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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Rituais e fantasias de Joaquim



Wellington Balbo – Bauru - SP

Uma vez por semana Joaquim freqüenta algum dos diversos centros espíritas que existem pelas cidades por onde passa, já que é vendedor e viaja muito, não conseguindo, portanto, comparecer com regularidade a nenhuma casa espírita em particular. Conforme aprendera ainda criança ouvindo conversa dos adultos, era preciso tomar passe semanalmente para que sua vida, como diz o senso comum, “não ande para trás”. Condicionado a essa regra, Joaquim comparece religiosamente a uma dessas casas espíritas espalhadas pelos rincões de nosso Brasil trajando sempre camisa branca e calça preta, porquanto também aprendera que usar a mesma roupa traz sorte e ajuda os bons espíritos identificá-lo em meio a multidão de pessoas. Aliás, outro ritual curioso que Joaquim também aprendeu é o de fazer o sinal da cruz ao entrar em um centro espírita. Um dia, porém, ao entrar em uma casa espírita com seu uniforme oficial e fazer o sinal da cruz Joaquim deparou-se com um dos dirigentes da instituição que curioso passou a observá-lo.

Percebeu o dirigente que Joaquim fazia gestos em sua oração, ajoelhava-se e levantava-se numa espécie de dança esquisita. O dirigente aguardou que Joaquim terminasse todo seu ritual para então dirigir-se até ele, saudando-o:

- Como vai, meu amigo? Meu nome é Juarez, sou colaborador desta casa há alguns anos. É a primeira vez que comparece aqui?

- Ah, Sr. Juarez, é a primeira vez que venho aqui. Meu nome é Joaquim e sou vendedor e por isso viajo muito, mas em todas as cidades que visito não deixo de ir ao centro de camisa branca e calça preta, além de dançar em homenagem aos espíritos e etc.

Em poucos minutos de conversa o dirigente constatou que Joaquim, não obstante comparecer aos centros para tomar passe, nada sabia sobre a doutrina codificada por Kardec.

O dirigente de forma tranqüila, percebendo os equívocos de Joaquim, ensinou-lhe:

- Meu amigo, o Espiritismo não comporta rituais de qualquer gênero ou espécie. Não precisa vir ao centro de uniforme, dançar para homenagear os espíritos e tampouco fazer gestos em suas orações.

- Desculpe-me, Sr. Juarez, mas nunca me disseram nada sobre isso...

- Estude então as obras de Kardec e observe que ele dispensava todo e qualquer ritual, e desta forma, sem qualquer ritualismo é que foi construído esse nobre edifício chamado Doutrina Espírita. Reflita na idéia de dispensar o uniforme e deixar de lado as danças para os espíritos e demais sinais.

- E quanto a oração, como irei orar sem fazer o sinal da cruz?

- Ore com o coração, sem condicionamentos e regras. Orar é falar com Deus, portanto, esqueça do exterior e foque o interior, a essência. Bem, depois conversaremos mais. Ah, ia me esquecendo, o passe é importante, mas não deixe também de escutar a palestra, pois ela contém valiosos ensinamentos, e com esses apontamentos não será difícil compreender tudo o que eu lhe disse a pouco.

E despediu-se o dirigente deixando Joaquim imerso em algumas reflexões.

A história acima pode soar fantasiosa em demasia, fruto da imaginação do autor, contudo, não deixa de ser alerta para todos aqueles que dirigem e ou coordenam atividades na casa espírita: Estejam atentos para esclarecer freqüentadores assíduos ou esporádicos quanto as diretrizes do Espiritismo que dispensa todo e qualquer ritual, exigindo apenas a presença do sentimento verdadeiro nas atitudes e pensamentos.

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