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terça-feira, 30 de novembro de 2010

TÉCNICAS PARA NOTÍCIAS DE DESENCARNADOS? LEMBREMOS QUE "O TELEFONE TOCA DE LÁ PARA CÁ”.

TÉCNICAS PARA NOTÍCIAS DE DESENCARNADOS? LEMBREMOS QUE "O TELEFONE TOCA DE LÁ PARA CÁ”.

Kardec comenta na edição de dezembro da Revista Espírita de 1863 sobre as etapas do projeto Espírita na Terra. Cita “a primeira etapa como o da curiosidade (mesas girantes), a segunda etapa o filosófico (com a publicação de O Livro dos Espíritos)”; a terceira etapa Kardec nominou de “período da luta”; o quarto período, o do Evangelho (para alguns começou com Bezerra de Menezes e continuada por Chico Xavier na Pátria do Evangelho); a quinta etapa seria o transitório, e finalmente a sexta etapa (transformação social).”(1)
Considerando as graduais etapas do projeto espírita na Terra, será que atualmente deveríamos promover (como ocorreu durante a codificação), um diálogo escancarado e direto com os recém-desencarnados, visando obter notícias dos mesmos para seus familiares que aqui ficaram? Quantas pessoas procuram grupos espíritas querendo notícias dos entes que “partiram”? Será que a finalidade da mediunidade é essa?
Há “espíritas” (pasmem!) que “orientam” médiuns através de cursos “avançados” ensinando algum tipo de “técnica” para “receberem recém-desencarnados”. Tais “mestres de Espiritismo” afirmam com jactância que alguns jovens e outros “formandos” estarão dentro em breve prestando [através do mediunismo] os “serviços” de consolação para os parentes que por aqui ficaram!?!?!?... acredite se quiser!!!!
O assunto é grave e merece profundas reflexões. Somos dos que desaconselhamos o uso de evocação dos desencarnados, sobretudo se o médium estiver voltado para a recepção de notícias póstumas de sofredores (normalmente recém-desligados do físico), pois em todos os casos a espontaneidade é essencial para a credibilidade das mensagens.
Chico Xavier nos deixa uma importante lição neste sentido. Recordemos que ante a sua especialíssima tarefa de psicografia ele era alvo de inúmeros pedidos de familiares aflitos para receber notícias dos parentes falecidos. O Médium de Uberaba sabiamente evitava levar nomes para serem evocados para essa finalidade, e se justificava dizendo: "O TELEFONE TOCA DE LÁ PARA CÁ”.
Até mesmo nas mensagens instrutivas não há a necessidade de se fazer uma evocação direta, pois podemos receber mensagens instrutivas de qualquer espírito evoluído que estiver trabalhando conosco. O mais importante neste caso é o exame racional e lógico da mensagem recebida, conforme ensina Kardec, para se evitar a mistificação.
O extraordinário Espírito Emmanuel, após ser indagado se era aconselhável a evocação direta de determinados espíritos, esclareceu: “Não somos dos que aconselham a evocação direta e pessoal, EM CASO ALGUM. Se essa evocação é passível de êxito, sua exequibilidade somente pode ser examinada no plano espiritual. Daí a necessidade de sermos espontâneos, porquanto, no complexo dos fenômenos espiríticos. A solução de muitas incógnitas espera o avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O estudioso bem-intencionado, portanto, deve pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa, considerando que a esfera espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá os seus esforços de acordo com a necessidade de sua posição evolutiva e segundo o merecimento do seu coração.”(2) (grifamos)
Insatisfeitos com essas sensatas orientações, surgem os kardequeólogos de plantão, fazendo referência ao interesse do mestre lionês pela evocação direta. Entretanto, “precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidades e méritos ainda distantes da esfera de atividade de aprendizes comuns” (3)tais quais somos.
Para os phd’s de Kardec (os anti-emmanuelinos) informamos que o mentor de Chico Xavier explica: “Qualquer comunicado com o invisível deve ser espontâneo, e o espiritista cristão deve encontrar na sua fé o mais alto recurso de cessação do egoísmo humano, ponderando QUANTO À NECESSIDADE DE REPOUSO DAQUELES A QUEM AMOU, E ESPERANDO A SUA PALAVRA DIRETA, QUANDO E COMO JULGUEM CONVENIENTE E OPORTUNO OS MENTORES ESPIRITUAIS.”(4)
Para o sábio de Lyon, “frequentemente, as evocações oferecem mais dificuldades aos médiuns do que os ditados espontâneos, sobretudo quando se objetiva obter dos Espíritos respostas precisas a questões circunstanciadas.”(5) Os médiuns – lembra ainda Kardec – “são geralmente mais procurados para evocações de caráter particular do que para comunicações de interesse geral. ELES NÃO DEVERIAM, PORÉM, ACEDER A TAIS PEDIDOS, senão com muita reserva, quando feitos por pessoas de cuja sinceridade estejam seguros. Além disso, é preciso evitar sua participação nas evocações movidas por simples curiosidade ou interesse, sem intenção séria por parte do evocador, afastando-se de tudo o que possa transformá-los em agentes de consultas, em ledores da buena dicha.”(6) (grifamos)
Evocar ou não um Espírito é questão que precisa, portanto, ser bem avaliada, tendo sempre em mente a finalidade a que ela se presta. No livro Conduta Espírita, cap. 25, André Luiz reafirmou a proposta feita por Emmanuel, recomendando-nos seja “abolida, em nosso meio, a prática da evocação nominal dos espíritos.”(7)
Não tendo havido informações novas, provindas de fontes consagradas, não concebemos por que a recomendação de Emmanuel, reafirmada por André Luiz, deva ser ignorada. A comunicação com nossos entes queridos efetua-se por iniciativa deles. A frase "O TELEFONEMA VEM DO LADO DE LÁ", dita por Chico Xavier, diz bem como o assunto deve ser encarado em qualquer contexto do debate.
Jorge Hessen

Referência bibliográfica:

(1) Kardec, Allan. Revista Espírita de 1863, Edicel, 1997
(2) Xavier, Francisco Cândido. O consolador , ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, Questão 369
(3) idem , Questão 380
(4) idem, idem
(5) Disponível em <http://www.oconsolador.com.br/ano2/101/esde.html>acessado em 22 de novembro de 2010
(6) idem
(7) Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. Conduta Espírita , ditado pelo espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

DESONESTIDADE E ESPIRITISMO NÃO SE COADUNAM




Quando o tema diz respeito à HONESTIDADE de dirigentes e trabalhadores das hostes cristãs, o assunto é muito preocupante, ante as evidências que identificamos aqui ou alhures. Uma delas, das mais dramáticas, refere-se a líderes religiosos que adquirem muitos bens para si a custa do dinheiro arrecadado dos frequentadores.
O que vamos narrar (omitindo nomes de instituição e de pessoas, obviamente) são fatos verídicos que estão veiculados na imprensa mineira desta semana. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) condenou por estelionato e formação de quadrilha os réus envolvidos no processo de uma instituição “kardecista”. O grupo é acusado de extorquir os frequentadores, induzindo-os a pagar por serviços em troca de ajuda espiritual.
Na sentença, o juiz aplicou a pena de três anos de reclusão por estelionato e de dois anos por formação de quadrilha à presidente, considerada responsável pela atividade na instituição.
O fato é o seguinte: em 2007, os promotores de Justiça apresentaram a denúncia contra os dirigentes do centro em questão. De acordo com o que foi apurado por eles, as vítimas faziam uma espécie de “consulta” com a presidente da casa. Ela então determinava o encaminhamento da pessoa para um “tratamento” composto de passes e participação em campanhas assistenciais diversas pelo período aproximado de nove a dez meses.
Ao finalizar a primeira parte do “tratamento”, as pessoas permaneciam na instituição na condição de membros voluntários ou efetivos. Para isso, tinham de participar de treinamento.
Na lista de “tratamentos” oferecidos pela instituição consta o “pó da vida” vendido por R$ 10; o “chá da família”, por R$ 10; feijoada (a ingestão do alimento ajudava no funcionamento do intestino e na saúde como um todo), também por R$ 10; seresta dançante (auxiliava no equilíbrio da área emocional) por R$ 10; aquisição de um “Kit Limpeza” (cujos produtos magnetizavam e livravam a casa de maus espíritos) por R$ 15; e até um salão de beleza em que a utilização de seus serviços ajudava a fortalecer as unhas e os cabelos, (aumentando o campo magnético), o preço varia entre R$ 20 e R$ 40.
Não sou o primeiro, o único, ou o último a divulgar esse cortejo de vícios, mas a mídia, frequentemente, anuncia e expõe tais fatos, francamente, abomináveis e com grande repercussão negativa. É indispensável haver transparência na prestação de contas, mensalmente, com os contribuintes da casa espírita.
Cremos que é simples obrigação afixar, no 'quadro de avisos' ao público, a comprovação da correta aplicação dos recursos recebidos. Os dirigentes, que assim procedem, vêem patenteadas a credibilidade da instituição que administram e a pureza de suas intenções. Por outro lado, evitam-se rumores, do tipo: -"fulano(a) está cada vez mais rico(a)"; -"sicrano(a) construiu uma mansão com o dinheiro doado ao centro" e, -"beltrano(a) comprou um carro do ano, caríssimo", olhem só pra isso!
Será que os meios justificam os fins, quando os dirigentes são omissos em relação à prestação de contas? Se não devem, não têm o que temer, não é verdade? É evidente que ficamos atônitos e envergonhados quando sabemos, pela imprensa, que algumas instituições "filantrópicas" desviam recursos, emitem recibos forjados de falsas doações, etc.. Há centros que até dão uma 'ajudazinha' aos confrades, driblando o Imposto de Renda retido na Fonte... imaginem! Instituições outras recebem, à guisa de doações, roupas, calçados, alimentos, eletrodomésticos, etc., e os dirigentes se apropriam deles, com a maior naturalidade.
Recordamos , ainda, que os "proprietários" de alguns centros - centros esses onde os donos se eternizam nas alternâncias da direção -, na ocasião que ouviram a nossa palestra sobre o teminha instigante, fizeram um grande barulho na consciência, ficaram alvoroçados, realizaram reuniões solenes e privadas, é claro, para avaliarem a obsessão que tomou conta do orador. Ah! Ele está sendo muito influenciado pelas trevas, pois ele não está respeitando os que buscam o centro espírita pela primeira vez, ao dar tanta ênfase à desonestidade. Oh! Podem pensar até que a mensagem é para a nossa diretoria.
As falanges das trevas se organizam para obstruir muitos projetos cristãos. Os obsessores são inteligentes, organizados e vão dando um passo de cada vez, pois conhecem muito bem nossos pontos vulneráveis. Nesse caso, não cremos que advertir sobre a obrigatoriedade da conduta honesta seja artimanha das trevas, mas sim que o ideal espírita seja cada vez mais ético, transparente, consoante os preceitos evangélicos.

Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ESPÍRITAS ESCRAVIZADOS A SÍMBOLOS, MITOS E FANTASIAS?



Muitas Instituições Espíritas mantêm práticas e/ou discussões estéreis em torno de assuntos como: “crianças índigos”, “Chico é ou não é Kardec?”, “ubandismos”, “ramatisismos”, “apometria”, “cromoterapias”, “militância na política partidária”, “desobsessão por corrente magnética (com direito a choques anímicos)" e tantos outros inusitados "ismos" e "pias". Alguns confrades creêm que a apometria vai revolucionar o universo da "cura espiritual". Pasmem! Ora, quem estuda com seriedade os livros de Kardec sabe que a cura das obsessões não se consegue com o toque de mágica apométrica.
Sabemos que foi descomunal o esforço de Allan Kardec para legar à humanidade uma doutrina imune a esses atavismos, vícios religiosos e dogmas de toda natureza. Todavia, como as pessoas são pouco entusiasmadas para o estudo metódico e sério, inventam e impõem práticas bizarras, evocam os “benzedeiros do além” para que venham completar esse vácuo causado pala ausência absoluta de bom senso.
Estamos fazendo, no Brasil, um Espiritismo à moda brasileira. Os centros espíritas praticam um “Espiritismo à moda da casa” (para todos os gostos). Há confrades que insistem em usar trajes especiais nas instituições. Porém, sabemos que o Espiritismo não adota indumentárias especiais, nem enfeites, amuletos, colares, vestes brancas (“significando o bem”) ou vestimentas pretas ou vermelhas (“significando o mal”). Os trabalhadores cônscios da realidade Espírita trajam roupas normais, de forma simples, até porque a discrição deve fazer parte dos que trabalham para o Cristo.
Há médiuns que se ajoelham diante de imagens “sagradas” e de determinadas pessoas; mantêm-se genuflexos e beijam a mão dos responsáveis pela Casa Espírita, como forma de reverenciá-los; benzem-se; fazem sinais cabalísticos; e outros, por incrível que pareça, proferem palavras esquisitas (mantras) para evocar os Espíritos. Isso é compreensível nos terreiros, mas jamais numa casa de orientação espírita.
O misticismo, a mistificação, a mitificação de entes do além e a introdução de práticas atávicas à doutrina têm se tornado comuns para muitos desavisados “espíritas” que, pela leitura de obras “mediúnicas” vazias de conteúdos dignificantes, perdem a capacidade de análise dos fatos e evocam o posicionamento dos “desencarnados” para todas as situações, deixando de ter uma opinião firme e lógica necessária, ou, como diria o mestre Lionês, uma fé raciocinada!
Como se não bastasse tudo isso, encontramos os idólatras, tais como os “divaldistas”, os “rauteixeiristas” e outros. As pessoas estão endeusando esses companheiros justamente por desconhecerem como é a programação espírita desde o século XIX. Alguns inclusive espelham-se de tal maneira nesses oradores que copiam até o timbre, a forma de falar e os trejeitos, sendo vergonhosamente materializados nas palestras públicas, cujos temas também são plagiados. Pois é! Há palestrantes que promovem, das tribunas, verdadeiros shows da própria imagem, mise-en-scène, esta também protagonizada pelos ilustres diretores de instituições doutrinárias que não abrem mão do uso do pomposo “Dr.” antes do nome.
A questão é: como evitar esses disparates? Como agir, com tolerância cristã, ante os Centros mal orientados, com dirigentes alienados, com médiuns obsidiados, com oradores “show-men”? Enfim, como agir, diante dos cegos que querem guiar outros cegos?
Para os espíritas light (mornos bonzinhos) é interessante a prática do "lavo as mãos" do "laissez faire", "laissez aller", "laissez passer". Porém, os Benfeitores espirituais são peremptórios e nos advertem que cabe a nós a obrigação intransferível de SALVAGUARDAR os ensinamentos de Allan Kardec, pelo exemplo diário do amor fraterno e pela coragem do diálogo elevado.
Os Centros que praticam as inócuas terapias ou rituais aqui descritos têm liberdade para fazê-lo, porém não deveriam utilizar o termo espírita nas suas diretrizes. O bom senso obriga que os seus estatutos sejam modificados. Há aqueles que vão inventando “guias” para servirem de embaixadores junto aos espíritos superiores para cuidarem dos seus interesses, assim na terra como no além. Será que as peregrinações para lugares “sagrados” como Uberaba, Salvador, Niterói, Paris etc, não se constituem, na essência, como romarias, trazidas dos atavismos de outros credos?
Os Códigos Evangélicos nos impõem a obrigatória fraternidade para com os confrades equivocados, o que não equivale a dizer que devamos nos omitir quanto à oportuna admoestação, para que a Casa Espírita não se transforme em usina de zumbis.
O que se percebe frente ao que está acontecendo é que muitos “espíritas” estão tão escravizados a símbolos, mitos e fantasias quanto os irmãos de outras crenças místicas. Faz-se necessário, então, que as instituições kardecianas busquem uma melhora qualitativa no âmbito da divulgação, assistência social e formação doutrinária, oferecendo tanto aos principiantes quanto aos demais trabalhadores da instituição uma informação segura, sustentada nas obras basilares sistematizadas por Allan Kardec, a fim de que a Doutrina dos Espíritos possa seguir incólume, livre de sincretismos e perigosíssimas promessas de cura, oferecendo placebos desobsessivos, sem o respaldo dos Bons Espíritos.

Jorge Hessen

sábado, 20 de novembro de 2010

Cartilha de presente no dia do consumidor tv globo

Obsessão espiritual, causa das grandes angústias humanas


JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)




Obsessão espiritual, causa das grandes angústias humanas

Para garantir-nos contra a sua influência urge fortalecer a fé
pela renovação mental e pela prática do bem nos
moldes dos códigos evangélicos


Confrades vez ou outra nos indagam por que viver na Terra é tão complicado e quase sempre tão amarga é a vida? Digo-lhes que essa sensação eventualmente pode ser uma aspiração à felicidade e à liberdade e que, algemado ao envoltório físico que nos serve de cárcere, aplicamo-nos a inúteis esforços para dele sair. Contudo, alguns se abatem no desencorajamento, e a todo o instante reverberam suas lamentações. Mas é preciso resistir energicamente a essas sensações de desânimo e desesperanças, porque os sonhos para a felicidade de viver são intrínsecos a todos os homens, embora não a devamos sofregamente procurar somente na experiência material e transitória da vida terrena.

Comentando sobre a melancolia, encontramos em O Evangelho segundo o Espiritismo o Espírito François de Genève, ditando o seguinte: “Precisamos cumprir, durante nossa prova terrena, tarefas e compromissos que não suspeitamos, seja no que tange à devoção à família, ou cumprindo diversos deveres que Deus nos confiou. Se no transcurso dessa experiência, no desempenho das tarefas, observamos os cuidados, as inquietações, os desgostos esmagarem nossos ânimos d'alma, sejamos fortes e corajosos para derrotá-los. Avancemos e encaremos sem temor; pois que as aflições são de curta duração e devem nos conduzir para situações bem melhores no futuro”.

Há, porém, muitas amarguras que podem ter suas origens na infidelidade aos compromissos cristãos, daí a melancolia se instala no ser, do que poderá resultar um processo obsessivo. Mas o que é uma obsessão? Etimologicamente, o termo tem sua origem no vocábulo obsessione, palavra latina que significa impertinência, perseguição. Para alguns estudiosos espíritas, a obsessão é percebida como um grande flagelo mundial. Essa visão se reveste de profunda gravidade na sociedade, que atualmente está bem instrumentalizada tecnologicamente, seja no campo das comunicações e da informática, seja nas outras áreas do saber, ampliando e aprofundando as responsabilidades de cada um em face da vida coletiva.

Obsessão é uma influência maléfica na mente

Aurélio Buarque define obsessão como sendo uma preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, resultante ou não de sentimentos recalcados; ideia fixa; mania. Da mesma forma a terminologia obsessão é usada, vulgarmente, para significar ideia fixa em alguma coisa, tique nervoso, gerador de manias, atitudes estranhas etc. Entretanto, sob o ponto de vista espírita, o termo tem um significado e interpretação mais amplos. Consubstancia-se numa influência maléfica relativamente persistente que desencarnados e/ou encarnados, tão ou mais atrasados que nós mesmos, podem exercer sobre a nossa vida mental.

Para a escola clássica da psiquiatria, obsessão é um pensamento, ou um impulso, persistente ou recorrente, indesejado e aflitivo, que vem à mente involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo ou de suprimi-lo. Psiquiatras que não admitem nada fora da matéria não podem entender uma causa oculta (espiritual), mas quando a academia científica tiver saído da rotina materialista, ela reconhecerá na ação do mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos uma força que reage sobre as coisas físicas, tanto quanto sobre as coisas morais. Esse será um novo caminho aberto ao progresso e a chave de uma multidão de fenômenos mal compreendidos do psiquismo humano.

E, óbvio, não descartando a possibilidade da anomalia psicossomática, a Doutrina Espírita faz-nos conhecer outras fontes das misérias humanas, mantidas pela fragilidade moral dos seres. Reconhecemos que o uso dos fármacos antidepressivos estabelece a harmonia química cerebral, melhorando o humor do paciente, no entanto, agem simplesmente sobre os efeitos, uma vez que os medicamentos não curam a obsessão em suas intrínsecas causas, apenas restabelecem o trânsito das mensagens neuroniais, corrigindo o funcionamento neuroquímico do SNC (sistema nervoso central). Sócrates já afirmava que "se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma”.

Por insinceridade, em nosso tênue esforço para a reforma moral, obstamos as relações equilibradas e equilibrantes conosco e com o próximo. Toda a nossa desarmonia leva a desenvolver sintonias viciosas com outras mentes doentias, seja de desencarnados ou encarnados, o que aguça sobremaneira nosso próprio desarranjo interior, resultando daí as ingentes dificuldades para nos libertarmos das algemas em que nos aguilhoamos ante as garras do mal.

Na intimidade do lar, da família ou do Centro Espírita, do ambiente de trabalho profissional, adversários ferrenhos do pretérito se reencontram. Convocados pelos Benfeitores do Além ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se veem possuídos uns à frente dos outros, e (re)alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios tóxicos da antipatia que, concentrados, se transformam em pontiagudos dardos magnéticos, suscetíveis de provocar a enfermidade e a própria morte.

A obsessão espiritual é sintonia ou troca de vibrações afins. Kardec define obsessão como a ação persistente que um Espírito inferior exerce sobre um indivíduo, apresentando caracteres variados que vão desde a simples influência moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. A obsessão é o encontro de forças inferiores retratando-se entre si.

As múltiplas facetas da obsessão

Há quadros de obsessões explodindo por todos os lados em todos os níveis, quais sejam de desencarnados sobre encarnados e vice-versa; de encarnados sobre encarnados, bem como de desencarnados sobre desencarnados.

Nosso mundo mental rege a vida que nos é peculiar em todas as suas dimensões, contudo, nos encontramos ainda no início do entendimento das implicações da força mental, do significado e abrangência das construções mentais na vida. Os obsessores são hábeis e inteligentes, perfeitos estrategistas que planejam cada passo e acompanham as presas por algum tempo, observando suas tendências, seus relacionamentos, seus ideais. Identificam seus pontos vulneráveis (quase sempre ligados ao descaminhamento sexual) e os exploram pertinazes.

O pensamento exterioriza-se e projeta-se, formando imagens e sugestões que arremessa sobre os objetivos que se propõe atingir. Quando bom e edificante, ajusta-se às Leis que nos regem, criando harmonia e felicidade, todavia, quando desequilibrado e deprimente, estabelece aflição e ruína. A química mental vive na base de todas as transformações, porque realmente evoluímos em profunda comunhão telepática com todos aqueles encarnados ou desencarnados que se afinam conosco.

Nosso universo mental é como um céu, mas do firmamento descem raios de sol e chuvas benéficas para a vida planetária, assim como, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu procedem faíscas elétricas destruidoras. Da mesma forma funciona a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico, mas, quando perturbada, emite raios magnéticos de elevado teor destrutivo para a nossa estrutura psíquica.

O mestre lionês redarguiu dos Espíritos, na questão 466 d' O Livro dos Espíritos, por que permite Deus que os obsessores nos induzam ao mal? Os Espíritos responderam: "Os seres imperfeitos são instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens na prática do bem. Como Espírito, deveis progredir na ciência do infinito, razão por que passais pelas provas do mal, a fim de chegardes ao bem. Nossa missão é a de colocar-vos no bom caminho e quando más influências agem sobre vós, é que as atraís, pelo desejo do mal. Os Espíritos inferiores vêm em vosso auxílio no mal, sempre que desejais cometê-lo; e só vos podem ajudar no mal quando quereis o mal. Então, se vos inclinardes para o assassínio, tereis uma nuvem de Espíritos que vos alimentarão esse pendor. Entretanto, tereis outros que procurarão influenciar-vos para o bem. Assim se restabelece o equilíbrio e ficais senhor de vós mesmos”.

Renovação moral como base para a desobsessão espiritual

O venerável Codificador, em O Livro dos Médiuns, afirma que as imperfeições morais dão acesso aos obsessores e o meio mais seguro de nos livrarmos deles é atrair os bons Espíritos pela prática do bem. A obsessão é impotente diante de Espíritos redimidos! E o que é um Espírito redimido? É aquele que reconhece as suas limitações e, como enunciado pelo apóstolo Paulo, sente a alegria de saber-se "matriculado na escola do bem”.

Esse desarranjo psicoespiritual deverá ser eliminado da sociedade no instante em que o lídimo exemplo do amor for experimentado e disseminado em todas as direções, consoante Jesus consubstanciou e vivenciou até as agruras da morte, prosseguindo desde tempos apostólicos até os dias atuais.

O Espiritismo, desvendando a intervenção dos Espíritos endurecidos no mal em nossas vidas, lança luzes sobre questões ainda desconsideradas pelas ciências materialistas como de causa psicopatológica.

Muitas vezes procurado pelos obsidiados, o Cristo penetrava psiquicamente nas causas da sua inquietude e, usando de sua autoridade moral, libertava tanto os obsessores quanto os obsidiados, permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo à recuperação e à pacificação da própria consciência. Porém, é muito importante lembrar que Jesus não libertou os obsidiados sem lhes impor a intransferível necessidade de renovação íntima, nem expulsou os perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço de Deus.

Conclusão

Em síntese, identificamos sempre na obsessão (espiritual) o resultado da invigilância e dos desvios morais. Para garantir-nos contra a sua influência urge fortalecer a fé pela renovação mental e pela prática do bem nos moldes dos códigos evangélicos propostos por Jesus Cristo, não nos esquecendo dos divinos conselhos do Vigiai e Orai.

Bibliografia consultada:

Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001, cap. V, item 25.

Dicionário Aurélio eletrônico; século XXI. Rio de Janeiro, Nova Fronteira e Lexicon Informática, 1999, CD-rom, versão 3.0.

Xavier, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. Dominação Telepática.

Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, GB., 2003, perg. 644.

Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 19987- (Mateus 26:41; Marcos 14:38; Lucas 21:36 e I Pedro 5:8).

Revista Espírita, fevereiro, março e junho de 1864. A jovem obsedada de Marmande.

Kardec, Allan. O Que é o Espiritismo, Cap. II, Escolho dos Médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2003.

Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Resumo da doutrina de Sócrates e de Platão, item XIX, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O ABORTO É UMA PRÁTICA HEDIONDA DESDE O CÓDIGO DE HAMURABI

O ABORTO É UMA PRÁTICA HEDIONDA DESDE O CÓDIGO DE HAMURABI




Sempre houve leis severas contra a prática do aborto na humanidade. No século XVIII a.C., o Código de Hamurabi destacava aspectos da reparação devida a mulheres livres em casos de abortos provocados, exigindo o pagamento de 10 siclos pelo feto morto. Na Grécia antiga, as leis de Licurgo e de Sólon e a legislação de Tebas e Mileto tipificavam o aborto como crime. Hipócrates, uma das figuras mais importantes da história da saúde, frequentemente considerado "pai da medicina", negava o direito ao aborto e exigia dos médicos jurar não dar às mulheres bebidas fatais para a criança no ventre. Na Idade Média, a Lex Romana Visigothorum editava penas severas contra o aborto.
O Código Penal francês de 1791, em plena Revolução Francesa, determinava que todos os cúmplices de aborto fossem flagelados e condenados a 20 anos de prisão. O Código Penal francês de 1810, promulgado por Napoleão Bonaparte, previa a pena de morte para o aborto. Posteriormente, a pena de morte foi substituída pela prisão perpétua. Além disso, os médicos, farmacêuticos e cirurgiões eram condenados a trabalhos forçados.
Se os ditos tribunais humanos condenam a prática do aborto, “as Leis Divinas, por seu turno, atuam inflexivelmente sobre os que alucinadamente o provocam. Fixam essas leis no tribunal da própria consciência culpada, tenebrosos processos de resgate que podem conduzir ao câncer e à loucura, agora ou mais tarde.”(1)
O primeiro país da era pós-moderna a legalizar o aborto foi a União Soviética, em 8 de novembro de 1920. Os hospitais soviéticos instalaram unidades especiais denominadas abortórios, concebidas para realizar as operações em ritmo de produção em massa. A segunda nação a legalizar o abortamento foi a Alemanha Nazista, em junho de 1935, mediante uma reforma da Lei para a Prevenção das Doenças Hereditárias para a Posteridade, que permitiu a interrupção da gravidez de mulheres consideradas de "má hereditariedade" ("não-arianas" ou portadoras de deficiência física ou mental).
Entre 1996 e 2009, “ao menos 47 dos 192 países da ONU aprovaram leis com artigos mais liberalizantes.”(2) Em todos os países da Europa, exceto Malta, o aborto não é penalizado em situações controladas. Os países ibéricos são exemplos de liberalização. Em 2007, Portugal legalizou o aborto sem restrições até a 10ª semana de gestação e, depois desse período, em casos de má-formação fetal, de estupro ou de perigos à vida ou à saúde da mãe. Na Espanha, lei com termos semelhantes começou a vigorar em 2010.
Cuba é o único país hispânico em que o aborto é legal sem restrições. Na Colômbia, a Corte Constitucional determinou em 2006 que o aborto é legítimo em casos de estupro, má-formação fetal ou de riscos para a vida da mãe. Até então, a prática era proibida no país. Há países em que o aborto era totalmente ilegal, mas passou a ser aceito nos últimos anos se a mãe correr riscos ou se houver má-formação fetal (no Irã) ou no caso de estupro (no Togo).
Não nos enganemos, a medicina que executa o aborto nos países que já legalizaram o assassinato do bebê no ventre materno é uma medicina criminosa. Não há lei humana que atenue essa situação ante a Lei de Deus. No Brasil a taxa de interrupção de gravidez supera a taxa de nascimento. Essa situação fez surgir no país grupos dispostos a legalizar o aborto, torná-lo fácil, acessível, higiênico, juridicamente “correto”. Contudo, ainda que isso viesse ocorrer, JAMAIS esqueçamos que o aborto ilegal ou legalizado SEMPRE será um CRIME perante às Leis Divinas!
Os abortistas evocam as péssimas condições em que são realizados os procedimentos clandestinos. Porém, em que pese a sua veracidade, não nos enganemos, imaginando que o aborto oficial irá resolver a questão do assassinato das crianças no útero; ao contrário, o aumentará bastante! E o pior, continuará a ser praticado por meio secreto e não controlado, pois a clandestinidade é cúmplice do anonimato e não exige explicações.
Alerte-se que se não há legislação humana que identifique de imediato o ignóbil infanticídio, nos redutos familiares ou na bruma da clandestinidade, e aos que mergulham na torpeza do aborto “os olhos divinos de Nosso Pai contemplam do Céu, chamando, em silêncio, às provas do reajuste, a fim de que se expurgue da consciência a falta indesculpável que perpetram.”(3)
Chico Xavier disse que “se anos passados houvesse a legalização do aborto, e se aquela que foi a minha querida mãe entrasse na aceitação de semelhante legalidade, legalidade profundamente ilegal, eu não teria tido a minha atual existência, em que estou aprendendo a conhecer minha própria natureza e a combater meus defeitos, e a receber o amparo de tantos amigos, que qual você, como todos aqui, nos ouvem e me auxiliam tanto.”(4)
Até mesmo diante de gravidez resultante da violência sexual, “o Espiritismo, considerando o lado transcendente das situações humanas, estimula a mãe a levar adiante a gravidez e até mesmo a criação daquele filho, superando o trauma do estupro, porque aquele Espírito reencarnante terá, possivelmente um compromisso passado com a genitora.”(5) Lembrando também que “o governo deveria ter departamentos especializados de amparo material e psicológico a todas as gestantes, em especial, às que carregam a pesada prova do estupro.
É absolutamente indefensável , é imoral a prática do aborto “terapêutico”. Por que interromper o processo reparador que a vida impõe ao espírito que se reencarna com deficiência? Será justo impedi-lo de evoluir, por egoísmo da gestante? Se o aborto, em tempos idos, era usado a pretexto de terapia, devia-se à falta de conhecimentos médicos. Evocamos no contexto uma aula inaugural do Dr. João Batista de Oliveira e Costa Júnior aos alunos de Direito da USP em 1965 (intitulada “Por que ainda o aborto terapêutico?”). João Batista explicou que o aborto em questão “não é o único meio, ao contrário, é o pior meio, ou melhor, não é meio algum para se salvar a vida da gestante.”(6)
Não impomos anátemas àqueles que estão sob o impacto de consciência febricitante em face do ato já consumado, até para que não caiam na vala profunda do desalento. Para quem já se equivocou, convém lembrar o seguinte: errar é aprender, contudo, ao invés de se fixarem no remorso, precisam aproveitar a experiência como uma boa oportunidade para discernimento no amanhã. Libertar-se da culpa é, sem sombra de dúvidas, colocar-se diante das consequências dos atos com a disposição de resolvê-las, corajosamente.
A adoção de criança abandonada é excelente prática de soerguimento moral. Pode-se, também , fazer opção por uma atividade, onde se esteja em contato direto, corpo a corpo, com crianças carentes de carinho, de amparo, de colo, de cuidados pessoais em creches, em escolas, em hospitais, em orfanatos, etc..
Meditemos sobre isso!

Jorge Hessen
http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com



FONTES:

(1) Peralva, Martins.O Pensamento de Emmanuel.Cap. I Rio de Janeiro: Editora FEB, 1978
(2) Conforme o World Population Policies 2009, da ONU que registra o estudo realizado pela ONU e pelo Instituto Guttmacher
(3) Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Religião dos Espíritos, ditado pelo Espírito Emmanuel. 14a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2001.
(4) Disponível em http://www.editoraideal.com.br/chico/perguntas-21.htm, acessado em 15 de março de 2006
(5) Cf. Manifesto Espírita sobre o Aborto Federação Espírita Brasileira Manifesto aprovado na reunião do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, nos dias 7, 8 e 9 de novembro de 98
(6) O jornal Folha Espírita, edição de janeiro de 2005

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

INTERNET E ESPIRITISMO – DESAFIOS E POSSIBILIDADES



INTERNET E ESPIRITISMO – DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Atualmente há uma assustadora explosão dos sites de redes sociais, como o “MySpace”, “Facebook” e “Orkut”, que ganharam grande proeminência em face dos muitos milhões de pessoas inscritas para utilizá-los a fim de publicarem suas informações pessoais. Para muitos internautas o uso das redes de relacionamento é algo tão comum como tomar banho, escovar os dentes e pentear os cabelos pela manhã. Todavia, a natureza quase íntima dessas redes sociais leva as pessoas a compartilharem informações confidenciais sobre sua família, relacionamentos afetivos, situação financeira e vários outros conteúdos de cunho particular, deixando-as, não raro, sujeitas a todo tipo de armadilhas, considerando que esses dados fornecidos na web municiam as pessoas mal intencionadas.

Óbvio que a Internet é importantíssima para todos nós. Com ela podemos ler a maioria dos jornais do mundo contemporâneo utilizando apenas algumas teclas. Temos acesso a um sem-número de enciclopédias e podemos também sondar os filmes que estão em exibição nos cinemas. A rigor, utilizamos uma parte ínfima da vastidão de temas e materiais que se podem conseguir na Rede Mundial de Computadores. Por outro lado, nem sempre é tarefa fácil distinguir entre o conteúdo interessante e a mensagem perigosa e/ou ilegal. Dos riscos iminentes que estremecem a mente humana, destacamos a pornografia (principalmente a infantil) que é, disparadamente, a mais execrável. Não faltam os sites de conteúdo racista, xenófobo, ou de puro incitamento à violência. Muitas vezes o perigo pode vir de uma conversa aparentemente inocente, mantida no programa de conversa à distância - o “Chat”.

Da mesma forma que devemos prestar atenção redobrada ao atravessar uma avenida de trânsito intenso, devemos ter a máxima cautela ao navegar na web, pois os perigos são reais. Devemos estar atentos para evitar cair em arapucas cibernéticas. Como aconteceu, recentemente, com uma jovem de 22 anos que sofreu violência sexual no estado de São Paulo. Segundo a Polícia Civil paulista, a vítima havia marcado um encontro com um rapaz após tê-lo conhecido em uma sala de bate-papo na Internet. No local combinado, o criminoso estava em uma moto e, quando a jovem chegou, ele a obrigou a subir na garupa e a levou para um lugar ermo, onde ela foi amarrada e abusada sexualmente.

Um elevado percentual de problemas ocorre porque muitos usuários não têm ideia do alcance da web e não sabem se comportar diante do universo virtual. Os especialistas comparam a Internet a uma grande praça pública, todavia com uma diferença fundamental: as informações e imagens divulgadas podem ser vistas por milhões de pessoas, copiadas e manipuladas, o que exige um cuidado extra.

Existem alguns meios de controlar a “navegação”, que restringem, através de senhas, aquilo que crianças e jovens podem ter acesso. Os pais, sobretudo os genitores espíritas, devem conversar abertamente com os seus filhos, alertando-os sobre o lado nocivo da Internet e aconselhá-los a evitar sites perigosos. Nesses casos, orientar será sempre muito melhor do que proibir.

Em tese, apesar dos riscos, não devemos demonizar a Internet tal qual fazia a Inquisição na Idade Média, queimando os livros e destroçando a cultura. Apoiados no bom senso doutrinário, é importante aprendermos a enfrentar os desafios cibernéticos, com a intenção de procurar a verdade e de esclarecer os interessados. É bastante salutar que saibamos separar o trigo do joio.

A Internet, a despeito das informações incorretas, das agressões, das infâmias, da degradação e do crime, é, sem dúvida, um instrumento de grandiosas realizações que dignificam o homem e preparam a sociedade para um porvir mais promissor. Para o movimento espírita em especial, pela web são possíveis os estímulos de fraternidade entre as diversas instituições kardecianas da Terra. Pelas ondas virtuais está surgindo um novo modelo para o movimento espírita. Se o Apóstolo dos Gentios teve que andar milhares de quilômetros a pé, de cidade em cidade, para espalhar a semente da Boa Nova, Deus, nos dias atuais, dá-nos a oportunidade de estar na comodidade do próprio lar para disseminar os princípios da Terceira Revelação para todos os continentes.
Diante do exposto, indagamos: como garantir a legitimidade desse monumental instrumento de trabalho espírita? O que fazer para explorar mais o enorme potencial de divulgação da Doutrina Espírita através da Internet? Cremos que os Departamentos de Divulgação dos Centros Espíritas, bem como Federações Espíritas, deveriam refletir mais sobre o assunto. Ambas as questões são importantes e devemos refleti-las para que possamos entender como aplicar a Internet corretamente no ambiente espírita. Nesse caso, a vigília equilibrada é fundamental para atingir uma abordagem balanceada, que possa assumir plenamente a tecnologia que temos disponível e, simultaneamente, projetar os objetivos maiores do trabalho espírita que está sendo desenvolvido na Terra, por permissão do Cristo.

Jorge Hessen

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

DUENDES, ELEMENTAIS - CRENDICE, FANTASIA OU REALIDADE?



Não encontramos a palavra "Elemental" no dicionário do Aurélio, e que tampouco consta nas obras codificadas por Allan Kardec. Aliás, o Espírito São Luís, na Revista Espírita do mês de março de 1860, empregou o termo "elementar”(1) ao invés de “Elemental”.(2) O professor Rivail cita a palavra "duende" referindo-se aos espíritos perturbadores, em duas oportunidades.(3)A primeira quando faz alusão ao duende de Bayonne, que apareceu para sua irmã, provocando travessuras. Na segunda, descreve a experiência do Sr. J. com alguns espíritos perturbadores, em sua residência. Mas, em ambas as oportunidades, o Codificador os descreveu como espíritos perturbadores, sem no entanto lhes conferir as propriedades que a crendice popular dá aos duendes e elementais. (4)

Nesta abordagem teórica, não podemos adentrar pela porta larga das concepções místicas, até porque a nomenclatura espírita é concisa e clara, e precisa estar acima da imaginação popular, que concebe, geralmente, a mediunidade de maneira mística, e quase sempre denominando esses seres de Silfos (elementais do ar), Salamandras (elementais do fogo), Ondinas (elementais da água) e Gnomos (elementais da terra).

Sabemos que nas hostes espíritas existem muitas terminologias novas, que não estão inscritas nas Obras Básicas. Todavia, no decorrer do século XX, foram sendo incorporadas no dicionário kardeciano, a exemplo dos termos "colônias espirituais”, “bioenergia”, “monoideísmo”, “ovóides", "umbral", "vampirismo", "aura" etc. Expressões essas que, se não foram utilizadas pelo Codificador; estavam de alguma forma implícitas nas ideias, através de outras terminologias do século XIX.

O termo "Elemental" é comumente empregado de forma esotérica, sobretudo na cultura teosófica. Porém, André Luiz faz alusão à palavra referindo-se “a entes servidores comuns do reino vegetal”(5), ou seja, espíritos da Natureza totalmente estranhos à sua compreensão(6).

Algumas obras espíritas complementares confirmam que os seres infra-humanos são os "entes servidores da natureza”, executores dos fenômenos naturais. Segundo o ilustre lionês, "os Espíritos constituem a força inteligente da Natureza e concorrem para a execução dos desígnios do Criador”(7), que, não criou seres intelectuais perpetuamente destinados à inferioridade, uma vez que “tudo na Natureza se encadeia por elos que ainda não podemos apreender”(8).

Os Instrutores Espirituais intervêm na melhoria das formas evolutivas inferiores, nas quais o princípio inteligente estagia. Em verdade, “todos os campos da Natureza contam com agentes da Sabedoria Divina para formação e expansão dos valores evolutivos.”(9). A rigor, o espírito não chega à fase da razão “sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização.”(10). Destarte, “o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza e se elabora, passando pelo diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades.”(11).

Certa vez, conhecendo uma colônia purgatorial de vasta expressão, André Luiz foi informado sobre as milhares de criaturas “utilizadas nos serviços mais rudes da natureza, que se movimentam naquelas regiões em posição infraterrestre.”(12). Talvez essas entidades não habitem o interior da Terra, porém, “presidem aos fenômenos geológicos e os dirigem de acordo com as atribuições que têm.”(13). Dia virá em que receberemos a explicação de todos esses fenômenos e os compreenderemos melhor.

Na escala da evolução, eles estariam entre a fase animal e hominal. Muitos esotéricos acreditam que essas entidades são superiores ao homem, crença essa contrária aos conceitos e conhecimentos espíritas. Para nós, esses seres “situam-se entre o raciocínio fragmentário do macacóide e a idéia simples do homem primitivo da floresta."(14).

No Capítulo IX de O Livro dos Espíritos, questões 536 a 540, o mestre lionês fez perguntas pertinentes sobre a ação dos espíritos nos fenômenos da natureza. Compreendemos, assim, sobre a existência de "princípios inteligentes" que auxiliam no controle dos fenômenos da natureza, sob a supervisão de espíritos mais elevados, operando em nome de Deus, que “não exerce ação direta sob a matéria”(15).

Não seria justo dizer que os elementais não existem. A experiência, a tradição e a própria Doutrina Espírita acolhem tais seres como realidade e não como mera fantasia. Todavia, não podemos esquecer que o Espiritismo tem em seu vocabulário os termos adequados para designar precisamente esses entes espirituais. Razoável, então, não adotarmos palavras inadequadas e distorcidas pelas crenças mitológicas.

Jorge Hessen

http://jorgehessenestudandoespiritismo.blogspot.com


FONTES:
(1) Espírito elementar é diferente de "elementais”
(2) Na "Revista Espírita”, editada por Allan Kardec, março de 1860, tradução da Edicel, pg. 98.
(3) Kardec, Allan. Revista Espírita/Janeiro de 1859, São Paulo: Editora IDE, 1993
(4) Os duendes são personagens da mitologia europeia semelhantes a Fadas e Goblins. Embora suas características variem um pouco pela Espanha e América Latina, são análogos aos Brownies escoceses, aos Nisse dinamarquês-noruegueses, ao francês nain rouge, aos irlandeses clurichaun, Leprechauns e Far Darrig, aos manx fenodyree e Mooinjer Veggey, ao galês tylwyth teg, ao sueco Tomte e aos trasgos galego-portugueses.
(5) Xavier, Francisco Cândido. Nosso Lar, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001.
(6) _____,________. Nosso Lar, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001.
(7) Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de Janeiro: FEB, 1972.
(8) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: FEB, 1974, cap. XI, "Dos Três Reinos”, subcapítulo "Os Animais e os Homens”, questões de 592 a 610.
(9) Xavier, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001.
(10) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: FEB, 2001, cap. XI, cap. 6, item 19.
(11) _____,_____. A Gênese, Rio de Janeiro: FEB, 2001 cap. 6, item 19 cap.11, item 23.
(12) Xavier, Francisco Cândido. Libertação, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2002.
(13) Kardec, Allan. (O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: FEB, 1974, questão 537 a).
(14) ______,_____. Xavier, Francisco Cândido. Libertação, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2002.
(15) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: FEB, 1974, na Parte 2a, Capítulo IX, questões 536 a 540.