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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

ANTE A DIVULGAÇÃO ESPÍRITA - ALGMAS PALAVRAS

ANTE A  DIVULGAÇÃO ESPÍRITA - ALGUMAS PALAVRAS

 Considerando a imprensa laica, Emmanuel advertiu: “nunca os círculos educativos da Terra possuíram tanta facilidade de amplificação, como agora, em face da evolução das artes gráficas; jamais o livro e o jornal foram tão largamente difundidos; entretanto, a imprensa, quase de modo geral, é órgão de escândalo para a comunidade e centro de interesse econômico para o ambiente particular, enquanto que poucos livros triunfam sem o bafejo da fortuna privada ou oficial, na hipótese de ventilarem os problemas elevados da vida.” (1)
A divulgação espírita atual faz jus ao apoio e o incentivo de todos nós? Sim! Não há como desconhecermos a importância da divulgação doutrinária para a manutenção da chama viva da Terceira Revelação. "O conhecimento espírita, na essência, é tão importante no reino da alma, quanto a alfabetização nos domínios da vida comum".(2)
A imprensa espírita é um notável canal de divulgação, capaz de conduzir o leitor às informações fundamentais da nossa realidade doutrinária, balizando-o, vigorosamente, em efetivos projetos de espiritualização. Destarte, é mister que os meios de comunicação estejam compromissados com a ética, com a verdade revelada pelos Espíritos Superiores e com a melhor qualidade dos temas difundidos.
Sendo poderoso meio de disseminação das verdades eternas e por dirigir-se a dois públicos – o espírita e o não espírita – a mídia kardeciana não deve ultrapassar os limites dos interesses doutrinários e imiscuir-se em altercações políticas ou disputas de lideranças pelo movimento espírita institucionalizado.
Para lograr os ideais de convivência pacífica na disseminação das verdades eternas entre pessoas de diferentes convicções, é forçoso fugir do egocentrismo. O Espiritismo é uma doutrina transcendente, destinada a influir na transformação social; por isso, deve tornar-se alteritária, para possibilitar o diálogo fraterno e não-excludente. Não se pode imaginar uma divulgação espírita desatenta ao mundo, enclausurada em si mesma.
Não é difícil averiguar que falecem meios de comunicação arejados (jornais, revistas, sites, televisão, rádios), que se pode confiar sem a sensação desagradável de asfixia, de sujeição servil a lideranças extravagantes. A coordenação do movimento espírita coevo estabeleceu um clima de autocensura, reduzindo a divulgação espírita a uma insensibilidade inerme, como se jazesse abafada a uma administração clerical.
Nos centros espíritas surgem palradores “estrelas”, funcionais e irrequietos, que transformam tribunas em ribaltas para os holofotes das mídias espíritas, quase sempre expondo a doutrina com superficialidade, aventurando uma cultura de aluguel. Não perdem a menor oportunidade de teatralizarem a palestra com surtos oratórios para extraírem dilúvios de palmas da plateia.
Outra realidade é: quanto mais se expande o ciberespaço, mais se amplia o universo da disseminação espírita na sociedade. Daí urge toda cautela para que a veiculação dos preceitos doutrinários, sobretudo virtuais, não venha a se converter em ingente esforço de propagação ideológica, a fim de converter a todos, sob o tacão da insensatez dos espiritismos à moda brasileira. Qual inumana expiação, notamos muito personalismo na difusão do Espiritismo; há muita presunção, prevalecem muitos interesses pessoais sobrepondo-se ao coletivo.
Poucos são os articulistas e oradores que têm a audácia e a consistência de se assentarem em amparo do restabelecimento da verdade revelada pelos Espíritos e do comportamento crítico no círculo doutrinário. Infelizmente, a massa popular ainda não entendeu a Doutrina Espírita. O nível baixo da cultura do povo não permitiu o desenvolvimento coerente da doutrina entre os “ilustres” excluídos do sistema elitizante. Quiçá não haja interesse da elite cultural pelo despertar das consciências vulgares, porque senão os aduladores desaparecem. Isso é muito evidente, até porque quanto mais esclarecimentos doutrinários, menos idolatrias, e como se busca shows e aplausos, é preferível "afagar" a todos, a "desgostar" o grande público de idólatras inscientes. E nessa direção a divulgação Espírita vai abafando a orientação do Evangelho Redivivo.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net/blog

Referência bibliográfica:

(1)    Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmanuel, questão 206, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001
(2)    Vieira, Waldo. Sol Nas Almas, ditado pelo espírito André Luiz, São Paulo: Ed. Boa Nova, 2010

VIOLAÇÃO DO DIREITO AUTORAL PUBLICADO NO JORNAL O BEM




EMPRÉSTIMO DE LIVRO PELO CENTRO ESPÍRITA É VIOLAÇÃO DO “DIREITO AUTORAL”?
Em época de Internet é natural o emprego dos recursos virtuais para pesquisas e estudos. Em face disso, a divulgação das ideias espíritas através dos livros para download não pode ficar condicionada à questão dos “direitos autorais”. À semelhança das bibliotecas dos centros espíritas que emprestam livros doutrinários, há sites espíritas com função de bibliotecas virtuais, sem finalidade de lucro financeiro, disponibilizando para download os livros espíritas gratuitos.
Infelizmente esses portais têm esbarrado com a avareza dos negociantes de livros, que sob o jargão da suposta destinação dos lucros financeiros para obras filantrópicas, elevam a bandeira do famoso “direito autoral”, promovendo ameaças ridículas e antidoutrinárias através de intimidações extrajudiciais. (Pasmem!)
O movimento espírita transformou-se num negócio lucrativo, em que o comércio de livros doutrinários, CDs, DVDs (de palestras) reflete a cobiça de vendilhões compulsivos. Existem até atacadistas e distribuidores dos livros espíritas, que passam por vários atravessadores até chegarem às mãos de quem verdadeiramente procura o conhecimento, e por motivo do elevado preço muitas vezes não os pode adquirir. Será que tal sovinice alcançará os Centros Espíritas? Será que algum dia, em nome dos “direitos autorais”, as editoras impetrarão mandados extrajudiciais proibindo os empréstimos de livros dos Autores espirituais, contidos nas bibliotecas dos Centros Espíritas?
É evidente que a divulgação da Doutrina Espírita deve ser feita em total acatamento às leis do País. Contudo, urge ponderar que a Lei sobre os “Direitos Autorais” foi promulgada em 1998, ou seja, está desatualizada.(1) Destaque-se também que na época da publicação da Lei, a amplitude do mundo cibernético não era satisfatoriamente conhecida.
É urgente reconhecer que o mundo virtual tem sido admirável veículo de disseminação dos conteúdos revelados pelo mundo espiritual. Além disso, tem facilitado a democratização da apropriação do conhecimento espírita e a inserção social dos espíritas assalariados. Portanto é inaceitável a proibição das reproduções de livros espíritas pela Internet para fins específicos de pesquisa. A Terceira Revelação não pode demorar-se à mercê dos avarentos e nem dos truanescos interesses do mundo material.
Sem ferir os princípios da ética e do respeito aos “direitos” das editoras, cremos que tais comerciantes de livros deveriam estimular e apoiar os divulgadores dos portais (bibliotecas espíritas virtuais) para o exercício do pleno direito da divulgação gratuita dos princípios doutrinários. Até porque, inevitavelmente diversas obras já foram e continuarão sendo digitalizadas e publicadas pelas redes sociais, e se encontram atualmente dispersas e disponíveis através da rede mundial de computadores, sendo inexecutável o controle jurídico desse cenário.
Em que pese existirem muitos espíritas excluídos do ambiente virtual, sobretudo aqueles mais pobres, que não possuem computador / internet, e os menos afeitos às tecnologias novas, a Doutrina dos Espíritos tem um colossal papel social e em tempo de Internet é um absurdo a exclusão das leituras virtuais gratuitas para um enorme número de espíritas que não podem comprar livros psicografados caros.
Chico Xavier teria se locupletado se se atrevesse a vender os direitos autorais dos mais de 400 livros que psicografou. Porém, cônscio de que os livros não lhe pertenciam, já que procediam de autores espirituais, cedeu de boa fé todos os direitos autorais para algumas privilegiadas editoras que atualmente vendem e (re)vendem, editam e (re)editam as obras psicografadas. O médium de Uberaba doou os direitos autorais convicto de que suas psicografias jamais seriam minas de dinheiro. Em boa lógica! As obras cedidas não podem ser convertidas em lavras de ouro para garimpeiros cobiçosos.
Os Espíritos e o médium de Uberaba ansiavam que todas as pessoas indistintamente pudessem ter acesso aos livros cedidos; porém, a voracidade pelo lucro através da monopolização editorial e a majoração de preço das obras psicografadas tem excluído os menos favorecidos da compra dos livros. É inconcebível e inaceitável surgirem no amanhã editoras espíritas cujos donos venham locupletar-se através do comércio das obras psicografadas (presenteadas de mãos beijadas pelo cândido Chico), visando supostamente a divulgação doutrinária e os “serviços de filantropia”.
A publicação da literatura espírita, mormente as psicografadas, dispensa as incubações de pré-edições com “provocantes” capas luxuosas e conteúdos velhos, com categoria gráfica requintada, impressão “esplendorosa”, forjando-se aspectos visuais de material inédito, como se fosse uma mensagem saída do forno, mirando com essa estratégia majorar o preço. Onde está o limite dessa exploração comercial? E tem mais: cremos que os legítimos livros espíritas, se comercializados, devem ter preços populares, e sempre que possível, distribuídos gratuitamente aos centros espíritas pobres, ou pelo menos cedidos a preços iguais ao custo de sua confecção. Isso é divulgação espírita para todos, com todos e ao alcance de todos, tão desejada por Chico Xavier.
Cremos que o Espiritismo não assenta com interesses comerciais, e a publicação das mensagens do mundo espiritual não pode ser objeto de lucro financeiro, apenas moral. Isso não faz o menor sentido, já que na espiritualidade não precisamos desse artifício do mundo material, que tanto corrompe o homem encarnado.  Entendemos que é uma improbidade falar em direitos autorais quando se trata de uma obra espírita psicografada. O seu autor dispensa este recurso, pois não precisa dele. Seu objetivo são a elevação e a educação, fatores essenciais à nossa evolução, e não há como colocar preço nisso.
Uma instituição espírita, por mais briosa que seja, por mais filantrópica consistam as suas atividades, seu interesse não pode sobrepor aos objetivos doutrinários da divulgação correta e honesta do Espiritismo, sobretudo através da Internet, que pode proporcionar consolação aos corações e mentes atormentados. Entendemos que a Associação de Editoras Espíritas deveria apoiar a divulgação do Livro Espírita por todas as bibliotecas espíritas virtuais idôneas da Internet, até porque se o Apóstolo de Uberaba fosse encarnado atualmente, criaria um site para divulgar e disponibilizar seus livros a todos os leitores, sem necessitar de qualquer editora para desfrutar de lucros financeiros com o produto da sua psicografia.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

Referência:
Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A EUROPA DE “REGRESSO” AO PAGANISMO

 

Margarida Azevedo






Ao remontarmos às origens do Cristianismo, verificamos que a sua arquê subdivide-se em duas grandes vertentes: a judaica e a pagã.






Não foram incompatíveis, ao que parece, para o pensamento de Jesus que, ao remeter a fé para o coração dos homens e das mulheres, colocou o acento tónico da religiosidade no bem fazer e não no bem parecer. Aliás, como todos sabemos, o alvo das suas duras críticas foram os seus correligionários e não os pagãos.



Este facto tem uma infinidade de leituras, as quais já fizeram e farão correr rios de tinta, pois não falta quem sobreponha à mensagem de Jesus aspectos de práticas pagãs, não tão subtis como à primeira vista possam parecer. São disso exemplo as curas e o seu lado milagroso, não histórico portanto.

Por outro lado, com o passar do tempo, a luta contra os Judeus, a proibição da leitura da Bíblia, bem como a rejeição do lado histórico do referido texto colocaram o Cristianismo numa linha de continuidade do Paganismo, e não numa de estudo pluralista típico do tempo de Jesus, quer no aspecto linguístico (diferenças estilísticas, de herança sacerdotal e popular), quer em termos de hermenêutica e exegese. Perante esta situação, o Segundo Testamento foi sempre preferencial uma vez que, ao crer que Jesus é a encarnação de Deus, tudo o que estava para trás era desnecessário. Um erro colossal associado a esta posição foi submeter o Primeiro Testamento ao Segundo. Por outras palavras, todos os profetas anteriores a Jesus, sem excepção, tiveram como missão preparar a vinda do Messias, o Deus-Homem.

Isto significa que os Cristãos não perceberam a dimensão renovadora do Judaísmo proposta por Jesus, o qual, ao pregar a Paz e o Amor, isto é, o Reino de Deus, foi portador de um universo de esperança aos mais deserdados. Não compreendendo esse aspecto de renovação profunda, fizeram dele um deus, e assim cavaram um lamentável fosso entre eles e os Judeus, facto que se tem prolongado até aos nossos dias, infelizmente.

Isto significa que, das três grandes religiões monoteístas ou religiões do Livro, o Cristianismo é aquela que por excelência deu continuidade à vertente pagã, mantendo os mesmos deuses, apenas mudando-lhes os nomes para as suas Entidades. Ser profeta passa a ter estatuto de santo e significado equivalente a deus, agente em determinada área, mas também na dimensão em que cura milagrosamente quando evocado, prevê o futuro, defende máximas morais, numa palavra, influi no modo como socialmente a fé deve manifestar-se, mexendo com materiais tais como a tradição, as crenças, as fórmulas ritualísticas, relações com a Natureza, numa simbólica onde o onírico, o folclore e superstições formam o edifício que lhe conhecemos.

Assim, em boa verdade, para falarmos em regresso teríamos previamente que situar no tempo e no espaço quando é que o Paganismo foi definitivamente erradicado, quando é que os mortos deixaram de ser considerados deuses, quando é que as famílias enlutadas deixaram de lhes fazer pedidos e oferendas em cultos relativamente complexos; quando é que deixaram de ser cultuadas imagens bem como os ritos sacrificiais; seria importante saber quando é que os produtos da Natureza deixaram de ser utilizados como materiais sagrados, fazendo parte de celebrações ligadas aos solstícios, a ritos nupciais, baptismais e fúnebres, entre outros.

Seria importante saber quando é que um Deus sem nome nem figura começou a ser cultuado, em exclusão radical, logo definitiva, de todo o aparato supramencionado. Quando é que se começou a compreender a necessidade de uma ética da libertação, isto é, não agregada a uma confissão política ou religiosa, pondo o acento tónico no homem enquanto o maior valor da Criação e, portanto, tornando desnecessário o simbolismo cultual que o tem subjugado, ao longo dos séculos, a seres semelhantes e até inferiores.

O que verificamos é que dois mil anos de história a pregar o amor a Deus como ser Supremo não conseguiram apagar os traços pagãos da nossa cultura. Muito pelo contrário, eles fizeram desde sempre parte integrante dos cultos cristãos que, como vimos, em vez de lutarem pela sua abolição, assimilaram-nos até aos nossos dias.

Entre as várias leituras que podemos fazer de tal verdade, a primeira terá que ver com a interpretação dos próprios Evangelhos, canónicos e apócrifos que, nos retratos que nos legaram de Jesus, com maiores ou menores nuanças, o apresentam como um pregador que não vai contra as práticas exteriores vigentes dos grupos religiosos de então, mas sim contra as práticas exteriores de de uma falsa religiosidade judaica, que se pretendia impulsionadora de uma vivência de fé num Deus reformador do interior humano, mas que estava a falhar nos seus propósitos. Não foi contra os pagãos que Jesus se insurgiu, mas contra os seus companheiros de culto, supostos sábios e virtuosos, leitores assíduos e comentadores das Escrituras, mas que desconheciam as coisas mais simples do Reino de Deus bem como a que as mesmas aludem.

Porém, esta posição não é justificativa nem desculpabilizante da manutenção, ou mesmo desenvolvimento de cultos pagãos. A sua sobrevivência insere-se, principalmente, com o modo como o Cristianismo foi impondo o Cristo às populações. Estas, apesar do Amor e Paz, do ideal de fraternidade pregado pelos Cristãos, bem como da defesa da igualdade do senhor e do escravo, depressa constataram que embora essa teoria fosse uma agradável novidade, não bastava para anular os seus compromissos para com a Natureza e os mortos. Por outro lado, os cristãos falavam de amor com agressividade.

Assim, sentindo-se impotentes para tão grande empresa, os cristãos não tiveram outro remédio senão deixar que tudo ficasse como está. Isto não significa que, em latência, o problema estivesse esquecido. A Inquisição é disso um bom exemplo. Não conseguindo anular os cultos domésticos, e com eles os meios e técnicas de cura pelo manuseamento de ervas e respectivos dizeres, que mais facilmente correspondiam às necessidades das populações, usou de todos os meios de força que alguma vez se podiam imaginar, ligados a uma fé ou forma de adoração a um deus. Pela via do medo, impuseram um deus do Mal pior que o dos pagãos, envernizado de bondade, e assim tentaram fazê-los perder influência. Por outras palavras, o Deus único tornava-se medonho, intolerante e assassino, mercê de uma proibição radical da leitura da Bíblia e dos próprios evangelhos, mas também movido por uma insaciável vontade de poder e domínio.

Por outras palavras, enquanto as populações conheciam os deuses pagãos, sabiam as liturgias, ofereciam-lhes sacrifícios; se tinham rezas para tudo e mais alguma coisa, desde, por exemplo, da cura para hemorragias e queimaduras a influências espirituais, a nova doutrina era bélica e assustadora e nada prometia de concreto.

A força, no entanto, venceu. Trouxe, porém, alguns benefícios na área da educação e saúde, trouxe grandes pensadores, trouxe bons exemplos de beatitude, porém manteve parte do paganismo. A forma de adoração às Entidades cristãs é em tudo idêntica às dos deuses pagãos, que o digam aqueles que todos os anos cultuam João Baptista, em Portugal, no Baixo-Alentejo, por exemplo.

Podíamos ainda apontar algumas das causas da permanência do Paganismo no Cristianismo à celebérrima conversão de Constantino ao Cristianismo e à consequente subida dos Cristãos ao poder de Roma. No entanto há que perceber que essa conversão não foi radical. Ele não tornou o Paganismo ilegal, a imagem do deus imperial Sol continuou a ser cunhada nas moedas até cerca de 315, e as práticas piedosas pagãs continuaram a atraí-lo. Talvez esse tenha sido um dos motivos porque não impôs uma religião oficial única. Isto é, converter-se não significou anular-se nas suas crenças anteriores, nem significou impor e discriminar.

A descristianização do Cristianismo aparece quando os Cristãos confundem divulgação de uma máxima, confundem o ideal de expansão universalista de Jesus, com ganância e consequente subida ao poder. A partir de então, ao tornar-se a religião oficial de Roma, dá-se início à politização e respectivas formas de imposição de um movimento que começava a tomar forma segundo novos parâmetros.

A anterior divulgação das ideias de Jesus, assente no apostolado e discipulado, depressa foi substituída pela nova forma, a saber, a conquista do poder político. Isto significa que esses homens e essas mulheres converteram-se à Política, criando para tal uma nova religião que lhes favorecesse a subida ao poder.

Como enquadrar a vivência de paz e amor num contexto de interesses políticos, onde predomina a intriga, a desconfiança e, acima de tudo, onde se desenvolve a retórica ou a capacidade de explorar o poder da palavra até ao seu máximo expoente, independentemente do conteúdo?

Não foram os Pagãos que rejeitaram as ideias cristãs, foram os Cristãos que não souberam transportar o estandarte da paz e do amor aos povos. Divulgar um Deus sem nome nem figura não era, nem é, tarefa fácil. Mas fazê-lo num contexto bélico, opressivo, discriminador de homens e mulheres foi o desastre total, tendo em conta que o profeta impulsionador desse movimento reformista nada teve a ver com isso. Nunca um movimento religioso deturpou tanto o seu profeta como o fizeram os Cristãos face a Jesus.

Com tudo isto, o nosso século XXI herda do último quartel do anterior a rejeição do Cristianismo, pelo menos nos moldes em que este continua a prevalecer. A maioria dos cristãos não cumpre as doutrinas das suas igrejas, porque descontextualizadas, desconexas, impraticáveis.

Por outro lado, a dispersão dos cristãos nesta multiplicidade de igrejas tem vindo a contribuir para um empobrecimento do próprio Cristianismo, mostra da sua mesma fraqueza. Elas seriam muito positivas se fossem hermenêuticas, vivências rumo a uma maior especificidade da mensagem de Jesus; se tivessem nascido a partir de uma preocupação em criar novas directivas sociológicas, novos caminhos da fé. Mas não. E ainda que algumas o tivessem feito, depressa caíram em suas bases. O Cristianismo é hoje um movimento confuso, do qual cada uma das suas igrejas reclama a exclusividade da verdade, esquecendo o Cristo. Preconizam ideias exclusivistas e defendem a hipocrisia de um ecumenismo reduzido a alguns, muito poucos.

A Europa, cansada, está a retomar, isto é, a dar progressivamente mais força ao que parecia estar relativamente adormecido: o Paganismo, que regressa poderoso, a todo o vapor. Os cultos do Sol e da Lua, na Europa do Norte, a retoma dos cultos tradicionais às forças da Natureza, com o objectivo de, mal disfarçado, não deixar morrer a tradição ancestral; o culto dos mortos, o simbolismo dos materiais da Natureza, ainda que mal disfarçados com os nomes deturpados de Naturismo ou Naturalismo, Ecologia, e ainda Reciclagem.

Por outro lado, temos a importação de cultos a deuses estrangeiros, a introdução de princípios teolológico-filosóficos orientais, alguns ainda com pouca expressividade. Está a crescer o recurso a técnicas de meditação hindús e taoístas, o Budismo, que já conta com várias associações, os quais surgem mal compreendidos na medida em que todos eles são meios para o indizível libertador, e não formas de manutenção dos homens e mulheres na densidade da matéria.

Com tudo isto, não é Jesus que está a ser rejeitado, mas sim a falsa religião que lhe atribuem, o Cristianismo. Desta forma, porém, Jesus está a tomar o lugar de podium ao lado dos profetas de eleição do Antigo Israel e de todo o mundo, aos quais sempre pertenceu, e perde a cada dia que passa lugar cativo nas catedrais e igrejas. Jesus está a soltar-se, como solto sempre foi, sem tabus nem complexos. Se Gandhi ou Siddharta Gautama são respeitados pelos cristãos, se as orações índias são cada vez mais apreciadas, na mesma leva Jesus vem nesse arrasto.

Outro aspecto de capital importância situa a descristianização da Europa no facto de as suas igrejas serem empresas lucrativas, que não impõem, porque não querem ou porque não sabem, um Deus sem imagem, de Amor e de Paz, nem conseguem dar testemunho de um profeta da tolerância e da universalidade. E aqui regressamos ao Judaísmo. Sem ele, não temos dúvidas, o Cristianismo está definitivamente perdido, uma vez que este precisa de se repensar a si mesmo, reformular-se, donde, sem essas bases, perde definitivamente uma parcela fundamental da sua arquê. Definitivamente os Cristãos têm que compreender o Judaísmo de Jesus. Rejeitar esta alavanca, móbil do edifício cristológico, a saber, o homem é capaz de falar de Deus na medida em que é Homem, isto é, a nossa Humanidade implica Deus na Sua manifestação na nossa História, é cair no vazio e fazer de Jesus um pregador de surdos.

Na ânsia, porém, de saber quem foi o Jesus histórico, nunca foi consumida tanta literatura nessa área, nunca se falou tanto do judeu Jesus, nunca se foi tanto às origens como hoje. Qualquer crente quer saber que Jesus é esse de que tanto se tem falado, o que é que verdadeiramente defendeu, que testemunho veio dar. Já ninguém aceita porque já não suporta um Jesus mágico, fazedor de milagres. Jesus já não é o milagreiro prodigioso, mas um homem que urge conhecer. Milagres qualquer um faz. Importa saber o que tem este Homem de tão especial? Se os Pagãos conheciam os seus deuses, os Cristãos desconhecem Jesus, consequentemente o Deus de que veio dar testemunho.

A nova forma de paganismo, agora nas mãos dos cristãos com Cristo mas sem Cristianismo, de curiosidade insaciável, exige uma vivência em conformidade com a fé, segundo os parâmetros de uma nova religiosidade, o coração dos homens e mulheres.

Se os primeiros cristãos eram judeus e pagãos, e se os seus diferendos giravam em torno da circuncisão, essencialmente, os novos pagãos vindos do Cristianismo, com os seus diferendos, giram em torno de saber quem verdadeiramente foi Jesus. Quando perceberem que a Paz e o Amor são as suas grandes alavancas, quando interiorizarem que pessoa é cada um de nós, e quando perceberem que o Cristo é uma Entidade que veio ao mundo dar esse testemunho para todos, quando perceberem que cada profeta é parte desse movimento, à sua maneira e segundo a sua época e lugar, a sua cultura e a sua história, perceberão que Cristo é uma Entidade colectiva e Jesus um dos seus profetas. Quando isso acontecer reinará o amor entre todos os povos, viveremos uma paz fraterna.

Ora, a Europa não pode rejeitar Deus nem fazê-lo depender de superstições, sejam elas novas ou velhas. Por seu lado, ao receber Jesus e cristãos, de uma forma assumida por ambas as partes, o próprio Paganismo exige uma superação. Já não lhe basta a Natureza na sua dimensão simbólica. Jesus começa a fazer-lhe todo o sentido na medida em que fala ao coração dos homens e das mulheres, elevando o papel da Natureza a outro expoente. Com isso, o Paganismo depressa irá compreender que o coração humano está em permanente mutação evolutiva. Vai notar que há uma fé inefável no Invisível, construção de uma identidade que se renova sem retrocesso. Vai perceber que há uma proposta de modificação afectiva radical dos homens e das mulheres conjuntamente. E isso o Paganismo não é capaz de fazer porque não lhe pertence, vem de um judeu reformador, Jesus. O Paganismo pode ter tido, e tem, a sua influência na construção da nossa relação com o invisível, mas não construiu a noção de transcendência humana baseada no conceito de pessoa.

Não precisamos de sobrecarregar a Natureza de simbolismos, mas de libertar os homens e as mulheres do cárcere da ignorância a que a se têm amarrado. A Natureza não pode mais que Deus.

Desta forma se verifica que se o Cristianismo tem que se repensar, o Paganismo não lhe fica atrás. Inversamente, ele passa por idênticas questões. Pode ser um caminho, mas está longe de ser o caminho porque tal não existe. O que existe são caminhos.

O Paganismo sem a Natureza perderia o Homem, porque não saberia onde situá-lo; o Judaísmo sem História Humana perderia a manifestação de Deus, pois não saberia como falar Dele; o Cristianismo sem a mensagem de Jesus perde a noção de manifestação do Amor Divino, reformulação da nossa fé. Sem a noção dessa realidade, continuaremos a ter um deus carregado de ouro no altar da sumptuosidade, o deus-bezerro da nossa ignorância.

Não temos dúvidas, o regresso ao Paganismo é o espelho das fraquezas do Cristianismo. Mas também espelho da infantilidade de homens e mulheres que temem a sua mesma liberdade, porque não são capazes de assumir a responsabilidade que ela, naturalmente, exige.

Liberdade, é da liberdade da fé que a Europa precisa... e o resto do mundo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

VIOLAÇÃO DO DIREITO AUTORAL???



 EMPRÉSTIMO DE LIVRO PELO CENTRO ESPÍRITA É VIOLAÇÃO DO “DIREITO AUTORAL”?

Em época de Internet é natural o emprego dos recursos virtuais para pesquisas e estudos. Em face disso, a divulgação das ideias espíritas através dos livros para download não pode ficar condicionada à questão dos “direitos autorais”. À semelhança das bibliotecas dos centros espíritas que emprestam livros doutrinários, há sites espíritas com função de bibliotecas virtuais, sem finalidade de lucro financeiro, disponibilizando para download os livros espíritas gratuitos.
Infelizmente esses portais têm esbarrado com a avareza dos negociantes de livros, que sob o jargão da suposta destinação dos lucros financeiros para obras filantrópicas, elevam a bandeira do famoso “direito autoral”, promovendo ameaças ridículas e antidoutrinárias através de intimidações extrajudiciais. (Pasmem!)
O movimento espírita transformou-se num negócio lucrativo, em que o comércio de livros doutrinários, CDs, DVDs (de palestras) reflete a cobiça de vendilhões compulsivos. Existem até atacadistas e distribuidores dos livros espíritas, que passam por vários atravessadores até chegarem às mãos de quem verdadeiramente procura o conhecimento, e por motivo do elevado preço muitas vezes não os pode adquirir. Será que tal sovinice alcançará os Centros Espíritas? Será que algum dia, em nome dos “direitos autorais”, as editoras impetrarão mandados extrajudiciais proibindo os empréstimos de livros dos Autores espirituais, contidos nas bibliotecas dos Centros Espíritas?
É evidente que a divulgação da Doutrina Espírita deve ser feita em total acatamento às leis do País. Contudo, urge ponderar que a Lei sobre os “Direitos Autorais” foi promulgada em 1998, ou seja, está desatualizada.(1) Destaque-se também que na época da publicação da Lei, a amplitude do mundo cibernético não era satisfatoriamente conhecida.
É urgente reconhecer que o mundo virtual tem sido admirável veículo de disseminação dos conteúdos revelados pelo mundo espiritual. Além disso, tem facilitado a democratização da apropriação do conhecimento espírita e a inserção social dos espíritas assalariados. Portanto é inaceitável a proibição das reproduções de livros espíritas pela Internet para fins específicos de pesquisa. A Terceira Revelação não pode demorar-se à mercê dos avarentos e nem dos truanescos interesses do mundo material.
Sem ferir os princípios da ética e do respeito aos “direitos” das editoras, cremos que tais comerciantes de livros deveriam estimular e apoiar os divulgadores dos portais (bibliotecas espíritas virtuais) para o exercício do pleno direito da divulgação gratuita dos princípios doutrinários. Até porque, inevitavelmente diversas obras já foram e continuarão sendo digitalizadas e publicadas pelas redes sociais, e se encontram atualmente dispersas e disponíveis através da rede mundial de computadores, sendo inexecutável o controle jurídico desse cenário.
Em que pese existirem muitos espíritas excluídos do ambiente virtual, sobretudo aqueles mais pobres, que não possuem computador / internet, e os menos afeitos às tecnologias novas, a Doutrina dos Espíritos tem um colossal papel social e em tempo de Internet é um absurdo a exclusão das leituras virtuais gratuitas para um enorme número de espíritas que não podem comprar livros psicografados caros.
Chico Xavier teria se locupletado se se atrevesse a vender os direitos autorais dos mais de 400 livros que psicografou. Porém, cônscio de que os livros não lhe pertenciam, já que procediam de autores espirituais, cedeu de boa fé todos os direitos autorais para algumas privilegiadas editoras que atualmente vendem e (re)vendem, editam e (re)editam as obras psicografadas. O médium de Uberaba doou os direitos autorais convicto de que suas psicografias jamais seriam minas de dinheiro. Em boa lógica! As obras cedidas não podem ser convertidas em lavras de ouro para garimpeiros cobiçosos.
Os Espíritos e o médium de Uberaba ansiavam que todas as pessoas indistintamente pudessem ter acesso aos livros cedidos; porém, a voracidade pelo lucro através da monopolização editorial e a majoração de preço das obras psicografadas tem excluído os menos favorecidos da compra dos livros. É inconcebível e inaceitável surgirem no amanhã editoras espíritas cujos donos venham locupletar-se através do comércio das obras psicografadas (presenteadas de mãos beijadas pelo cândido Chico), visando supostamente a divulgação doutrinária e os “serviços de filantropia”.
A publicação da literatura espírita, mormente as psicografadas, dispensa as incubações de pré-edições com “provocantes” capas luxuosas e conteúdos velhos, com categoria gráfica requintada, impressão “esplendorosa”, forjando-se aspectos visuais de material inédito, como se fosse uma mensagem saída do forno, mirando com essa estratégia majorar o preço. Onde está o limite dessa exploração comercial? E tem mais: cremos que os legítimos livros espíritas, se comercializados, devem ter preços populares, e sempre que possível, distribuídos gratuitamente aos centros espíritas pobres, ou pelo menos cedidos a preços iguais ao custo de sua confecção. Isso é divulgação espírita para todos, com todos e ao alcance de todos, tão desejada por Chico Xavier.
Cremos que o Espiritismo não assenta com interesses comerciais, e a publicação das mensagens do mundo espiritual não pode ser objeto de lucro financeiro, apenas moral. Isso não faz o menor sentido, já que na espiritualidade não precisamos desse artifício do mundo material, que tanto corrompe o homem encarnado.  Entendemos  que é uma improbidade falar em direitos autorais quando se trata de uma obra espírita psicografada. O seu autor dispensa este recurso, pois não precisa dele. Seu objetivo são a elevação e a educação, fatores essenciais à nossa evolução, e não há como colocar preço nisso.
Uma instituição espírita, por mais briosa que seja, por mais filantrópica consistam as suas atividades, seu interesse não pode sobrepor aos objetivos doutrinários da divulgação correta e honesta do Espiritismo, sobretudo através da Internet, que pode proporcionar consolação aos corações e mentes atormentados. Entendemos que a Associação de Editoras Espíritas deveria apoiar a divulgação do Livro Espírita por todas as bibliotecas espíritas virtuais idôneas da Internet, até porque se o Apóstolo de Uberaba fosse encarnado atualmente, criaria um site para divulgar e disponibilizar seus livros a todos os leitores, sem necessitar de qualquer editora para desfrutar de lucros financeiros com o produto da sua psicografia.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net


Referência:
Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A REVISTA AURORA PUBLICOU

ESPIRITISM0 - 155 ANOS (ALGUNS COMENTÁRIOS)


Meio século após a Revolução Francesa, também no palco da grande demanda popular, o professor Rivail, com o aporte dos luminares Benfeitores do além, publicava o livro que apontaria o alvorecer de distinta, porém ampla revolução aos franceses e ao mundo. Desta vez, uma insurreição intrínseca, sucessiva e silenciosa, por consubstanciar na intimidade de cada indivíduo.
Estava sendo oferecido à Humanidade O Livro dos Espíritos, numa clara manhã de primavera sob o pulsar da Estrela Maior, regente do sistema planetário, que alberga a humanidade. Era o dia 18 de abril de 1857, no majestoso Palais Royal, na Rua de Rivoli, Galeria d' Orleans, número 13, exatamente na Livraria E. Dentu, que é publicado o primeiro livro espírita, contendo os excelsos postulados da Terceira Revelação. Ante este espetáculo transcendente surgia a Doutrina Codificada pelo gênio de Lyon, Allan Kardec.
O Livro dos Espíritos é acatado pelos estudiosos como a insigne literatura da mais avançada Filosofia que se tem notícia na História terrestre, pois aborda temas que raiam todas as províncias do conhecimento. Com o notável livro inaugura-se a Era do Espírito e da Fé Racional.
Um dos pontos culminantes da extraordinária obra espírita é o preceito da lei das vidas sucessivas (reencarnação), recomendando abonar a realidade de que não encarnamos uma só vez, mas, tantas e quantas forem necessárias a fim de nos tornarmos seres perfeitos e portadores das mais nobres qualidades intelectuais, morais e espirituais.
Cento e cinquenta e cinco anos se esvaíram, e nesta quadra em que a badalação na mídia, em especial no cinema e na televisão, se destaca como fator de publicidade doutrinária, constituindo em novo campo de disputa no espaço público, o Espiritismo vem alargando sua inserção social entre as camadas de classe sociais de todos os segmentos.
Doutrina de educação moral e de liberdade, propõe a revisão de modelos comportamentais, assumindo-se valores verdadeiros e imorredouros, como humildade, honestidade, dignidade, amor ao próximo e outras virtudes como sendo a fórmula revolucionária de melhoria progressiva da Humanidade.
Nesses 155 anos, quando muitos confrades e instituições se movimentam para comemorações ao longo de 2012, cabível advertir que não bastam as manifestações exteriores alusivas ao Espiritismo e as reuniões de congraçamento de grande número de pessoas. Mais importante de tudo será o alcance em profundidade que essa mensagem de renovação e de esperança se dê em nós, para que movimente-nos a intimidade, impulsionando-nos no dia-a-dia para uma vivência em plena consonância com as proposições de Jesus.
Para esse mister torna-se imperioso mantermos o Espiritismo com a pureza essencial, aos moldes do Cristianismo nascente, sem permitir que sejam incorporadas práticas estranhas ao projeto dos Espíritos Superiores.
A unidade doutrinária foi a única e derradeira divisa de Allan Kardec, por ser a fortaleza intransponível do Espiritismo. Para tornarmos o Espiritismo inexpugnável, urge munir-nos contra a infiltração nas fileiras espíritas de ideologias discutíveis, ligadas a movimentos incompatíveis com os sãos princípios e com as finalidades essenciais da Doutrina. Por essa razão, e por não ser tarefa das mais fáceis, os chamados órgãos “unificadores” ainda encontram extremas dificuldades em realizar o ideal sonhado por Bezerra de Menezes na Pátria do Evangelho. Isto porque as trevas são extremamente poderosas e organizadas, e assestam suas armas para destruir o projeto doutrinário, incrementando, por exemplo, a publicação de livros “espíritas” que jamais deveriam existir nas hostes doutrinárias.
Recordemos que por força dos interesses aristocráticos, financeiros e de poder pessoal, a mensagem do Cristo sofreu no decorrer dos séculos um desgaste irreparável. A atual liderança do Movimento Espírita permanece claudicando, rejeitando e desviando o Projeto do Espiritismo, promovendo pomposos e ricos congressos não GRATUITOS, eventos em que “escritores” insignificantes (mascates de livros), expõem vergonhosamente seus livros via “noites de autógrafos”, mirando projetar seus “nomes” definitivamente na galeria da fama.
Infelizmente alguns líderes espíritas vão adequando a proposta doutrinária às suas ambições e prepotências, corrompendo os textos da codificação, escondendo o tirocínio histórico do mestre lionês e dos seus cooperadores, acarretando para as instituições espíritas comportamentos autoritários, contagiados caprichos e vaidades pessoais. São seres dominados por um dissimulado ranço clerical, ciumentos, intolerantes, e quais vinhos acres e frutos deteriorados, contaminam os mais caros celeiros doutrinários.
Porém, tão estáveis são os fundamentos espíritas que, apesar desses desmandos pessoais, a Doutrina Espírita permanecerá com o homem, sem o homem e apesar do homem. Anos se passaram de convite ao amor e à instrução à luz da Terceira Revelação. Atualmente são milhões, em todos os quadrantes do Globo, aqueles que aceitam a convocação, penetram o conhecimento da vida em sua máxima amplitude e grandeza, e estão trabalhando proficuamente para a grande reforma moral, numa revolução silenciosa, porém constante, rendendo preito de gratidão ao Espiritismo, por tudo o que ele já fez e continua fazendo a cada dia pela humanidade.
Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

domingo, 11 de novembro de 2012

Dom de curar




Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido. (S. MATEUS, cap. X, v. 8.)
“Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido”, diz Jesus a seus discípulos. Com essa recomendação, prescreve que ninguém se faça pagar daquilo por que nada pagou. Ora, o que eles haviam recebido gratuitamente era a faculdade de curar os doentes e de expulsar os demônios, isto é, os maus Espíritos. Esse dom Deus lhes dera gratuitamente, para alívio dos que sofrem e como meio de propagação da fé; Jesus, pois, recomendava-lhes que não fizessem dele objeto de comércio, nem de especulação, nem meio de vida.
 
(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVI, itens 1 e 2.)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

JORNAL O CAMINHO DA LUZ PUBLICA "ADULAÇÕES E ELOGIOS..."


 ADULAÇÕES ELOGIOSAS SÃO PEÇONHAS NA FORMA VERBAL
O que uma pessoa tende a valorizar mais: satisfação sexual, dinheiro, comida, álcool, amigos ou elogios? “Pesquisadores avaliaram os desejos e gostos de alguns estudantes universitários sobre uma série de desejos e gostos e os resultados, para surpresa dos estudiosos, indicaram que os voluntários dão mais valor a um elogio ou uma avaliação positiva do que comer sua comida preferida, satisfazer-se sexualmente, beber, receber o salário do mês e até encontrar um melhor amigo.”(1)
Portanto, embora surpresos, os pesquisadores confirmaram que o desejo de se “sentir valorizado”, através de elogios, triunfa sobre qualquer outra situação prazerosa. Cremos que estamos observando gerações em que uma parcela gigantesca de cidadãos é constituída de adultos condescendentes, imaturos para os obstáculos, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e dotados de uma alucinante certeza de que o mundo lhes deve algo, por isso, exigem ser adulados.
Não há dúvida de que a ausência de palavras e frases motivadoras, cada vez mais incomuns nos ambientes domésticos, prejudica a relação parental. Raramente observam-se muitos homens estimulando com palavras edificantes suas mulheres e vice-versa, não se constata regularmente chefes estimulando com sinceridade o trabalho de seus subordinados, não é muito comum pais e filhos estimulando-se com palavras afetuosas.
Óbvio que o bom profissional, inobstante não almeje, valoriza uma palavra e estímulo , o bom filho gosta de ser reconhecido, o bom pai ou a boa mãe exultam de ser avaliados positivamente, o bom amigo, a boa dona de casa, a mulher que se cuida, o homem que se dedica, enfim, vivemos numa sociedade em que um precisa do outro; é impossível um homem viver sozinho, e as palavras motivadoras (que não pode resvalar para elogios) são a oxigenação de ânimo na vida de qualquer pessoa.
Desde que adentramos nos portais dos ensinos kardecianos, aprendemos que o elogio (ainda que bem intencionado) nos amolece e ilude. E nada existe de mais frágil que uma criatura iludida a seu próprio respeito. É verdade , os Benfeitores nos advertem a fim de que não percamos nossa independência construtiva a troco de considerações humanas (bajulações), posto que a armadilha que pune o animal criminoso é igual à que surpreende o canário negligente.
Até mesmo nos momentos de agruras de alguém, “nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.” (2) Sussurra a prudência cristã que nunca cederíamos campo à vaidade se não vivêssemos reclamando o deletério coquetel da lisonja ao nosso egocentrismo doentio.
Invariavelmente ficamos submissos às injunções sociais quando buscamos aprovação (bajulações) dos outros, “quando permanecemos na posição de permanentes escravos e pedintes do aplauso hipócrita e do verniz, da lisonja, condicionando-nos a viver sem usufruir de liberdade de consciência, submetendo-nos a ser manipulados pelos juízos e opiniões alheias.”(3)
O elogio nos arremessa à presunção, a afetação nos remete à vaidade. Nesse insofreável desejo de chamar a atenção alheia, queremos ser
aplaudidos e reverenciados perante os outros. Atualmente adota-se assustadoramente o hábito dos dirigentes incautos de elogiar e exaltar oradores em público. Essas pompas e grandiloquências, observadas à volta de alguns oradores famosos, é bem a repetição dos faustos do cristianismo sem o Cristo.
A rigor, se alguém vem a público dizer que um orador é "maravilhoso", "fantástico", "brilhante", "inesquecível", "insubstituível" e outras bajulices, logicamente está elogiando e jamais estimulando ou motivando tal “homenageado”.
Por essas razões, importa vigiarmos as próprias manifestações, não nos julgando
indispensáveis e preferindo a autocrítica ao auto-elogio, recordando que o exemplo da humildade é a maior força para a nossa transformação moral. “Toda presunção evidencia afastamento do Evangelho.” (4)
É imprescindível não elogiar (adular)  as pessoas que estejam agindo de conformidade com as nossas conveniências, para não lhes criar empecilhos à caminhada enobrecedora, embora nos constitua dever prestar-lhes assistência e carinho para que mais se agigante nas boas obras. O elogio (adulação) é peçonha em forma verbal. Por essa razão, não esqueçamos que “ainda quando provenha de círculos bem-intencionados, urge recusar o tóxico da lisonja, pois no rastro do orgulho, segue a ruína.” (5)


Jorge Hessen
http://jorgehessen.net


Referências bibliográficas:

(1)‘Disponível no site http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/o-que-a-gente-valoriza-mais-sexo-dinheiro-comida-alcool-amigos-ou-elogios acessado em 24/03/2011
(2) Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000,  Cap 37
(3) Xavier, Francisco Cândido. Saudação do Natal – Mensagem “Trilogia da vida”, ditado pelo  espírito Cornélio Pires , SP: Editora CEU, 1996
(4) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1972,  Cap 18
(5) Idem cap 20