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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

NO REINO DE MOMO A CARNE NADA VALE


Sem querer ditar regras de falsos purismos e cansativos sermões encharcados de ladainhas, não nos furtamos de comentar sobre mais um período momesco que se aproxima. Tradicionalmente, são três dias que antecedem à Quaresma [período de quarenta dias, que vai da Quarta-Feira de "Cinzas" até o Domingo de Páscoa, consoante preceito catolicista] que instalou-se com vigor descomunal em todo o País. Muitos crêem que as "cinzas" são o que sobra do "enterro da tristeza", em face dos três dias de "alegria", ou, ainda, tudo que sobrou do tal espetáculo. Em verdade, a única cinza que o cristão deveria encontrar seria aquela que representa a cremação do seu passado de erros, pulverizado por um presente de acertos e esforços no sentido do progresso real.
Carnaval é um termo oriundo de uma festa romana e egípcia em homenagem ao Deus Saturno, quando carros alegóricos (a cavalo) desfilavam com homens e mulheres. Eram os carrum navalis, daí a origem da palavra "carnaval". Há quem interprete a palavra conforme as primeiras sílabas das palavras da frase: carne nada vale. Como festa popular, poderia ser um acontecimento cultural plausível, não fossem os excessos cometidos em nome da alegria. Quando se pretende alcançar essa alegria, através do prazer desregrado e dos excessos de toda ordem, o resultado é a insatisfação íntima, o vazio interior provocado pelo desequilíbrio moral e espiritual. Portanto, não fossem os exageros, o Carnaval, como festa de integração sócio-racial, poderia tornar um acontecimento relativamente aceitável, até porque, não admitir isso é incorrer em erro de intolerância. Porém, merece reflexão a advertência de André Luiz: "Afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do CARNAVAL, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança." (1) (destacamos)
É o momento em que o espírito humano pode exteriorizar o que há de mais profundo, de mais primitivo em si mesmo. A ebulição momesca é evento que carrega, em si, a carga da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre nós, os encarnados, marcados pelas paixões do prazer violento. Costuma ser chamado de folia que vem do francês folle que significa loucura ou extravagância.
Já "foi um dia a comemoração dos povos guerreiros, festejando vitórias; foi reverência coletiva ao deus Dionísio, na Grécia clássica, quando a festa se chamava bacanalia; na velha Roma dos césares, fortemente marcada pelo aspecto pagão, chamou-se saturnalia e, nessas ocasiões, imolava-se uma vítima humana." (2) Nos dias conturbados de hoje, sabe-se que "(...) de cada dez casais que caem juntos na folia, sete terminam a noite brigados (cenas de ciúme, etc.); que, desses mesmos dez casais, posteriormente, seis se transformam em adultério, cabendo uma média de três para os homens e três para as mulheres (por exemplo); que, de cada dez pessoas (homens e mulheres, no caso) no carnaval, pelo menos sete se submetem espontaneamente a coisas que normalmente abominam no seu dia a dia, como álcool, entorpecente, etc. Dizem, ainda, que tudo isso decorre do êxtase atingido na Grande Festa, quando o símbolo da liberdade, da igualdade, mas, também, da orgia e depravação, somadas ao abuso do álcool, levam as pessoas a se comportarem fora do seu normal (...)" (3) O Espírito Emmanuel adverte: "Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (...) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem."(4)
Quando nos damos aos exageros de toda sorte, as influências perniciosas se intensificam e, muitas vezes, deixamo-nos dominar por espíritos maléficos, ocasionando os infelizes fatos de todos os tipos de violências. Nesse cenário, os obsessores "influenciam, durante o Carnaval, os incautos que se deixam arrastar pelas paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis, comuns por essa época do ano, e através dos quais eles próprios, os Espíritos, se locupletam de todos os gozas e desmandos materiais, valendo-se, para tanto, das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos mesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram." (5)
Portanto, além da companhia de encarnados, vincula-se a nós uma inumerável legião de seres invisíveis, recebendo deles boas e más influências a depender da faixa de sintonia em que nos encontremos. As tendências ao transtorno comportamental de cada um, e a correspondente impotência ou apatia em vencê-las, são qual imã que atrai os espíritos desequilibrados e fomentadores do descaso à dignidade humana, que, em suma, não existiriam se vivêssemos no firme propósito de educar as paixões instintivas que nos animalizam. Diante disso, Emmanuel ratifica a admoestação: "É lamentável que na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhes a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhes as belezas e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza [CARNAVAL] entre as sociedades que se pavoneiam com os títulos da civilização." (6) (destaque nosso)
Será válido fechar as portas dos centros espíritas nos dias de Carnaval, ou mudar o procedimento das reuniões? Existem alguns centros que fecham suas portas nos feriados do carnaval por vários motivos não razoáveis. Repensemos: uma pessoa com necessidades imediatas de atendimento fraterno, ou dos recursos espirituais urgentes em caso de obsessão, seria fraterno fazê-la esperar para ser atendida após as "cinzas", uma vez ocorrendo essa infelicidade em dia de feriado momesco? Convém lembrar que Jesus curava aos sábados, mesmo que o costume da época não permitisse. Por isso mesmo, Ele disse: "Por que não posso curar aos sábados se meu Pai trabalha sempre?". (7)
Os foliões inveterados alegam que o carnaval é um extravasador de tensões, liberando as energias... Todavia, no período carnavalesco, não encontramos diminuídas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se vê é um verdadeiro somatório da violência urbana e de infelicidade familiar. As estatísticas registram como consequências do "reinado de Momo", por exemplo, gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de abortos provocados, acidentes automobilísticos, aumento da criminalidade, estupros, suicídios, incremento do uso de diversas substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o surgimento de novos viciados, disseminação das doenças sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e as ulcerações morais, marcando, profundamente, certas almas desavisadas e imprevidentes.
Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas reparações. É bom pensarmos um pouco nisto: o que o carnaval traz ao nosso Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? Será que o apelo de Momo faz de nós homens ou mulheres melhores? Edifica o nosso Espírito? Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas festas de Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum mal acarreta à nossa integridade fisiopsicoespiritual. No entanto, por detrás da aparente alegria e transitória felicidade, revela-se o verdadeiro atraso espiritual em que ainda vivemos, pela explosão de animalidade que ainda impera em nosso ser. É importante lembrá-los de que há muitas outras formas de diversão, recreação ou entretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, alguns verdadeiros meios de alegria salutar e aprimoramento (individual e coletivo), para nossa escolha.
Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da "abstinência sincera dos folguedos", do controle das sensações e dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo, o entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológica para os embates pela sobrevivência.
Em síntese, se o Carnaval é uma ameaça ao bem-estar social, nós espíritas temos muito a ver com ele, porque uma das tarefas primordiais de nossa Doutrina é a de lutar por dispositivos de preservação dos valores mais dignos da Sociedade, sem que se violente, obviamente, o direito soberano do livre-arbítrio de cada um, mas não nos esquecendo que no carnaval sempre ocorre obsessão (espiritual) como resultado da invigilância e dos desvios morais. Somente poderemos garantir a vitória do Espírito sobre a matéria, se fortalecermos a nossa fé, renovando-nos mentalmente, praticando o bem nos moldes dos códigos evangélicos, propostos por Jesus Cristo, e não esquecendo os divinos conselhos do Mestre: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca''(8)

Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
(1) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espirito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 "Perante As Fórmulas Sociais"
(2) Artigo publicado na Revista Visão Espírita - Março de 2000
(3) São José Carlos Augusto. Carnaval: Grande Festa...De enganos! , Artigo publicado na Revista Reformador/FEB-Fev 1983
(4) Xavier , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987
(5) Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998
(6) idem
(7) João 5:17.
(8) Mt 26:41

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

OBSESSÃO, O ENCONTRO DE FORÇAS INFERIORES...





Quando nos perguntam por que a vida é tão difícil e às vezes tão amarga, relembramos o Evangelho Segundo o Espiritismo que explica essa sensação pode ser uma aspiração à felicidade e à liberdade e que, preso ao corpo que nos serve de prisão, extenuamos em vão esforços para dele sair. Todavia, lamentavelmente alguns prostram no desencorajamento, e a todo o instante aguçam as lamúrias. É mister resistir estoicamente a esses desalentos e desesperanças, porque as aspirações para a felicidade plena são inatas a todos nós, mas, obviamente não as procuremos nessa vida transitória da Terra.
Ressalta o Espírito François de Geneve que precisamos cumprir, durante nossa prova terrena, tarefas e compromissos que não suspeitamos, seja no que tange à devoção à família, ou cumprindo diversos deveres que Deus nos confiou. Se no transcurso dessa experiência, no desempenho das tarefas, observamos os cuidados, as inquietações, os desgostos esmagarem nossos ânimos d'alma, sejamos fortes e corajosos para os derrotar. Avancemos e arrostemos destemidos; pois que elas [as aflições] são de curta duração e devem nos conduzir para situações bem melhores no futuro.
Porém, precisamos analisar sob outro enfoque quando as amarguras podem ter suas origens na infidelidade aos compromissos cristãos, daí a melancolia se instala em nosso ser, o que resultará numa obsessão ou brechas para as perturbações espirituais.
A propósito dessa obsessão, etimologicamente o termo tem a sua origem no vocábulo obsessione, palavra latina que significa impertinência, perseguição, vexação.
Para muitos estudiosos espíritas a obsessão é interpretada como um verdadeiro flagelo mundial. Essa visão se reveste de profunda gravidade na sociedade, atualmente bem instrumentalizada tecnologicamente, seja no campo das comunicações e informática e outras áreas do conhecimento científico, ampliando e aprofundando as responsabilidades de cada um em face da vida coletiva.
Aurélio Buarque (dicionarista) define obsessão como preocupação com determinada idéia, que domina doentiamente o espírito, e resultante ou não de sentimentos recalcados; idéia fixa; mania. Da mesma forma a terminologia obsessão é usada, vulgarmente, para significar idéia fixa em alguma coisa, tique nervoso, gerador de manias, atitudes estranhas etc. Porém, sob o enfoque espírita o termo tem um significado e interpretação mais amplos. Ou seja, consubstancia-se numa influência maléfica relativamente persistente que espíritos desencarnados e/ou encarnados, tão ou mais atrasados que nós podem exercer sobre a nossa vida mental.
Muitas vezes, dentro do mesmo lar, da mesma família ou da mesma instituição, adversários ferrenhos do passado se reencontram. Chamados pela Esfera Superior ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se vêem possuídos, uns à frente dos outros, e alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios tóxicos da antipatia que, concentrados, se transformam em venenos magnéticos, suscetíveis de provocar a enfermidade e a morte.
A obsessão espiritual é sintonia ou troca de vibrações afins. Allan Kardec define obsessão como a ação persistente que um Espírito inferior exerce sobre um indivíduo, apresentando caracteres variados, que vão desde a simples influência moral [sem sinais exteriores perceptíveis] até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Ou seja, a obsessão é o encontro de forças inferiores retratando-se entre si.
Importa lembrar nessa circunstância que há quadros de obsessões explodindo por todos os lados em todos os níveis, quais sejam de desencarnados para encarnados e vice-versa; de encarnados para encarnados, bem como dos desencarnados para desencarnados.
Nosso mundo mental rege a vida que nos é peculiar em todas as suas dimensões, contudo, nos encontramos ainda no início do entendimento das implicações da força mental, do significado e abrangência das construções mentais na vida. O pensamento exterioriza-se e projeta-se, formando imagens e sugestões que arremessa sobre os objetivos que se propõe atingir. Quando benigno e edificante, ajusta-se às Leis que nos regem, criando harmonia e felicidade, todavia, quando desequilibrado e deprimente, estabelece aflição e ruína. A química mental vive na base de todas as transformações, porque realmente evoluímos em profunda comunhão telepática com todos aqueles encarnados ou desencarnados que se afinam conosco.
Nosso mundo mental é como um céu, mas, do firmamento descem raios de sol e chuvas benéficas para a vida planetária, assim como no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu procedem faíscas destruidoras. Da mesma forma funciona a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico; mas, quando perturbada, emite raios magnéticos de alto teor destrutivo para nossa estrutura psíquica.
Allan Kardec redargüiu dos Espíritos, na questão 466, d'O Livros dos Espíritos, por que permite Deus que os obsessores nos induzam ao mal? - Os Benfeitores explicaram: "Os Espíritos imperfeitos são instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens na prática do bem. Como Espírito, deveis progredir na ciência do infinito, razão por que passais pelas provas do mal, a fim de chegardes ao bem. Nossa missão é a de colocar-vos no bom caminho e, quando más influências agem sobre vós é que as atraís, pelo desejo do mal. Os Espíritos inferiores vêm em vosso auxílio no mal, sempre que desejais cometê-lo; e só vos podem ajudar no mal quando quereis o mal. Então se vos inclinardes para o assassínio, tereis uma nuvem de Espíritos que vos alimentarão esse pendor. Entretanto, terás outros que procurarão influenciar-vos para o bem. Assim se restabelece o equilíbrio e ficais senhor de vós mesmos."
Kardec, em O Livro dos Médiuns, diz que "as imperfeições morais dão acesso aos obsessores e o meio mais seguro de nos livrarmos deles é atrair os bons espíritos pela prática do bem". A obsessão é impotente diante de espíritos redimidos! E o que é um espírito redimido? É aquele que reconhece as suas limitações e, como enunciado pelo apostolo Paulo, sente a alegria de saber-se "matriculado na escola do bem".
Em síntese, identificamos sempre na obsessão (espiritual) o resultado da invigilância e dos desvios morais. Para garantir-nos contra a sua influência urge fortalecer a fé pela renovação mental e pela prática do bem nos moldes dos códigos evangélicos propostos por Jesus Cristo, 'não esquecendo dos divinos conselhos do vigiai e orai."

Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
1- Kardec, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001 cap.V, item 25
2- Dicionário Aurélio eletrônico; século XXI. Rio de Janeiro, Nova Fronteira e Lexicon Informática, 1999, CD-rom, versão 3.0
3- Xavier, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, Cap. Dominação Telepática
4- Idem
5- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos gb., 2003, perg. 644
6- Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 1998
7- (Mateus 26:41;Marcos 14:38; Lucas 21:36 e I Pedro 5:8)."

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

BREVES REFLEXÕES SOBRE CASAMENTO, CELIBATO E SEXO


Foi-nos sugerido escrever um texto sobre sexo, casamento e celibato e debruçamos sobre os temas com forte ênfase voltada para reflexões da energia sexual ou da libido (1), com isso, estamos falando de nossos desejos, de nossas sensações prazerosas, de nossa compreensão sobre a maneira como sentimos e lidamos com as questões que envolvem essas energias. Antes de quaisquer arrazoados sejam arrojados ou tíbios evocamos Emmanuel quando recorda que em torno do sexo, será justo sintetizarmos todas as digressões nas normas seguintes: Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade. Fora disso, é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra da sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um. (2)Cremos que os problemas recorrentes sobre o sexo antes do casamento formal, por exemplo, não estão nas questões do certo e do errado ou se é permissível ou não fazer isto ou aquilo. No estágio moral que nos encontramos, e cientes de que temos o livre arbítrio, os problemas fundamentais são de outra ordem e grandeza, como nos ensina ainda Emmanuel "quem estude os conflitos de sexo, na atualidade da Terra, admitindo a civilização em decadência, tão só examinando os absurdos que se praticam em nome do amor, ainda não entendeu que os problemas do equilíbrio emotivo são, até agora, de todos os tempos, na vida planetária".(3) A sexualidade como expressão de amor está ligada, de forma irreversível, ao poder e à posse. Mais do que isso, o amor validado pela sexualidade, acaba se tornando uma espécie de afeto espacial-geográfico. Eu gosto tanto mais do outro quanto mais eu possuo alguma coisa dele. Todavia, o amor representa a liberdade, e não o inconseqüente sentimento de posse. É a lei de atração e de todas as harmonias conhecidas, sendo a força inesgotável, que se renova sem cessar e enriquece ao mesmo tempo quem dá e quem recebe.Os Espíritos ensinam que o estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos.(4) O casamento constitui um dos primeiros atos de progressos nas sociedades humanas. O casamento será sempre um instituto benemérito, acolhendo, no limiar, em aromas de alegria, paz e esperança aqueles que a vida aguarda para o trabalho do seu próprio aperfeiçoamento e perpetuação. A abolição do casamento seria regredir à infância da humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de certos animais que lhe dão o exemplo de uniões constantes. Destacando-se, porém, que a indissolubilidade absoluta do casamento é uma lei humana muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis. (5) Há quem chega a esse exagero de manifestar propósitos relacionados com a extinção ou abolição do casamento, como se tratasse de costume desnecessário. Enganam-se os que assim pensam. Claro que a construção da felicidade real não depende do instinto sexual satisfeito. A permuta de células sexuais entre os seres encarnados, garantindo a continuidade das formas físicas em processo evolucionário, é apenas um aspecto das multiformes permutas de amor. Importa reconhecer que o intercâmbio de forças na constituição do lar não só permite a reencarnação dos Espíritos e, conseguintemente, resgate de faltas do passado, como representa a célula da família universal, unidade primeira da educação espiritual.Temos a convicção que os casamentos são sempre acertados, ou melhor, preparados na vida espiritual, em face dos desacertos, abusos, crimes ou incontinência moral praticados em encarnações anteriores. De modo que os Espíritos comprometidos com a lei divina, no passado, reencarnam com o fim de reparar esses males que envolveram, até mesmo, os que virão depois na condição de filhos.A Doutrina explica que há casamento de amor, de fraternidade, de provação, de dever, de missão e de interesse puramente sexual. Em verdade a experiência do casamento é muita sagrada, não só a experiência do casamento, mas toda a experiência do sexo, por afetar profundamente a vida mental. Portanto toda a experiência sexual da criatura que já recebeu alguma luz do Espírito é acontecimento de enorme importância para si mesma porque afeta profundamente a vida da alma.Engana-se quem supõe que a normalidade sexual, consoante as respeitáveis convenções humanas, possa servir de templo às manifestações afetivas. O campo do amor é infinito em sua essência e manifestação." Urge afastar às aberrações e aos excessos; contudo, é imperioso reconhecer que todos os seres nasceram no Universo para amar e serem amados". Contudo, muitos fogem do casamento e optam pelo celibato(7) voluntário o que não representa um estado de perfeição meritório aos olhos de Deus. E, os que assim optem, por egoísmo, desagradam a Deus e enganam o mundo, exceto quando feito para o bem. Quanto maior o sacrifício, tanto maior o mérito.(8) Portanto, o celibato em si mesmo, não é um estado meritório, exceto quando essa renúncia às alegrias da família é praticada em prol da humanidade. Uma vez que todo sacrifício pessoal, tendo em vista o bem e sem qualquer idéia egoísta, eleva o homem acima da sua condição material.Na manifestação do amor, certamente encontramos a sexualidade. No entanto não podemos dizer que na sexualidade está presente o amor. O mal não está em que nós a aceitemos; o mal consiste em quase todos abusarem dessa experiência. Lembrando que o sexo reside na mente, a expressar-se no corpo espiritual e conseqüentemente no corpo físico, por santuário criativo de nosso amor perante a vida, e, em razão disso, ninguém escarnecerá dele, desarmonizando-lhe a forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo.(9) Enorme porcentual de espíritos encarnados na Crosta da Terra, de mente fixa na região dos movimentos instintivos, concentram suas faculdades no sexo, do qual se derivam naturalmente os mais vastos e freqüentes distúrbios de ordem emocionais e psicológicos.No dias atuais a desagregação familiar é resultante de um fenômeno eminentemente materialista, veiculada, sobretudo, pelos vários segmentos da mídia. Quando à indução aos consumismos, desde os produtos mais básicos até aqueles que incentivam as fantasias sexuais, têm sido extremamente valorizados; a religiosidade, a fé, a esperança cedem terreno, diminuindo profunda e sensivelmente a nossa capacidade de suportar as aflições cotidianas. Destarte, urge higienizemos nosso reduto doméstico com o teor vibratório do nosso pensamento elevado, pois existem bacilos psíquicos que produzem tortura sexual, oriundos da insustentável sede febril de prazeres inferiores, e nesse ponto, o aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte [pensamento] e sustenta; mas, muitas vezes se mostra impotente diante dos sofismas da paixão.(10)O aguilhoamento às excitações mentais em torno das energias sexuais não é problema que possa ser equacionado por sociólogos, médicos psicólogos a agir no campo exterior: É problema da alma, que exige atitude individual de soerguimento e cura, e sobre esta situação só o espírito solucionará nos escrínios do tribunal da própria consciência. Até porque o sexo é tesouro excelso em que o lar é refúgio santificante, lembrando, porém, que o amor e o sexo plasmam responsabilidades naturais na consciência de cada um e que ninguém lesa alguém nos tesouros afetivos, sem dolorosas reparações. (11)


Jorge Hessen



FONTES:

1- Libido vem do latim e quer dizer "desejo violento ou luxúria" Mas no sentido psicanalítico - a psicanálise foi criada por Freud - temos a energia motriz dos instintos de vida, portanto da conduta ativa e criadora do homem. Assim nos explica de forma bem acessível o dicionário Aurélio.

2- Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB, 1999.

3- Op. Cit

4- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 2004, Pergs. 335 a 696

5- Op. Cit. Pergs 335 696

6- Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 1999, Cap.11 "Sexo".

7- Um professor jesuíta da Universidade de Harvard, o padre Fischler, descobriu que 92% do clero norte-americano sugeria que os sacerdotes pudessem escolher livremente se queriam ser casados ou solteiros. Outro sacerdote e psicoterapeuta, o padre Sipe, revelou que só 2% desse clero cumprem o celibato; 47% o fazem ''relativamente''; e 31,5% vivem uma relação sexual, das quais um terço homossexual. Diante disso, vários bispos têm solicitado que se elimine o celibato para o clero latino, já que o oriental - inclusive o ligado a Roma - não tem essa obrigação e é, normalmente, casado. Até mesmo o Concílio Vaticano II louvou o sentido espiritual do sacerdote casado do Oriente, in A obscura história do celibato clerical, Extraído - Correio Braziliense E. Miret Magdalena , teólogo disponível no site http://www.cacp.org.br/cat_celibato.htm , acesso em 19/06/2005

8- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 2004, Pergs. 335 a 696

9- Xavier, Francisco Cândido e Vieira Waldo. Evolução em Dois Mundos, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 2002, pág. 56, II

10- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, São Paulo: IDE, 1984, item 7, no Cap. XVII.

11- Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 6 ª edição 1999.