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sexta-feira, 30 de março de 2012

SERÁ NECESSÁRIO REESCREVER A CODIFICAÇÃO?

Simão Pedro de Lima
/Patrocínio/MG



 
Há, no movimento espírita, por parte de algumas pessoas, uma ideia de se atualizar o conteúdo das obras da codificação. Dizem que Kardec estaria, em parte, ultrapassado, principalmente levandose em conta as novas conquistas da ciência. Há aqueles que dizem ser necessário reescrever a codificação ou, então, fazer nova edição “revista, corrigida e atualizada”, ajustando as respostas ao conhecimento científico moderno. Também há uma ideia de se fazer novas perguntas aos Espíritos visando rever certas respostas tidas como erradas. Isso é necessário? Não seria um desvirtuamento?
Salvo melhor entendimento de minha parte, penso ser um assunto que demanda certo cuidado para dele se tratar. Exponho minha opinião, respeitando a quem pensa de maneira diferente e sujeitandome a ser corrigido se, porventura, incorrer em erro de fundamentação, de conteúdo ou de argumentação.
No livro Eclesiastes, no Velho Testamento, está escrito, no capítulo 3 que “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. Pode-se dizer que cada escrito guarda relação com o conhecimento do seu tempo. Há elementos que, na época da codificação, eram vistos sob um prisma diferente do que hoje se vê. Os Espíritos passavam informações em conformidade com o conhecimento de então, tal qual o Cristo o fez, conforme ele mesmo nos disse: “muitas coisas eu ainda vos tenho que dizer, mas vós não podeis suportá- las agora...”. (Jo 16: 12).
O conhecimento científico do século XIX estava se desabrochando e descobertas várias surgiram depois, principalmente no campo da física, química e biologia. A teoria de Darwin começava se esboçar, conceitos astronômicos modernos ainda estavam em embrião e por aí vai... É natural, então, que Allan Kardec ficasse inserido nesse contexto e que seus comentários guardassem relação com a época. Depois dele, no tempo imediato, outros pensadores avançaram no conhecimento científico-filosófico-espírita, dentre eles Leon Denis, Camille Flammarion, Ernesto Bozzano, Alexandre Aksakov, Gabriel Delanne, Charles Richet, Cesare Lombroso, Willian Crookes e outros.
No tempo presente e passado próximo, tivemos ainda, Hernani Guimarães Andrade, Herculano Pires, Hermínio Miranda, Carlos Imbassahy, Deolino Amorim, Jorge Andréa, Sérgio Felipe, dentre outros que, em diversos campos, deram sua contribuição para o esclarecimento dos fatos espíritas. Tivemos, também, testemunhos práticos da verdade espírita nas pessoas de Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo e Chico Xavier. Da espiritualidade, por mãos laboriosas, Espíritos vários trouxeram-nos e, ainda nos trazem, informações preciosas, dentre eles, Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos, Joanna de Ângelis, Vianna de Carvalho, Victor Hugo, Manoel Philomeno de Miranda e vários outros.
Todos esses nomes contribuíram para a “atualização do pensamento espírita”, sem necessitar fazer mudanças nas obras trazidas por Allan Kardec. Nenhum deles solicitou novas edições ou mesmo notas explicativas em rodapés de páginas. Nem por isso deixaram de nos trazer novos ensinos (complementares ou mesmo atualizações).
Temos obras valiosas da filosofia, que foram escritas há séculos, seguindo padrões de cada época e nem por isso vemos pessoas querendo alterá- las. Protágoras, Tales, Demóstenes, Pitágoras e outros filósofos jônicos, eleáticos, atomistas buscavam o elemento primordial; e, todos, fizeram seus ensaios quanto a esse elemento, no entanto ninguém reescreve suas obras para mudar esses pontos. Sócrates, Platão, Pitágoras e outros não tiveram suas obras originais revisadas. De pintores famosos do renascimento, tivemos quadros inacabados, mas que  ninguém, depois deles, se propôs a acabá-los. Em que pesem os “erros” conceituais nas obras de Newton, Galileu, Copérnico, Keppler, Falópio, Descartes, Kant, Nitch, Hegel; nenhum deles teve suas obras alteradas... Outras as atualizaram sem, com isso, precisar reescrevê-las.
Os evangelhos... quantos exegetas e hermeneutas, além de historiadores, apontaram “falhas” de estrutura ou construção historiográfica? Continuam, os evangelhos, intactos, servindo-nos de fonte inesgotável de bons ensinos. Apóstolos, dentre eles Saulo Paulo de João Ferreira de Almeida e, com isso, acabaram com a profundidade semântica do texto). Que novos conhecimentos sejam trazidos a lume; que novas obras, bem fundamentadas no conhecimento científico-filosófico, surjam; que congressos e mais congressos apresentem experimentos científicos, mas que tudo isso seja publicado como obra nova, tal qual tivemos a obra de André Luiz, que nos descortinou o mundo espiritual sem, com isso, “alterar” nada nas obras kardecianas. Talvez seja vaidade intelectual naqueles que se sentem “ridicularizados” com as questões contidas nos livros kardecianos e que hoje não se coadunam com os novos conhecimentos científicos. Isso não diminui, não enfraquece, não ridiculariza a obra primeira, pelo contrário, dá-nos a oportunidade de mostrar que não há cristalização no pensamento espírita, pois obras novas, sérias, se inserem no conjunto espiritista, sem que, com isso, desrespeitem a originalidade das obras primeiras, kardecianas. A base é o ensino trazido a Kardec e por Kardec. Os subsídios ou “complementos” serão frutos de novas e reais descobertas. Aprendamos mais com as obras novas que se mostrarem fundamentadas na boa lógica e nas reais descobertas científicas, sem, com isso, ser necessário mudar, revisar ou atualizar o conteúdo dasobras kardecianas. Tarso, escreveram suas epístolas, suas orientações, trazendo alguns pontos que os evangelhos não abordaram, mas não se propuseram a contraditar nada do que já estava escrito. No Atos dos Apóstolos há os ágrafos, que são passagens sobre Jesus, que não se encontram nos evangelhos. Os escritores da fértil época do Cristianismo nascente, dentre eles Orígenes, Atanásio, Antão, Agostinho e Crisóstemo deixaram bons escritos, bases interessantes para a exegese bíblica e, depois deles, mesmo os reformadores (aqui incluo todos os pensadores, quer protestantes ou não) não reescreveram suas obras, apenas deram seguimento ao conteúdo sem, com isso, fazerem ilações quanto a estarem certas ou erradas, atualizadas ou não.
Assim, não vejo o porquê de tanta celeuma. Deixemos a obra kardeciana intacta, da forma que foi escrita, sem notas de rodapé ou reedições “revistas e atualizadas”. (Fizeram isso, ou seja, atualizaram e revisaram a tradução bíblica de João Ferreira de Almeida e, com isso, acabaram com a profundidade semântica do texto). Que novos conhecimentos sejam trazidos a lume; que novas obras, bem fundamentadas no conhecimento científico-filosófico, surjam; que congressos e mais congressos apresentem experimentos científicos, mas que tudo isso seja publicado como obra nova, tal qual tivemos a obra de André Luiz, que nos descortinou o mundo espiritual sem, com isso, “alterar” nada nas obras kardecianas.
Talvez seja vaidade intelectual naqueles que se sentem “ridicularizados” com as questões contidas nos livros kardecianos e que hoje não se coadunam com os novos conhecimentos científicos. Isso não diminui, não enfraquece, não ridiculariza a obra primeira, pelo contrário, dá-nos a oportunidade de mostrar que não há cristalização no pensamento espírita, pois obras novas, sérias, se inserem no conjunto espiritista, sem que, com isso, desrespeitem a  originalidade das obras primeiras, kardecianas.
A base é o ensino trazido a Kardec e por Kardec. Os subsídios ou “complementos” serão frutos de novas e reais descobertas. Aprendamos mais com as obras novas que se mostrarem fundamentadas na boa lógica e nas reais descobertas científicas, sem, com isso, ser necessário mudar, revisar ou atualizar o conteúdo das obras kardecianas.



1 Comentários:

  • Em relação às materializações de Uberaba, o escrito do jornalista pouco acrescenta ao que já se sabe do caso. Talvez se lhe possa dar um desconto, visto que o real intento foi clarificar questões variadas, não um artigo tratando especificamente das peripécias mediúnicas de Otília Diogo. Considerando que promete futuramente falar dos “bastidores das materializações”, pode ser que amplie a abordagem, de modo permitir melhor avaliação.

    De qualquer modo, seria ilustrativo comentar trechos que demonstram ter o autor caido em falácias (se intencionalmente, não sabemos). A grande falácia nesse episódio acha-se na tentativa de transformar a evidente fraude otiliana em evento corroborador da carnização de entidades espirituais. Passados quase cinquenta anos do acontecido, e mesmo tendo sido Otília, em 1970, flagrada com os simulacros materializativos, Luciano não arreda pé de considerar a mulher autêntica médium de efeitos físicos.

    Não é necessário arrazoado complexo para demonstrar a notável fragilidade da apologia sobre essa modalidade de manifestação mediúnica. Esta se denota basicamente no método de defesa adotado pelos respeitáveis kardecistas, que se resume a apologias retóricas. Nenhum experimento firme e inconteste se conhece, que demonstre a realidade de seres espírituais formarem para si corpos igualzinhos aos nossos. Aliás, todos os desafios para que se realizassem novas testagens com Otília foram relegados ao silêncio. Os advogados optaram pelo uso de discursos relativamente bem elaborados, em vez de permitir examinações com controles e fiscalização condizentes.

    Destacamos algumas fragilidades no arrazoado de Luciano:

    - não esclarece como pode a freira levar a termo gravidez cinquentenária (certamente sem assistência adequada, visto ter que manter o fato em segredo). Lembramos que a irmã Josefa teria parido aos 51 anos;
    - não informa por que a freira se dizia de origem alemã quando na verdade era italiana;
    - em consequência: faltou elucidar o motivo de uma italiana falar com sotaque alemão;
    - por que a freira informou seu próprio nome erradamente;
    - por que os apologistas de Otília insistiram em debater, em vez de promover novas sessões, com protocolo investigativo seguro, o que dirimiria quaisquer dúvidas?

    Exemplo de alegação falaciosa encontrada no artigo, Luciano afirma:

    “logo tínhamos esse novo laudo em nosso poder. Datado de 29 de janeiro de 1964 e assinado pelo perito Carlos Petit [...] rejeitou qualquer tipo de fraude nas fotos apresentadas a exame, CONTESTANDO PONTO POR PONTO os itens do perito Carlos Éboli. ARRASADOR, destruía, enfim, todas as conclusões do perito carioca.”

    O parecer de Petit não poderia contestar o laudo de Éboli, visto ter o técnico paulista efetuado o exame de outras fotos que não as analisadas por Carlos Éboli, além de ter seguido roteiro avaliativo distinto do do perito carioca.

    Saudações

    Por Blogger Montalvão, às 25 de abril de 2012 às 11:58  

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