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domingo, 18 de dezembro de 2011

GUINNESS BOOK, OS RECORDES DA ESTUPIDEZ


Penso que é dever de todos nós enaltecer os feitos espectaculares de todos aqueles que, mediante esforços quantas vezes sobre humanos, conseguiram enaltecer a condição humana. Só para citar alguns, é digno de mencionar o trabalho dos atletas nos Jogos Olímpicos e nos meetings, as descobertas científicas em todas as áreas, a coragem de alguns políticos em denunciar irregularidades do sistema político-financeiro, por vezes com o risco da própria vida, etc. Que haja um livro que os recorde, penso que é louvável, pois é a melhor forma de lhes prestar homenagem.

Porém, sem qualquer respeito pela dignidade humana, e minimizando os anseios de realização pessoal e colectiva de comunidades e mesmo de países que se sentem inferiorizados perante outros, o Guiness tem vindo a representar a obra literária dos recordes de nada.

Temos o recorde da maior feijoada do mundo, a maior pirâmide humana, o maior agrupamento de Pais-Natal, temos o maior arroto, quem tem as pernas mais compridas, quem consegue vestir mais de 180 t-shirts...

As televisões dão a maior cobertura possível, com tempos de antena em horário nobre, aliciam e, com toda a alegria do mundo, iludem o auditório mais frágil com as grandes proezas que ficam para a posteridade.

Não sendo capazes de ficar célebres por outros feitos, dão-se prémios a quem consegue comer mais hamburguers, ou beber mais água no menor espaço de tempo possível. A saúde e o bem-estar são de outra estirpe e, para ganhar nada, apenas alimentar a tola e ridícula vaidade, fazem-se concursos de estupidez.

Penso que é de mau gosto que a menina com a voz mais cristalina esteja ao mesmo nível de comparação com o maior cócó do mundo.

Com estas comparações perde a componente cívica, de forma que os “suficientes” ou razoáveis sentem-se minimizados por não conseguirem os níveis científicos ou atléticos de outros cidadãos, sentindo-se apagados por não serem campeões de alguma coisa. Há que perceber que todos possuímos um lado bom, todas as profissões são merecedoras de respeito, pois todas são interessantes, e que tudo e todos têm o seu devido lugar.

O varredor de ruas contribui de forma espectacular para o nosso bem-estar. As ruas sujas são fonte de epidemias. O melhor seria não as sujar, ficando o varredor com a incumbência de limpar apenas a sujidade provocada pelas nuances da natureza.

A mãe que é doméstica e toma conta da casa e dos filhos é uma victoriosa; o trabalhador que sustenta a casa é um herói; cuidar de um idoso acamado ou de um filho deficiente profundo é sobre-humano. Estes são os guinnesses pessoais de milhões de pessoas que ficam no anonimato, mas que nem por isso são menos importantes.

Lutar contra as dificuldades da vida, as injustiças, as descriminações, seja em que área for, é trabalho de todos. Fazê-lo é criar condições para nós e para os outros, nomeadamente para os tais que fazem os prodígios científicos, desportivos...

Em suma, todos precisamos de todos, todos somos devedores para com todos, mas todos devemos combater com todas as forças o triunfo da estupidez. Só pela educação conseguiremos perceber que, por mais fértil que a terra seja, sem o agricultor não há legumes nem frutas à mesa, por mais competentes que sejam os engenheiros e os arquitectos, sem serventes não há prédios e morávamos na rua, e por mais sábio que seja o professor, só com o apoio dos auxiliares de educação é que a escola funciona.

Cabe a cada um de nós a tarefa de combater as descriminações, as intolerâncias e a violência de toda a ordem, mas também a agressividade geradora de mal-estar, de doenças sociais sem o mínimo de sentido. Esta é também uma tarefa das religiões e de todos os grupos espirituais, ou seja, antes de ir pôr a esmola na caixa, há que reconciliar-se primeiro com o seu irmão. Amen.

Margarida Azevedo

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