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quinta-feira, 30 de abril de 2009

A LÁGRIMA DE CHICO XAVIER





Descia, absorto, as escadas da escola, sem conseguir me aliviar do abalo que me causara aquela conversa com Rubens, meu amigo . -"Não era possível"- vagueava comigo- "as pessoas não mudam; passam os tempos, vêem os exemplos e os mesmos erros, com as mesmas cores, são repetidos...até quando...meu Deus!".Contara-me o bom Romanelli, que vinha de uma visita ao Alto, onde fora se reportar ao nosso meigo Chico Xavier, sobre o andamento de alguns trabalhos encetados na esfera próxima ao planeta, relacionados com educação pré-encarnatória. E o ilustrado professor mineiro, espírito brilhante, com fulgor conquistado em renhidas encarnações, esmerilhado no esforço e agruras de passagens na Terra, estava nebuloso, abafado, visivelmente tomado por melancólica emoção.
--Meu irmão e amigo-- dizia-me ele- O Chico está triste. Muito triste. Nunca o vira assim, tão lancinado pela angústia, mesmo quando enfrentamos o negro episódio de 58, em Pedro Leopoldo! Acho que nem mesmo quando o José, seu irmão, voltara ao reino dos espíritos, vi tanta tristeza naquele semblante... terrível...
-"É professor"- tentei amenizar- "as notícias da crosta não são animadoras. Maldade, intolerância, guerras, miséria, incompreensão....deve ser por causa disso. O Chico sempre foi muito sensível"- aduzi.
- Não é isso, meu irmão. Com a luz que possui e os conhecimentos que sempre transmitiu, ele sabe muito bem que no processo de reestruturação dos que encarnam na terra, com algumas exceções, -dentre as quais ele se destaca-, o atraso moral, as deficiências, os aleijões espirituais sobressaem, e não é de causar surpresa a quem conhece os caminhos da evolução, esses quadros, que mostram o alcance da estupidez, do mal.
Percebi o professor Rubens contrito, circunspecto, como aquele que, tateante, procura caminho, saída, solução. E prosseguiu:
-O Chico está sofrendo por ingratidão, dor profunda, segundo ele, causada por atitudes de gente nossa, de gente espírita. Isso o deixa inconsolável, amigo, pois são exatamente aqueles com quem compartilhou a senda por 14 longos lustros.... 70 anos... são estes a causa agora dessa profunda amargura...
-Mas caro Rubens, -objetei- nosso Chico experimentou isso por centenas de vezes. Nós somos testemunhas vivenciais de muitos desses flagrantes descaminhos, traições, decepções e malgrados de toda ordem. Ele sofreu isso, sempre com serenidade, no entendimento fraterno da ignorância de quem praticava o erro...
- Meu caro irmão- interrompeu Romanelli- desta vez é pior...muito pior...
-Pior?- exclamei, questionando, surpreso com a superlativa entonação de meu experimentado e notável interlocutor.
-Sim... trouxeram-lhe notícias da programação para a monumental celebração do centenário dele...
-Mas...isso, professor, sob a ótica comum, é mais que justo. Diria até necessário, é um preito de reconhecimento... É o mínimo...
-Claro...claro...mas não da forma como estão querendo fazer....e é exatamente a forma, a maneira, o que está produzindo sofrimento em nosso "Anjo Amor". Imagine que estão elaborando gigantescas festividades. E há brigas, disputas, questões comerciais e de marketing, grandes somas de dinheiro envolvidas. Briga de foice. Um grupo quer erigir um hiper complexo em Pedro Leopoldo, com grandes pavilhões, construção de museus, departamentos, fontes luminosas, cristalinas passarelas de acrílico com a mais alta tecnologia em luzes, laser e neon...(e suspirando...) tudo isso com dinheiro da venda de livros, doações e dinheiro público, do governo. E cobrando ingresso, claro...
-É... parece que estou entendendo...mas é em 2010, não é?-dissimulei.
-Sim...mas grandiosos e potentes esforços já estão sendo envidados para o que o Chico chamou de "O Circo do Chico". Só que neste aí diz ele se sentir um palhaço, sem graça...
-Chiii...aliás, no dicionário xavier significa sem graça...-tentei aliviar a tensão, sem muito êxito.
E Rubens Romanelli retomou:-Saiba, meu irmão, que programam também para Uberaba outro estardalhaço de igual ou maior envergadura. Além dos monumentos, dos bustos, dos museus, das praças e avenidas, haverá shows, congressos, festivais, lançamentos...festa, muita festa...
- De livros?
-Sim, também...tem editora que está preparando obras especiais, com capa e letras douradas... melhor que o outro "Parnaso" exótico, que fizeram....caríssimo... preço exorbitante, inacessível à maioria... Mera especulação comercial. Estão também projetando o leilão de páginas psicografadas....vão sobrar chicos e fuxicos...
-É...estou entendendo, professor. Acho que essa dor que ele sente é semelhante à do Dr. Bezerra de Menezes quando inauguraram a luxuosa sede em Brasília... com vidros fumês, e alabastros de fino material. Dinheiro de livro, dinheiro da caridade...Na época, ouvi-o reclamando com o Bittencourt, que estavam fazendo dele, a "Bezerra de Ouro", num chiste.
-Pois é, meu irmão. Também Brasília deverá participar, com congressos mundiais, de gente de todo o planeta, mais festas, museus, banquetes, grandes caravanas, buffets e griffes, patrocínios mil... Lançamentos de obras sobre a vida, biografias, e tome mensagens louvaminheiras, compreende?
-Compreendo, professor -assenti- mais ou menos posso entender a dor do Chico. Ele, sempre avesso a estas manifestações, sempre longe dessa idolatria, e mais, sempre próximo da gente humilde, sofredora, sempre consolando...
-Isso, irmão- concordou, continuando, mais exaltado- de gente simples, humilde, sofredora. Essa gente pobre que hoje praticamente nem pode mais entrar na maioria dos centros, cheios de guardas e sistemas de segurança, alguns luxuosos, que trazem a caridade na fachada, só. Outro dia estivemos fazendo um levantamento e descobrimos que nas favelas, nos aglomerados, nos lugares bem pobres, quase não existem mais os centro-espíritas!.- E depois de longo hausto, prosseguiu:-Me lembro com saudades dos bons tempos, quando ia com o Virgílio, Peralva, e outros, para estruturar o "Divino Amigo", na Vila dos Marmiteiros, ou do Santos, lá no Morro do Querozene, com a "Casa da Betinha", do Pedro Ziviani e do Badi, lá no Bom Jesus. Hoje mudou tudo, irmão...não é mais assim...
-Concordo plenamente, professor. Tenho participado de reuniões e ouvido reclamações dos obreiros que agem na Terra, que sistematicamente se referem à elitização da prática da doutrina. A começar pelo preço dos livros. Absurdo! Feiras que dão desconto de 40 por cento! Ou estavam lucrando demais antes ou estão empurrando os encalhados...pífio mercadejar!
-Sim... muitos se escondem atrás da necessidade da divulgação da doutrina para negócios no mínimo estranhos, pior, sem escrúpulos. Das quase quinhentas obras do Chico, todas foram doadas, sem quaisquer ônus, para que as editoras e fundações pudessem disseminar a palavra dos mensageiros. Mas, infelizmente, alguns fizeram um balcão voraz onde a ganância, a cupidez, crescentemente se acentuam, dominam...
-Mas voltando ao Chico, professor, o que fazer pra ajudá-lo a sair desta?
-Olha, meu caro, não está fácil. A turma é indócil e não vai largar o filão altamente lucrativo, que hoje financia construções faraônicas, banca viagens e caravanas de doutrinação e visitas ao exterior, com humildade nas palestras e ostentação nas estadias penta-estelares. Em Belo Horizonte, próximo à favela que o bom João Nunes Maia ajudava, estão construindo uma enorme e moderna edificação, da "Casa de Chico". Milhões e milhões, vindos da venda exorbitante das obras doadas. Um palácio arquitetônico. Um deboche à doutrina do Consolador! E claro, literalmente de costas para o povo que sofre....
-É... professor... é uma situação realmente assustadora. É uma demonstração de indiferença diante de uma realidade terrena cruel. Não se vê mais investimentos em campanhas contra o aborto, a eutanásia, a pena de morte, o suicídio, e aos poucos as forças do atraso vão se apoderando. Até as reuniões estão escassas. Tudo está virando livraria. Mas- contemporizei- este é o mundo...
-Sim...caro amigo, este é o mundo. Mas a utilização do nome, do conceito e da vida do Chico para esses expedientes é que é doloroso, sobretudo para ele. Se quisessem realmente homenageá-lo, deveriam estar empenhados em minorar o sofrimento dos desvalidos, em ajudar na construção de lares com dignidade, na feitura de casinhas. Talvez até de hospitais, beneficentes, ou de estímulos às campanhas, bucólicas mas importantes, como a dos enxovaizinhos, de apoio às gestantes...aí sim, ele se abriria em sorrisos... ah! se o dinheiro que vão torrar com as homenagens e estratégias de bajulação fosse aplicado nos orfanatos, numa escola profissionalizante...no amparo às pessoas da rua... (suspira...)
-...O senhor sabe, prof. Rubens, -adverti- que reagirão com veemência, os que estão a preparar as bodas...e nos acusarão de demagogos, etc e tal...com a assertiva repisada do "...pobres...sempre os tereis..."...
-Claro, nobre irmão...claro que sabemos disso. Forças das trevas fornecem argumentações bem elaboradas... revestidas de lantejoulas e brilhos, para consagrar seus nédios feitos. Quantos foram à fogueira, aos martírios, sob o guante de exponenciais explicações e justificativas ditas cristãs ?! Mas ai desses que pensam enganar o mundo...ai desses que traem os próprios conceitos e consciências. Ai desses que fazem a dita "caridade de fachada", criando "obras" para dourar pílulas! Ai desses que fazem cair essa lágrima de Chico... Muito será pedido a quem muito for dado... e a Doutrina de Jesus, sobretudo a Espírita, é a que mais ampliou nosso patrimônio de saber da eternidade...daí...-concluiu.
Não pude deixar de perceber uma nesga de sofrimento nas palavras daquele espírito já tão elevado. Despedi-me, bem emocionado, respeitando aquele momento que poderia chamar de ira santa. -Talvez ainda haja tempo de evitar o mal maior- consolei-o, saindo.
Enquanto no horizonte a treva vencia a luz, anunciando o império da noite, matutei, tentando vislumbrar para mim mesmo, explicações e caminhos, na esperada aurora. Acudiu-me a lembrança da última vez que estive com o luminoso Chico, quando ele, feliz, comunicava estar aprendendo o idioma iorubano. Dizia o Apóstolo, que se preparava para a tarefa de estimular a evolução da mediunidade, entre o pessoal das crenças afro-descendentes, na língua deles. -"Eles tem a pureza no coração"-dissera. Acho que agora entendo melhor o porquê.
Humberto de Campos
Mensagem recebida pelo médium Arael Magnus em 8 de Janeiro de 2009 no Celest- Centro Espírita Luz na Estrada- Fundoamor- Fundação Operatta de Amparo e Orientação- Estrada Velha de Nova Lima 1275- Castanheiras- Sabará

ABAIXO TEXTO DE JORGE HESSEN


O ESPIRITISMO VEIO PARA O POVO E COM ELE DIALOGAR
(24.02.06)
Quando pensamos nos milhares de espíritas de pouca cultura, humildes e materialmente pobres, porém verdadeiros vanguardeiros da Terceira Revelação; quando imaginamos que o edifício doutrinário se mantém firme em face do amor desses lídimos baluartes do Evangelho, impossível não nos entristecermos quando se trombeteia em nossas hostes os excesso de consagração das elites culturais.
"A presença do elitismo nas atividades doutrinárias (...) vai expondo-nos a dogmatização dos conceitos espíritas na forma do Espiritismo para pobres, para ricos, para intelectuais, para incultos(...)"(1)
Chico Xavier já advertia em 1977, "É preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita(...)o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que estudemo-lo junto com as massas mais humildes social e intelectualmente falando e deles nos aproximarmos(...)Se não nos precavermos, daqui a pouco estaremos em nossas casas espíritas apenas falando e explicando o Evangelho de Cristo, às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais(...)" (2)
Acompanhamos com muita reserva o surgimento de várias associações de: jornalistas, psicólogos, pedagogos, escritores, magistrados, médicos. Esse espírito corporativista é inaceitável sob a ótica cristã. Aliás, corporações essas que promovem elegantes eventos (quase sempre cobrando-se taxas de inscrição) para aguçar a vaidade de alguns confrades que não perdem a oportunidade de atrair para si os holofotes da "fama".
Os eventos gratuitos devem ser realizados, obviamente, porém urge considerar que esses simpósios sejam estruturados sobre programação aberta a todos e de interesse da doutrina, não para ser uma ribalta de competição para intelectuais com titulação acadêmica, como um "passaporte" para traduzirem "melhor" os conceitos kardecianos.
Caso contrário, consigna o editorialista da Revista O Espírita, "Chico Xavier, Divaldo Franco, tanto quanto no passado Lèon Denis, que era caixeiro-viajante, não poderiam participar desses conclaves, sob pena de se sentirem desambientados e constrangidos, por não terem titulação conferida pelas universidades do mundo. Para não falarmos do próprio Cristo, que não passou da condição de modesto carpinteiro".(3)
Sinceramente, não conseguimos compreender o Espiritismo, sem Jesus e sem Kardec para todos, com todos e ao alcance de todos, a fim de que o projeto da Terceira Revelação alcance os fins a que se propõe.
É ainda Chico Xavier que ensina: "Por mais respeitáveis os títulos acadêmicos que detenhamos, não hesitemos em nos confundir na multidão para aprender a viver, com ela, a grande mensagem. (...)". (4)
Reenfatizamos as admoestações de Chico Xavier, "Precisamos conversar desapaixonadamente sobre o nosso movimento. É preciso que nós, os espíritas, compreendamos que não podemos nos distanciar do povo. É preciso fugir da tendência à "elitização" no seio do movimento espírita. É necessário que os dirigentes espíritas, principalmente os ligados aos órgãos unificadores, (5) compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar. É indispensável que estudemos a Doutrina Espírita junto com as massas, que amemos a todos os companheiros, mas sobretudo, aos espíritas mais humildes social e intelectualmente falando e deles nos aproximarmos com real espírito de compreensão e fraternidade. Se não nos precavermos, daqui a pouco estaremos em nossas casas espíritas apenas falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais e confrades de posição social mais elevada. Mais do que justo evitarmos isso, a "elitização" no Espiritismo, isto é, a formação do "espírito de cúpula", com evocação de infalibilidade, em nossas organizações".(6)
Portanto, devemos buscar pela simplicidade doutrinária evitar tudo aquilo que lembre castas, discriminações, evidências individuais, privilégios injustificáveis, imunidades, prioridades. Que repensemos as associações de profissionais A,B,C...
Aliás, amigo leitor, você conhece alguma associação espírita de carpinteiros, marceneiros, lavadeiras, passadeiras, garis, pedreiros, serventes?

Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net

FONTES:
1- Editorial da Revista O Espírita, ano 11 numero 57-jan/mar/90.
2- Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979.
3- Editorial da Revista O Espírita, ano 11 numero 57-jan/mar/90.
4- Cf. Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979.
5- Fazemos uma justa ressalva para preservar a Federação Espírita Brasileira, que tem orientado de forma grandiosa como as federativas estaduais devem proceder. Lamentavelmente essas que se perdem muitas vezes nos labirintos das promoções de shows de elitismo. Patrocinam eventos para espíritas endinheirados, e cobram taxas e se perdem na sua tarefa unificacionista. Conhecemos federativa que chega a gastar R$. 100.000,00 (cem mil reais) para promover evento para 5.000(cinco mil) pessoas como se o Espiritismo necessitasse desses eventos "grandiosos". Precisamos retornar à simplicidade doutrinaria, conforme nos advertiu Bezerra de Menezes através de Ivone Pereira.
6- Idem

sábado, 25 de abril de 2009

MILAGREIROS DO ALÉM, POMADISMOS E CURANDEIRISMOS



A revista Veja de 14/06/2000, pág. 68, traz longa reportagem intitulada "Não ajuda em nada", demonstrando que pesquisas confirmam uma realidade preocupante, que tratamentos alternativos (místicos) comprovadamente são ineficazes no restabelecimento da saúde de pacientes, especialmente com câncer.É lastimável acompanharmos a Imprensa comum dando notícias sobre "Espíritos" que têm fornecido dietas para regime de emagrecimento ou, ainda, divulgam que cirurgiões do "além" que vão retalhando corpos em nome de operações "espirituais", outros que prescrevem receitas com medicamentos alopáticos, fitoterápicos (ervas "milagrosas") e chás de "coisa nenhuma".O Espírito André Luiz adverte: "Aceitar o auxílio dos missionários e obreiros da medicina terrena, não exigindo proteção e responsabilidade exclusivos dos médicos desencarnados" (1)É atitude equivocada a tendência de subestimar a contribuição da medicina humana, entregando enfermidades aos Espíritos milagreiros do além (de preferência cirurgião com nome germânico ou hindu) para que "curem" complexos processos de metástases, por exemplo.Os conceitos espíritas nos remetem à certeza que a matriz das doenças está fincada no estado mental do enfermo, portanto, a rigor, não serão agentes externos que determinarão curas para os que teimam permanecer entorpecido na condição de revolta e dubiedades ante os códigos de justiça vigentes nos Estatutos Divinos, ou naqueles que só se refarão sob o guante dos legítimos processos de enfermidades em face dos dispositivos de causa e efeito, até porque "A doença pertinaz leva à purificação mais profunda" (2)Os Espíritos não estão a disposição para promoverem curas de patologias que não raro representam providências corretivas para nosso crescimento espiritual no buril expiatório. Nesse sentido, os dirigentes de núcleos espíritas deveriam promover bases de estudos e reflexões sobre as propostas filosóficas, científicas e religiosas do Espiritismo ao invés de encetarem trabalhos espirituais para os inócuos "curanderismos".Os preceitos doutrinários esclarecem-nos que devemos "Aproveitar a moléstia como período de lições, sobretudo como tempo de aplicação de valores alusivos à convicção religiosa. A enfermidade pode ser considerada por termômetro da fé".(3)São inoportunas certas manifestações de promessas de "curas" de obsessões com sessões da famosa corrente magnética brasiliense (prática "inventada" em Brasília, por grupos que seduzem empolgados "filantropômanos" através do apelo assistencialista, inoculando estranhas práticas doutrinárias) como a magnetização "desobsessiva" para afastar Espíritos aos moldes de como se espanta moscas das feridas expostas. Para consubstanciar esse objetivo recorrem ao auxílio da varinha de condão do chamado "choque anímico" com o qual os enfermos se "libertam" dos obsessores, conforme promete livro(4) publicado pelos seguidores desse movimento equivocado.Há, ainda outros núcleos que propõem aplicações de luzes coloridas (cromoterapias) para higienizar auras humanas e curar (pasmem): azia, cálculo renal, coceiras, dores de dente, gripes, soluços em crianças, verminose, frieiras, conforme propaga literatura específica.(5) Acreditem!! Se não bastasse recomenda-se até carvãoterapia (?!) para neutralizar "maus-olhados" nesse sentido, segundo crêem é só colocar um pedaço de tora de carvão debaixo da cama e estaremos imunes do grande flagelo da humanidade - o "olho comprido" !! Muitas instituições espíritas do DF têm distribuído o remédio (cura tudo do momento) uma tal pomada do "vovô fulano". O que se nota, a bem da verdade, é que ainda não há rigor suficiente das instituições espíritas para com a pureza doutrinária tão-necessária, pois não se viu bater em retirada de todos os rincões do meio espírita os sistemas divergentes, que teimam em se alojar aqui e ali, na tentativa de, pelo decurso do tempo, serem confundidos e aceitos como Espiritismo de fato: ramatisismo, roustainguismo, ubaldismo, armondismo, umbandismo etc, e mais os apometristas, cromoterapistas, pomadistas, cepistas etc. O que se quer é a transparência doutrinária no movimento espírita ou a confusão doutrinária? Se for transparência doutrinária, então, maior rigor para com os divergentes, a fim de que desanimem e se afastem de vez por todas. A vida moderna, globalizada ou não, está a pedir, isso sim, posicionamentos e comportamentos firmes e consentâneos com a proposta espírita. Como bem recomenda o ínclito Codificador, em Viagem Espírita 1862, pág. 33: "O excesso em tudo é prejudicial, mas, em semelhante caso, vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de confiança". Sabemos que os que lêem estas linhas podem pensar que estamos revestidos de idéias ficcionais, mas podemos assegurar que não teríamos materiais tão imaginativos.Em recente entrevista ao jornal Alavanca - abril/maio-2000 - Divaldo Franco adverte sobre as "terapias alternativas", "curandeirismos" e a fascinação na prática mediúnica, apontando-as como fatores que têm desestabilizado o projeto da unidade doutrinária". É por essas e outras que a revista Veja, abril de 1999, registra que os médicos da ala conservadora da psiquiatria consideram os médiuns como dotados de neuroses, psicoses, desvios de personalidade, esquizofrenias. Se pararmos para refletir daremos uma certa razão para esses profissionais, até porque muitos adeptos do Espiritismo não conhecem os livros de Allan Kardec, Emmanuel, André Luiz, Joanna de Ângellis, Bezerra de Menezes, Vianna de Carvalho e outros consagrados expoentes da difusão doutrinária e lastimavelmente estão aguilhoados nas práticas que comprometem todo projeto doutrinário.O exercício dos Códigos Evangélicos nos impõe a obrigatória fraternidade e compreensão aos adeptos dessas esquisitas práticas, o que não equivale dizer que devemos nos omitir quanto à oportuna admoestação para que a Casa Espírita não se transforme em academia de andróides hipnotizados pela fantasia e ilusão.
Jorge Hessen



FONTES:(1) Luiz, André, Conduta Espírita Cap.35. Editora FEB:RJ /1977-5ª edição(2) Idem(3) Idem(4) Colegiado dos Vínculos Fraternais, Desobsessão por Corrente Magnética, 1ª edição Sociedade de Divulgação Espírita "Auta de Souza"-1996.DF(5) Nunes, René. Cromoterapia.A Cura Através da Cor.Editora Asa Sul./Brasilia 1ª edição

sábado, 18 de abril de 2009

DIANTE DOS MAUS PROFISSIONAIS, URGE EXERCITAR A TOLERÂNCIA, SEM CONIVÊNCIAS





Em quaisquer ambientes de trabalho, é urgente o combate à agressividade e sua raiz, com exemplos vivos de tolerância e de educação primorosa. Não por essa educação que tende a fazer homens credenciados pela academia de ciência (em que pese muitos serem péssimos profissionais), todavia, pela educação que tende a fazer profissionais honrados. "A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral." (1) Há alguns dias, recebemos sugestão para comentar a respeito das "profissões e profissionais". O solicitante informou que, tempos atrás, a sua avó fora mal tratada em um hospital de Petrópolis/RJ, razão pela qual, sua mãe se viu forçada, naquela época, a transferi-la para outro hospital do Rio de Janeiro, onde o respeito humano fosse incondicional e mutuamente retribuído. Recordou, também, que o seu pai, já doente terminal, em um hospital de Brasília, foi vítima de maus tratos de um médico despreparado para a profissão, com quem foi obrigada a se indispor, chegando ao limite da indignação, dizendo-lhe aos prantos e em bom tom: - "Peço a Deus que meu pai morra antes do seu próximo plantão, porque nas mãos de Deus ele estará livre da sua crueldade!".
Mesmo sabendo que um médico não deve curar, apenas, pelos conhecimentos acadêmicos que possui, mas demonstrar sentimento de solidariedade, humanidade, compaixão e fraternidade aos seus assistidos, entendemos que essas reações que desarticulam os sentimentos dos parentes amorosos, não são desejáveis para quem almeja um projeto de elevação espiritual.
É fato! Muitos profissionais, não depositam fé no homem nem em Deus. São agressivos, pernósticos, mentirosos, resultado da deseducação. No setor de saúde, da segurança pública, do magistério e outros setores de trabalho, encontramos profissionais inabilitados para exercer o serviço. São "profissionais" que desonram seus pares através de manifestas atitudes de brutalidade, de incapacidade técnica, de preguiça, de maledicências. Geralmente, são os que mais reclamam dos colegas, do ambiente de trabalho, do salário, do governo etc. São "profissionais" (com aspas!) frustrados, destituídos de elevados sentimentos, ainda, não desenvolvidos. Portanto, mal-amados por não saberem amar. Exigem eficiência dos outros, porém, são, extremamente, ineficientes e, comprovadamente, incompetentes na profissão que exercem. Para completar, e o que é pior, desconhecem a ética profissional.
Por essas razões, não raramente, deparamo-nos com médicos impulsivos, negando a mínima consideração aos pacientes, e, por outro lado, os enfermos irritados que se lhes opõem, em razão da fragilidade emocional em que se encontram, revidando essa indiferença, essa insensibilidade; nas escolas, vemos professores responsáveis por inumeráveis males e o sarcasmo de alguns alunos, tanto quanto as garras de um animal ameaçado. Em ambos os casos, representam indícios naturais da condição evolutiva em que se encontram. O autor de qualquer injustiça invoca o mal, que conspira contra ele mesmo. Destarte, o mal só é, realmente, mal para quem o pratica. Revidá-lo, por revidar, na base de inconseqüência em que se expressa, (o mal) consome as energias de quem o sustenta. Por isso, devemos vigiar para não sermos vítimas das emoções incontroláveis. Isso não equivale dizer que não devamos admoestá-los de forma enérgica se necessário for, porém, sem perdermos o equilíbrio.
Na condição de espíritas, devemos encarar a ignorância como chaga de grande porte e o remédio é participar das debilidades alheias com orações, de onde surgem as mais inteligentes e adequadas soluções no tratamento de uma chaga, porquanto, golpear a ferida, desairosamente, será o mesmo que transformar a doença curável em um carcinoma incurável. A tolerância, sem conivência, é exercício descomunal de completo domínio da situação e rápido esquecimento de todo o mal, com ação permanente no bem. Quem pronuncia palavras de agressão de maneira constante, demonstra acalentar a volúpia da mágoa com que se acomoda, perdendo tempo precioso na conquista de si mesmo.
Resolver um problema complexo diante dos maus profissionais é ter autoridade moral para olvidar a sombra, buscando a luz. Não é dobrar joelhos ou escalar galerias de superioridade falaciosa, teatralizando os impulsos do coração, mas, sim, persistir no trabalho renovador, criando o bem e a harmonia entre todos, pois, aqueles que não nos entendem de pronto, observam-nos a conduta espírita, e, e em determinado momento, compreenderão o idioma inarticulado da força moral. Oferece-nos o Cristo o modelo da tolerância ideal, em regressando do túmulo ao encontro dos aprendizes desapontados.
Os princípios da Doutrina Espírita, em seu tríplice aspecto - Filosofia, Ciência e Religião - fundamentam-se na moral do Cristo, que é a mais elevada expressão da Ética. O comportamento ético-espírita não está circunscrito aos momentos em que estamos na Casa Espírita ou no atendimento às carências do próximo. Ele deve constituir o nosso modo de ser e de agir em todas as circunstâncias da vida. "Compete-nos manter uma conduta ética no cotidiano, em todas as relações que estabelecemos com o semelhante e a sociedade, ainda que em detrimento de nosso interesse pessoal. Cabe-nos viver e exemplificar a conduta ética no lar, na vida profissional, nos negócios, na política, na administração pública, bem como nas outras situações, consultando sempre a consciência, onde está escrita a lei de Deus." (2)
Como percebemos, foi o Mestre Jesus que demonstrou o amor como base para a vida, dando início ao primado do dever e da moral como essenciais à felicidade humana. "Surge, assim, a ética cristã, fundamentada nos ensinos do Mestre. Pedro e seus companheiros vivenciam o amor e praticam a caridade na Casa do Caminho. Paulo de Tarso dá-lhe consistência, traçando diretrizes de ordem comportamental aos gentios em suas memoráveis Epístolas, das quais destacamos estes preceitos: "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem" (5) Portanto, oremos para os maus médicos, professores, policiais, fiscais, etc., e exerçamos a tolerância, permanentemente, até porque, tais profissionais haverão de, inexoravelmente, prestar contas com as supremas leis da vida.
Como iremos manter o equilíbrio diante dos maus profissionais, se perdemos longas horas na posição de irritação ou de revolta? Emmanuel nos ensina que "a indignação rara, quando justa e construtiva no interesse geral, é sempre um bem, quando sabemos orientá-la em serviços de elevação; contudo, a indignação diária, a propósito de tudo, de todos e de nós mesmos, é um hábito pernicioso, de conseqüências imprevisíveis." (6)
O desânimo também é situação anestesiante, que entorpece e destrói. Isso, sem falar da maledicência ou da inutilidade, com as quais despendemos tempo valioso e longo em conversação infrutífera, extinguindo as nossas forças. O Benfeitor, ainda, adverte: "Que gênio milagroso nos doará o equilíbrio orgânico, se não sabemos calar, nem desculpar, se não ajudamos, nem compreendemos, se não nos humilhamos para os desígnios superiores, nem procuramos harmonia com os homens?" (7) Fujamos à brutalidade, enriquecendo os nossos pontos de simpatia pessoal, pela prática do amor fraterno. Sirvamos sempre na extensão do bem, guardando lealdade ao ideal superior que nos ilumina o coração, e permaneçamos convictos de que, se cultivamos a oração da fé viva, em todos os nossos passos, em qualquer lugar, Deus nos auxiliará sempre.

Fontes:
1· Kardec Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, perg 917
2· VIEIRA Waldo. Conduta Espírita, pelo Espírito André Luiz. 5 a. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1974,
3· Xavier Francisco Cândido. Momentos de Ouro, Espíritos diversos, São Paulo: Ed GEEM, 1977
4 Hipocrisia
5 Romanos 12:21
Xavier, Francisco Cândido. Fonte Viva, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001
Idem

sábado, 4 de abril de 2009

ABORTO EM PERNAMBUCO - ALGUMAS PALAVRAS





No Brasil, todos os anos, há 30.000 gestações de menores de 14 anos. Recentemente, na pequena Alagoinha, uma cidade de 14 mil habitantes, no interior do Estado de Pernambuco, um religioso aplicou o dispositivo canônico (1) contra a mãe de uma menina de 9 anos e da equipe médica que submeteu a menina a um aborto de gêmeos em razão de ter sido vítima de estupro. O episódio levantou muitas celeumas, inclusive com repercussão na imprensa internacional. A menina já estava com 4 meses de gestação. O pai dos bebês seria o padrasto, um rapaz de 23 anos, que vivia com a mãe da gestante. O inusitado do fato é que o religioso não aplicou dispositivo canônico contra o estuprador.

Fugindo do ranço da espetacularização midiática, é importante citar que mais de 90% da população brasileira é contrária à legalização do aborto, segundo pesquisa do IBOPE. O Espiritismo também é contra, admitindo-o, apenas, quando a mãe corre risco de morte. Vejamos o caso da menina: se a gravidez dos gêmeos seguisse seu curso, cada bebê deveria nascer pesando mais de 2,5 quilos, o que implicaria a gestação chegar ao final de 9 meses com mais de 5 quilos. A razão demonstra que as conseqüências dessa gestação seriam catastróficas. E, mais ainda, uma gravidez ocasionada pelo estupro, é indiscutivelmente traumática e dolorosa. Seria uma insensatez imensurável se a espiritualidade promovesse uma programação reencarnatória de dois espíritos, ao mesmo tempo, no ventre de uma criança de apenas 9 anos de idade. Ou será que a equipe médica foi mais racional que os especialistas em reencarnação do além-túmulo? Nesse caso, nem me venham com a tagarelice do desgastado chavão "a menina está pagando um débito do passado".


No Brasil, é comum a absolvição dos criminosos, pela "benevolência" dos homens, e as penalidades das leis, não raro, recaírem sobre as vítimas, em autêntica inversão. Quem defende a vida da vítima de 9 anos? Quem restituirá os prejuízos advindos da prática violenta cometida pelo padrasto? Essa Igreja, com todo respeito a seus líderes, necessita rever alguns conceitos, modernizar as idéias e se adequar ao mundo contemporâneo. Os seguidores dessa Igreja, tal como ela é, aferrada a sua lógica interna, seus princípios medievais, dogmas e cânones, pouco podem fazer. Embora existam sacerdotes dignos de respeito e admiração, defensores dos anseios das pessoas humildes com as quais convivem, a burocracia hierárquica jamais lhes concederá voz ativa.

Ao promulgar a sentença canônica, será que o religioso teria conhecimentos tão abalizados, superiores aos dos médicos ginecologistas que, enobrecidos pelo conhecimento acadêmico, lidam, diariamente, com o fenômeno biológico da maternidade? A bem da verdade, no caso poderia haver uma obstrução do parto, causado pela desproporção cefalopélvica, que ocorre quando a abertura pélvica da mãe é pequena para permitir que a cabeça do bebê passe durante o parto. A septicemia (infecção generalizada), o descolamento da placenta por conta da hipertensão arterial, a hipertensão ocasionada pela gravidez, inclusive pré-eclampsia e eclampsia, se não tratados, podem provocar parada cardíaca ou derrame, resultando em morte, tanto para a mãe como para o bebê.

Que nas hostes espíritas não ocorra o vexame da intolerância, perseguição, boicotes, torturas e perversidades que as muitas religiões têm praticado ao longo da história, sobretudo diante de fatos semelhantes aos que ora analisamos. Será que a bestialidade do estupro poderia ter sido evitada com a intervenção espiritual? Será que os espíritos responsáveis pelo controle das encarnações erraram ao permitir que uma criança, de apenas 9 anos, engravidasse? Considerando que uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime, sempre, ao tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, não me permito acreditar que existiam espíritos ligados aos dois corpos em formação. Pois é! Não há como acreditar em "programação espiritual" para que alguém reencarne e tenha que passar pela penúria de engravidar, por ato de violência de um padrasto, e ter filhos aos 9 anos de idade.

Os espíritas, principalmente, sabem que a interrupção da gravidez, com a destruição do produto da concepção, é crime. O Código Penal brasileiro não contempla a figura do aborto legal, todavia torna impunível o fato típico e antijurídico dessas circunstâncias. Não existe "aborto legal", exceto onde houver risco à vida da mulher, que, nesse caso da menina, foi um aborto necessário, segundo minha opinião. Na resposta dada à questão 359, em O Livro dos Espíritos, fica clara a situação: "Preferível é se sacrificar o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe." (2)

Há casos e casos, há exceções, há atenuantes que não vamos discutir aqui. É mais do que lógico que o aborto não pode ser banalizado a partir do caso da pequena pernambucana. Devemos lutar pela vida, sempre, em qualquer circunstância, mas prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Apesar de o Brasil carregar um troféu nada confortável de ser o campeão mundial do aborto, não creio que o caso da menininha estuprada em Pernambuco sirva de exemplo para propagação do aborto como método contraceptivo.



Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net

FONTES:
1- O cânon 1398 - "excomunhão" - palavra que tem sua origem no latim 'ex-communione' e designa a ação ou resultado de excomungar, isto é, expulsar da Igreja Católica. Suspensão de parte da totalidade de bens espirituais de alguém como pena por delito religioso
2- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. RJ: Ed FEB, 2003, perg. 359