma de mediunidade tenha sido o sonho, talvez, mas de certeza que a primeira forma de evangelho foi a Natureza/Ecologia, isto é, a primeira grande boa-nova. 

A Natureza e a relação ecológica com ela despertam para forças até então desconhecidas. Com o passar dos milénios, tornar-se-á sagrada, o homem sentir-se-á pó do mesmo pó, força da mesma força. De ameaçadora e fonte de alimento tornar-se-á, para sempre, portadora de uma linguagem codificada. O homem ficará reduzido à descoberta dessa mesma linguagem misteriosa. Viver torna-se descodificar.

Assim, este ser, que produziu a sua própria iluminação protectora, reclamará por outra, que não se esgote, e que irá encontrar na volatilidade da sua capacidade de sonhar.

Podemos dizer que a mediunidade nasce do tempo enquanto gerador de disponibilidade para pensar, reflectir, meditar. Ela requer o descanso de quem já não receia ser devorado, simultaneamente a de quem sabe produzir a sua própria defesa.

Com isto, o processo de humanização/mediunização terá como fim o alargamento do sentido sobre todas as coisas. Este, no qual nos encontramos, já requer outros objectivos e outras metodologias. Já não se trata de feras, mas dos nossos próprios pensamentos inconsistentes. O fogo transformou-se em fé, o simbolismo criou oração/adoração, a Natureza tornou-se mãe do homem, filha de Deus.

A mediunidade sonhadora tornou-se vigília, multiplicando-se em inúmeras apresentações; o sonho reconforto e vínculo, qual cordão umbilical, a essa Mãe e a esse Pai. Mediante tal força desconhecida, ainda, criaram-se novos evangelhos, e hoje, mediante o crescimento, ímpar na Criação, das capacidades do homem e das capacidades humanas, somos seguidores de um fantástico Ser, o Cristo, o Ungido, que veio dar testemunho da Fonte Suprema de onde jorra a força da Natureza, de onde provêm os sonhos, de onde o espírito criado é oriundo.

O Evangelho, ou Evangelhos, constitui um manancial inesgotável de regras de conduta. O homem, na sua humanização, anseia por Deus e, por isso, o homem é também boa-nova.

O Evangelho, boa-nova de Deus, é um caminho que nos faz sentir que continuamos a ser esse animal complexo à Sua procura.

A mediunidade na sua duplicidade, biológica, força da Natureza, e ética, cultura, aproxima o homem do divino tornando-o passível de conhecer outras realidades. Como?

1.A oração tem aqui um papel fundamental. Ela é um discurso diferente, com outros sentidos, apesar de utilizar a linguagem mais comum e mais simples. Tem que ser sempre a voz do coração na sua sede de Deus.

2. O comportamento, como socialização e como força apelativa às forças mais nobres da alma.

3. O amor à vida e ao outro, entendido como presença incondicional de Deus dentro de nós.

4. A educação, repelente do irascível, da inveja, do ciúme, da maledicência, da desconfiança.

5. A divinização, a santificação, a beatitude do Espírito como o traje limpo e belo para as núpcias. Ser cristão é ser bem-educado. O cristão tem muita responsabilidade, porque ele é boa-nova.

E tantas outras coisas que tornam a vida espiritual mais livre, ainda que neste mundo. Quem foi capaz de produzir a iluminação protectora com dois paus não criará a sua forma de iluminação repulsora de todas as formas de ferocidade provenientes das baixas falanges?

A mediunidade, nas suas múltiplas apresentações, deve estar ao serviço da vida de cada ser humano enquanto capacidade libertadora. Mas libertadora de quê? De tudo o que seja a repulsa do bem. 

A mediunidade tem que estar ao serviço da santidade, o Evangelho ao serviço da espiritualidade, e o homem tem que estar disponível para ser um servo de Deus.

Bibliografia
CARDOSO, Adelino, PECEGUEIRO José, Temas versus Problemas, Átrio da Filosofia, Edições Asa, Lisboa Editora, Porto, s/d, Vol.1, cap. I, II, pp.10-72.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home