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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CÉLULAS TRONCO – NOSSA BRIGA



CÉLULAS TRONCO – NOSSA BRIGA

Roberto Cury


Grande polêmica se instalou no cenário nacional a respeito de pesquisas científicas com células-tronco ou embrionárias na cura de muitas doenças, senão todas, e na restauração de órgãos ou funções físicas das pessoas.

Células-tronco são células capazes de multiplicar-se e diferenciar-se nos mais variados tecidos do corpo humano (sangue, ossos, nervos, músculos, etc.).

A cientista e pesquisadora brasileira Dra. Mayana Zatz, define células-tronco: “as que têm a capacidade de diferenciar-se em diferentes tecidos humanos. Existem as células-tronco totipotentes ou embrionárias, que conseguem dar origem a qualquer um dos 216 tecidos que formam o corpo humano; as pluripotentes, que conseguem diferenciar-se na maioria dos tecidos humanos, e as células-tronco multipotentes que conseguem diferenciar-se em alguns tecidos apenas”.


No exato momento em que o espermatozóide fecunda o óvulo, começam as primeiras divisões celulares surgindo as células totipotentes que vão obrigatoriamente dar origem a todos os tecidos do corpo.

Dra. Zatz explica em detalhes: “as células totipotentes existem até quando o embrião atinge 32 a 64 células. A partir daí, forma-se o blastocisto cuja capa externa vai formar as membranas embrionárias, a placenta. Já as células internas do blastocisto, que são chamadas de totipotentes, vão diferenciar-se em todos os tecidos humanos.”

Obtém-se uma célula totipotente pegando um óvulo fecundado para colhê-la até a divisão em 64 células.

Segundo a cientista, “as pesquisas ainda em andamento indicam que até 14 dias depois da fecundação, as células embrionárias seriam capazes de diferenciar-se em quase todos os tecidos humanos. Depois disso, começam a dar origem a determinados tecidos”. E, continua explicando: “Os adultos conservam células - por exemplo, na medula óssea - que têm a capacidade de diferenciar-se em vários tecidos, mas não em todos. Elas também existem no cordão umbilical, mas já são células-tronco adultas que não conservam a capacidade das células embrionárias”.

O Dr. Drauzio Varela questionou a cientista: “Quando se trabalha com reposição de tecidos, é possível pegar células pluripotentes da medula óssea, ou seja, do tutano do osso, aquele tecido gorduroso que vai dar origem aos elementos do sangue, e obrigá-las a transformar-se, por exemplo, em neurônios no cérebro?”


Ela respondeu: “Essa é a grande questão. Alguns anos atrás, quando se começou a trabalhar com células-tronco, os estudos diziam que sim, mas agora isso está sendo questionado. Um exemplo é o grupo de pesquisadores do Rio de Janeiro que fez um trabalho com células-tronco em pessoas cardíacas. Hoje se discute se realmente essas células se diferenciaram em células cardíacas ou se simplesmente melhoraram a irrigação do coração.


No momento, a única coisa a respeito da qual se tem certeza é que as células-tronco de origem embrionária conseguem diferenciar-se em todos os tecidos do organismo.”

Dra. Mayana Zatz esclareceu de forma sintética e objetiva que somente as células embrionárias conseguem se diferençar em todos os tecidos humanos. Conseqüentemente, só as células oriundas de embriões são capazes de refazer a integridade física-orgânica do ser humano.

Mas, aí é que se estabelece a grande polêmica que, inclusive, tem criado óbices aos cientistas brasileiros.

A lei de biossegurança, aprovada no Congresso e sancionada pelo Presidente da República, não foi capaz nem de garantir o cultivo de vegetais transgênicos, imagine se permitiria pesquisas com embriões, que algumas religiões confundem com fetos, opondo-se, por conseguinte, acreditando que a sua aplicação no corpo humano estaria ceifando vidas já concebidas.

Fossem fetos os embriões, ainda assim a validade desses argumentos religiosos seria discutível diante da recomposição ou da salvação de vidas já estabelecidas.

Os embriões que os cientistas pretendem utilizar nas pesquisas são aqueles congelados e reservados nos laboratórios e que, pelo decurso do tempo, isto é, depois de 3 anos, considerados não mais servíveis à inseminação artificial, ou gravidez “in vitro”, tornando-se descartáveis, ou que os responsáveis pela fecundação (homem e mulher) tenham autorizado o descarte.

As células-tronco pluripotentes que persistem na vida adulta obtidas do cordão umbilical poderiam resolver parte do problema não fosse o seu destino - o lixo, porque inexiste banco de cordão umbilical. No parto, tanto a placenta, quanto o cordão são descartados.

Dissemos parte do problema porque as pluripotentes se diferenciam em alguns tecidos. As células ideais, sem sombra de dúvida, são as totipotentes, isto é, as divididas em 64 células, porque elas são capazes de formar todos os tecidos do corpo humano.

Sigamos o ensinamento da Mestra Zatz: “É preciso deixar o embrião chegar à fase de blastocisto, isto é, com 64 células, o que leva no máximo cinco dias. É fundamental deixar claro o processo para as pessoas entenderem o que pretendemos. O blastocisto é um montinho de células menor do que a ponta de uma agulha, e ninguém está pensando em destruir embriões, muito menos fetos. A idéia é cultivar essas células em laboratório de maneira que se diferenciem no tecido desejado.”

A ciência não pretende destruir a vida. Por isso a Dra Zatz diz enfaticamente: “O casal tem um problema de fertilidade, procura um centro de fertilidade assistida, juntam-se o óvulo e o espermatozóide e formam-se os embriões. Normalmente são dez, doze, quinze embriões, alguns de melhor qualidade, mas outros malformados que não teriam a capacidade de gerar uma vida se fossem implantados num útero, vão direto para o lixo. Esses embriões descartados serviriam como material de pesquisa para fazer a linhagem de células totipotentes.


A segunda hipótese refere-se aos casais que já implantaram os embriões, tiveram os filhos que queriam e não vão mais recorrer aos embriões de boa qualidade que permanecerão congelados por anos até serem definitivamente descartados.”

“Esses embriões têm potencial de vida baixíssimo. Muitos teriam potencial zero mesmo que fossem implantados. No entanto, sabe-se que não serão aproveitados e que, um dia, também serão jogados no lixo.”


A imprensa noticiou, a poucos dias, que nossa vizinha Argentina injeta células-tronco clonando vacas que estão produzindo leite com insulina humana, resolvendo a cura do diabetes.

Em artigo publicado pela revista “Stem Cells”, a Geron Corporation, empresa biofarmacêutica americana, afirmou que as células-tronco podem ser usadas para se obter células do pâncreas que produzem insulina, opção para tratamento do diabetes.

Segundo o articulado, os pesquisadores da empresa usaram células-tronco obtidas de embriões humanos e conseguiram desenvolvê-las como células que produziram insulina no pâncreas.

A informação da Geron indica o progresso da pesquisa e das experiências com células-tronco nos Estados Unidos, no setor particular e nos Estados, mas, também lá, o governo federal mantém sua restrição de apoio.

No mundo todo, os cientistas têm estudado a aplicação de células-tronco humanas no organismo das pessoas doentes, que apresentam algum sofrimento ou restringidas nos seus movimentos, conseqüência de acidentes, traumas ou degenerescência muscular, etc.

“Há pessoas que nascem normais, mas a partir de determinada idade começam a perder musculatura por defeito do músculo ou dos nervos que deveriam estar enervando aquele músculo”, afirma a pesquisadora Dra. Zatz.

Enquanto cientistas do mundo todo se empenham nas pesquisas com células embrionárias, o Brasil se enrosca na desinformação, no desinteresse e em preconceitos religiosos que raiam à ignorância e ao fanatismo.

Se os óbices religiosos fossem realmente para valer, esbarrariam no próprio objetivo do Criador da Vida que permite o avançar das pesquisas mundiais, até mesmo em países onde o cristianismo é praticamente nulo, que utilizam embriões descartáveis ou descartados cujos resultados demonstram a recomposição e a renovação de tecidos, promovendo a recuperação da saúde perdida, ou, ainda, salvando vidas em todos os outros lugares, menos no nosso País.

Assim, quando o mundo houver conquistado o sucesso nas suas pesquisas, o Brasil, que ficou parado nas burrices religiosas e na estultícia retrógrada dos legisladores, mais ocupados com a “lei de Gerson” do que com leis progressistas e de conquista de melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos, ver-se-á obrigado a pagar os “royalties” que economizaria se tivesse liberado pesquisas utilizando embriões descartáveis e, de conseqüência, teria patentes registradas.

Aproveitando que a economia brasileira vai de vento em popa, é hora de iniciarmos a transformação, enfatizando, aos legisladores nossos conhecidos, a importância e a necessidade de que a pesquisa científica brasileira se dedique com afinco no trabalho com os embriões descartáveis ou deformados ou que seriam incapazes de gerarem vidas no útero feminino, aprovando leis nesse sentido e verbas federais para que os resultados não sejam favoráveis a empresas multinacionais com sede em outros países.

Roberto Cury é advogado e professor universitário.

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